A gerente de uma funerária, Alane da Silva de Mesquita, de 31 anos, morreu com um tiro no ouvido, na madrugada de 15 de maio de 2023, no Município de Monsenhor Tabosa, no Interior do Ceará. Mais de 8 meses depois, o caso tido inicialmente como suicídio continua em investigação pela Polícia Civil do Ceará (PCCE). A família acredita que a mulher foi morta pelo companheiro, um guarda municipal; mas ele sustenta que a companheira tirou a própria vida.
Questionada sobre a conclusão do Inquérito Policial, a Polícia Civil informou, por nota, que "segue investigando as circunstâncias de uma morte ocorrida no dia 15 de maio de 2023, no município de Monsenhor Tabosa - Área Integrada de Segurança 16 (AIS 16) do Estado. Na ocasião, uma mulher, de 31 anos, morreu por disparo de arma de fogo no bairro Manoel Júpiter de Albuquerque. As investigações estão a cargo da Delegacia Municipal de Monsenhor Tabosa".
O Órgão destacou que "a população pode contribuir com as investigações repassando informações que auxiliem os trabalhos policiais. As informações podem ser direcionadas para o número 181, o Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ou para o (85)3101-0181, que é o número de WhatsApp, pelo qual podem ser feitas denúncias via mensagem, áudio, vídeo e fotografia. As denúncias podem ser encaminhadas ainda para os números (88) 3696-1603 da Delegacia Municipal de Monsenhor Tabosa. O sigilo e o anonimato são garantidos".
Durante esses 8 meses, a família de Alane aguarda uma conclusão da investigação. "A gente tem tido dias medonhos (que provocam medo). Porque a gente fica procurando uma resposta, para tentar entender. A gente espera que a Justiça dê um parecer, e até agora nada", reclama a mãe, a professora aposentada Joselina da Silva Mesquita.
Em uma das poucas respostas recebidas pela família, o Exame Residuográfico de Pesquisa de Resíduo de Disparo de Arma de Fogo, realizado pela Perícia Forense do Ceará (Pefoce) nas mãos de Alane Mesquita, apresentou um resultado negativo. "Não foram encontrados resíduos determinantes de disparo de arma de fogo em nenhuma das amostras recebidas", concluiu o perito criminal David Queiroz de Freitas.
Entretanto, o perito pondera que "isto não indica necessariamente que o indivíduo do qual foram coletadas as amostras não efetuou disparo de arma de fogo". E cita ainda situações em que as partículas de disparo de arma de fogo são liberadas do objeto: caso não permaneçam aderidas até o momento de coleta; ou as partículas não foram coletadas; ou a munição não produz partículas contendo chumbo, bário ou antimônio.
Versões opostas para a morte
A única testemunha da morte de Alane, o marido dela, o guarda municipal de Monsenhor Tabosa e locutor esportivo Etevaldo Oliveira, afirmou para a família que a companheira se matou com a arma dele com um tiro no ouvido. Mas a família da mulher não se convence. "Nunca acreditei. Nunca pensei que teria sido ela", frisa a mãe.
Joselina Mesquita recorda daquela madrugada fatídica, horas depois de celebrar o Dia das Mães daquele ano (14 de maio) com as filhas: "A minha filha morava do meu lado, separada apenas por um muro. Eu ouvi quando ela tava falando com o marido, na madrugada, por volta de 2 horas, e percebi que ela tava chorando. Ele tinha chegado de um jogo e tinha ingerido bebida alcoólica. Falei para o meu marido, que ligou pra ela. Mas ela não atendeu. Chamei ela três vezes pelo muro, e nada. Entrei na minha casa e fui para a minha cama. Mas senti algo ruim e voltei. Eu ouvi a voz dele (genro) gritando por ela e escutei um tiro".
Irmã de Alane, a empresária Alterlania da Silva Mesquita também aguarda uma resposta das autoridades e revela um comportamento agressivo do cunhado. "A gente fica com essa dúvida, mas acreditando que foi um homicídio. Porque a gente conhecia o relacionamento deles. Ele era muito agressivo e tinha ciúmes dela. Quando ele discordava dela, se levantava em público. Teve uma discussão na família que ele ameaçou de atirar nela e nos nossos pais".
Procurado pelo Diário do Nordeste, Etevaldo Oliveira recebeu a acusação da família de Alane "com surpresa". "É um inquérito, que ainda tá em andamento. Eu dei meu depoimento no dia. Eu jamais teria a capacidade de cometer esse crime e ficar tranquilo. A Justiça está apurando o caso", rebate.
Eu afirmo para você que jamais fiz isso com a minha esposa. Foi um momento de muita dor. Eu perdi minha esposa, com quem eu passei 16 anos. A gente tava muito bem, no casamento, na união. Eu não sou um assassino. Eu não tive coragem e jamais teria coragem de fazer isso."
Sobre a denúncia da família de Alane Mesquita de que tinha um comportamento agressivo com a esposa, Etevaldo responde que "isso é uma acusação séria". "Eles me conhecem, sabem que eu nunca trisquei minha mão na minha esposa. Discussões casais têm. Mas nós estávamos muito bem, nós tínhamos uma convivência muito boa", garante.
O guarda municipal conta ainda que tem posse e porte de arma de fogo, devido a sua profissão, e que a esposa sabia onde ele guardava a arma. A mulher ainda tinha conhecimentos de como atirar, pois ela praticava tiro esportivo junto dele, em um stand de tiros. "Mas, em momento algum, minha esposa mencionou ou fez algum gesto de fazer alguma coisa (relacionada a suicídio). Até hoje me pergunto: por que ela não me deu a chance (de evitar o suicídio), não conversou comigo? Porque eu não esperava ela fazer isso", lamenta.
"Eu fiquei à disposição da Justiça, eu quem fui chamar a Polícia Militar, liguei pra Polícia Civil. Em momento algum, eu me recusei a dar meu depoimento. Na hora de fazer o exame balístico, não me recusei. Para mostrar que não fui eu que fiz isso", conclui Etevaldo.