Um grupo acusado de dois sequestros foi absolvido de uma das ações criminais, contra um empresário do ramo de reciclagem em Limoeiro do Norte, no interior do Ceará, em 2017. A decisão da Justiça estadual considerou que as provas contra os réus eram "frágeis" e insuficientes para uma condenação, mas eles ainda serão julgados por outro crime com as mesmas características.
Para o juiz da Vara de Delitos de Organizações Criminosas, não foi possível condenar os sete réus, pois há "resquícios de dúvidas" sobre a autoria deles no sequestro. A decisão é contrária à denúncia do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), ofertada em 2019.
Eles respondiam por extorsão mediante sequestro, roubo e organização criminosa. A vítima foi o comerciante Iderlânio Cláudio, que foi surpreendido no dia 15 de agosto de 2017 no estabelecimento comercial dele, um depósito de reciclagem e levado a um cativeiro em um matagal. Parte dos homens voltou para a cidade e acompanhou a movimentação dos familiares e dos policiais sobre caso.
O homem foi vendado, ameaçado e agredido repetidas vezes. Segundo documentos aos quais a reportagem teve acesso, apesar do emprego da violência, o grupo "não teve mais o que fazer", pois não tinha celular para realizar ligações visando extorquir a família do empresário.
Eles deixaram a vítima sozinha e saíram para supostamente assaltar uma mulher e trazê-la também ao cativeiro. O comerciante conseguiu se soltar, pediu ajuda a um motociclista e arranjou outra carona até a delegacia, ainda com as mãos algemadas deixadas pelos sequestradores.
Conforme trecho do inquérito policial, dois dos acusados, praticaram assalto contra uma mulher nas proximidades do acampamento Zé Maria do Tomé, no mesmo município. Após os crimes, o caso passou a ser investigado pela Divisão Antissequestro (DAS), em parceria com a Delegacia Municipal de Limoeiro do Norte.
Em novembro de 2017, cinco homens chegaram a ser presos por envolvimento nos dois casos de extorsão e sequestro.
"A ação dos criminosos tinha natureza de arrebatamento de pessoas, geralmente de empresários com alguma capacidade financeira e o posterior pedido de resgate”, definiu o então delegado-geral da Polícia Civil do Estado do Ceará, Everardo Lima, durante coletiva para anunciar as capturas.
Pedido de resgate foi de R$ 500 mil
Durante um dos sequestros, um dos acusados conseguiu o número de familiares do empresário, e em uma das ligações um deles afirmou ser de uma facção criminosa de origem paulista e pediu R$ 500 mil em troca de liberdade do sequestrado. Segundo depoimento da vítima, um dos investigados, que teria atuado na articulação do crime, morava na frente de seu comércio e o conhecia há 15 anos.
Os homens tentaram contato com outros números, mas não foram atendidos. Por isso, enviaram mensagens de ameaça à esposa do homem. "[sic] Olhe nois tamos com o seu marido sequestrado, atenda o celular que é melhor pra você", diz.
O curso da investigação ainda apontou para a casa dos acusados, onde foram encontradas armas de fogo e jaquetas utilizadas nos crimes.
Durante a fase do inquérito, um dos réus afirmou a policiais que participou do sequestro. No entanto, em Juízo, durante a audiência de instrução, negou e disse que foi torturado e obrigado a confessar algo que não fez.
Sequestros em Limoeiro do Norte
Segundo a denúncia do MPCE, os acusados se associaram desde janeiro de 2017 para cometer crimes contra o patrimônio. O nome da primeira vítima foi escolhido por uma pessoa do grupo que trabalhava com ela e sabia da rotina e das condições financeiras.
Pouco mais de dois meses antes da trama contra o dono da sucata, integrantes do mesmo grupo que foram absolvidos teriam sequestrado um proprietário de uma loja de cerâmica em Limoeiro do Norte. No dia 5 de junho de 2017, por volta de 7h30, Raimundo Wilson de Oliveira, 60 anos, foi capturado.
O empreendedor saiu de sua residência com destino à cerâmica, em Sítio Marquinhos, zona rural do município. Ele foi seguido por suspeitos, interceptado e levado a um matagal, em um modus operandi que seria repetido com a segunda vítima.
Vendado e amarrado, Raimundo ainda foi vítima de um disparo de arma de fogo feito próximo ao seu ouvido, para assustá-lo. Ele foi obrigado a dar um número de telefone de um familiar, enquanto parte dos seus algozes retornava à cidade para vigiar os parentes e garantir que eles não acionassem as autoridades.
Eles chegaram a negociar valores de "resgate" com o genro de Raimundo e exigiram inicialmente R$ 120 mil, mandando eles não chamarem a polícia, sob "pena" da morte da vítima. Chegou-se a uma quantia inicial de R$ 60 mil, entregue pelo genro da vítima. O empresário foi libertado por volta de 21h
Com esse dinheiro, conforme o MPCE, os acusados compraram motocicletas e outros itens, e ocultaram a origem do dinheiro. Por isso, também respondem por lavagem de dinheiro.
O processo sobre esse crime ainda não foi julgado, mas já passou da fase de instrução criminal, com oitiva de testemunhas e dos acusados, e atualmente se encontra nos memoriais finais, que são as últimas manifestações antes da sentença.