Um bilhete apreendido com Francisca Alves da Silva, a 'Pretinha', cunhada de Marcos Willians Herbas Camacho, o 'Marcola', durante a Operação Primma Migratio, deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará (Ficco), revelou ordens da cúpula da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) e o uso de apelidos de políticos para despistar a Polícia. Familiares de 'Marcola' e policiais militares do Ceará foram presos na Operação, por suspeita de integrar um esquema de lavagem de dinheiro da facção.
Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, o "salve" foi escrito pelo preso André Luiz de Souza, o 'Amin', "uma importante voz de colaboração na cadeia de comando do PCC", a mando de 'Cunha' e 'Maluf' (nomes de famosos políticos brasileiros), com o objetivo de prestar contas das atividades criminosas do PCC com os seus integrantes.
'Cunha' seria outro apelido de 'Marcola', o número 1 do PCC no Brasil; e 'Maluf' seria utilizado para identificar o seu irmão, Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, conhecido como 'Marcolinha' - esposo de 'Pretinha'. Os dois irmãos estão presos no Presídio Federal de Segurança Máxima de Brasília.
O bilhete também cita 'Collor' (nome de um ex-presidente do Brasil), que, dentro do PCC, seria a alcunha de Gilmar Pinheiro Feitoza, outra liderança da organização criminosa. O documento seria destinado principalmente a 'Alemão' e 'Príncipe', membros da facção que estariam em liberdade.
Problemas internos na facção paulista
A investigação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará aponta que 'Collor' e seus irmãos teriam trapaceado 'Maluf'. Gilmar Pinheiro é tio de Edijakson Fernandes de Araújo Júnior, que também foi preso na Operação Primma Migratio.
'Maluf' e 'Collor' teriam brigado dentro do Presídio Federal. O bilhete afirma que o primeiro homem teria ordenado que o segundo vendesse "umas casas, terrenos e academia" e devolvesse o dinheiro para a família daquele.
O "salve" descreve também que 'Maluf' pediu ao redator do texto ('Amin') para retirar os bens dele ('Marcolinha') do controle de um homem apelidado de 'Morto', fora do presídio. A Ficco acredita que essa é uma alcunha de Menesclau de Araújo Souza, também preso na 'Primma Migratio', que foi apontado em outras investigações como "responsável pela contabilidade do PCC no Ceará" e que "estaria com problemas financeiros junto ao comando do PCC".
O nome de outro ex-presidente do Brasil também aparece nas conversas, referindo-se a um membro da facção. "Passou uns dias ele veio falar pra mim que ia matar o Temer!", disse 'Amin' no bilhete, sobre a conversa que teve com 'Maluf', que também desconfiava de 'Temer', identificado pelos investigadores como Everton de Sousa.
As informações contidas no bilhete ajudaram a Ficco a entender a estrutura da organização criminosa que foi alvo da Operação Primma Migratio, no dia 24 de abril deste ano. O grupo realizaria a lavagem de dinheiro da facção, através do jogo do bicho e outras apostas, no Ceará. 22 investigados foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE).