Homem que matou ex-esposa dentro de curso de idiomas vai a julgamento

"Ele foi e acabou com a vida dela, mas acabou ainda mais com a dele. Hoje, ela está descansando e ele sofrendo", diz irmã da vítima morta

Mais um acusado por feminicídio vai a júri no Ceará. Três anos após a morte de Emanuelly Vasconcelos Sampaio, Isac Angelo dos Santos será ouvido em julgamento no Tribunal de Justiça Estadual. O júri acontece nesta quinta-feira (19), de forma on-line.

Emanuelly foi assassinada em março de 2019, enquanto trabalhava, no bairro Henrique Jorge, em Fortaleza. O acusado invadiu uma instituição de ensino e disparou cinco vezes contra ela. Conforme testemunhas, policiais militares que estavam próximo ao local do crime teriam sido avisados que o feminicídio estava prestes a acontecer. Uma colega da atendente morta chegou a ir à Polícia momentos antes do crime, mas os agentes não chegaram a tempo.

A família da vítima está na expectativa para condenação do réu. Ilana Vasconcelos, irmã de Emanuelly, conta que sabia da relação conflituosa do casal: "Ele enviava mensagem no Whatsapp ameaçando e quando ele lia, apagava. Encontrava ela de madrugada chorando e dizendo “tô com medo”. Eu tive uma conversa com ele. E aí sabe o que ele disse? “Lana, isso é cuidado, é proteção. Esses murros que eu dou nela é excesso de amor e carinho”. Eu dizia que ela não merecia passar por aquilo".

"Ela dizia que estava só preparando a gente para esse dia. Ela sabia que ia ser morta. Conversou muito com o filho. Ela ia para longe e ele ia atrás. Quando não ia atrás dela, vinha atrás da gente.  Na sexta-feira, um dia antes, todo mundo da família dele sabia que ele já andava armado e que tinha essa intenção. Ninguém segurou ele. Ninguém avisou minha irmã", recorda Ilana.

"Ele foi e acabou com a vida dela, mas acabou ainda mais com a dele. Hoje, ela está descansando e ele sofrendo. Tem tantos meios de chegar e resolver. Mas ele quis resolver da pior forma"
Ilana Vasconcelos
Irmã da vítima

ANDAMENTO DO PROCESSO


Em abril de 2019 o Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou Isac Angelo e incorporou o caso ao Programa Tempo de Justiça. Conforme o inquérito, Isac e a vítima conviveram maritalmente durante 15 anos e tiveram um filho.

O casal tinha rompido o relacionamento amoroso depois que o homem agrediu fisicamente a companheira, dois meses antes do crime. Ela não queria mais se relacionar com ele e assim ele começou a ameaçar.

Crises de ciúmes e agressões marcaram o relacionamento. Em uma das ocasiões, a vítima prestou Boletim de Ocorrência junto à Polícia Civil. No dia do crime ela estava trabalhando e recebeu a ligação de um familiar do acusado afirmando que ele tinha saído de casa com a intenção de a matar.

Ela contou aos colegas de trabalho e foi até a cabine da Polícia Militar que estava do outro lado da rua. Enquanto os policiais pediam reforço, Isac invadiu o local, fechou as portas e disse que se alguém avisasse Emanuelly ele mataria todos.

As pessoas correram para se abrigar nas salas de aula, banheiros. Foram ouvidos os gritos e disparos. Para a Polícia, a irmã da vítima disse que conhecia o acusado desde criança e ele também maltratava os pais. Ela disse ter sabido que Isac conseguiu a arma com um amigo policial dele.  

No momento do depoimento, Isac optou pelo direito de permanecer em silêncio. Conteúdo das mídias audiovisuais foram anexados ao processo. A reportagem não localizou a defesa do acusado.