Familiares do número 1 da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willians Herbas Camacho, o 'Marcola', de 56 anos, e policiais militares do Ceará viraram réus na Justiça Estadual por integrarem uma organização criminosa ligada ao jogo do bicho e à lavagem de dinheiro da facção, no Ceará. O grupo foi alvo da Operação Primma Migratio, da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco), em abril deste ano.
Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, a Vara de Delitos de Organizações Criminosas recebeu a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE) na íntegra contra 22 investigados, pelo crime de organização criminosa, no último dia 4 de julho. Os acusados seguem presos, há mais de dois meses.
Entre os réus na ação penal, estão Francisca Alves da Silva, conhecida como 'Pretinha', esposa de Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, o 'Marcolinha', e cunhada de 'Marcola'; e Leonardo Alexander Ribeiro Herbas Camacho, filho de 'Marcolinha' e sobrinho de 'Marcola'. Os irmãos 'Marcola' e 'Marcolinha' estão presos no Presídio Federal de Segurança Máxima de Brasília.
Também viraram réus dois integrantes da Polícia Militar do Ceará (PMCE): um tenente da Reserva Remunerada, Robério Nunes de Sousa; e um subtenente da Ativa, Francisco Julienio Lima Vasconcelos.
Os outros 18 réus são: Geomá Pereira de Almeida, Maria Aldenia de Lima, Menesclau de Araújo Souza Júnior, Dayanne Vitória de Freitas Silva, Marcelo Anderson Alves da Silva, Edijakson Fernandes de Araujo Junior, Ricardo Andrade Ferreira, Cintia Chaves Gonçalves, Renato Ramos, Levy Sousa Paixão, Matheus Victor Saboia Moreira, Edglei da Silva Lima, Francisco Erivaldo Carvalho Moreira, Paulo Monteiro da Silva, Henrique Abraao Goncalves da Silva, Pedro Coelho da Silva Júnior, José Cléber Almeida Sampaio e Cristian Souza Sampaio.
Na decisão, o colegiado de juízes que atua na Vara também negou um pedido da defesa de Francisca Alves para ela ser interrogada pela segunda vez; e um pedido da defesa do casal Geomá Pereira e Maria Aldênia de trancamento do inquérito policial.
Como funcionava o esquema criminoso
Segundo as investigações da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado, a organização criminosa voltada para realizar lavagem de dinheiro do PCC no Ceará era liderada por Francisca Alves da Silva, que é cearense. Ela foi presa com a deflagração da Operação Primma Migratio, no último dia 24 de abril, em um condomínio de luxo no Arujá, em São Paulo.
Para comandar o jogo do bicho e a lavagem de dinheiro da facção no Ceará, 'Pretinha' dividia as decisões do esquema criminoso com dois homens, que também viraram réus na Justiça: o cearense Geomá Pereira de Almeida ficou conhecido dentro do PCC como um especialista na estrutura dos jogos de azar, que voltou de São Paulo para o Ceará para liderar o jogo do bicho da facção; enquanto Menesclau de Araújo Souza Júnior era responsável por coordenar a estrutura de lavagem de dinheiro da quadrilha, com a compra de bens luxuosos e com o uso de uma loteria em Fortaleza, segundo as investigações.
Geomá foi preso no bairro da Mooca, em São Paulo, na posse de cinco veículos de luxo: um Porsche Cayenne, um Toyota Rav4, dois Toyota Corolla e um Volkswagen Jetta. Quatro automóveis foram liberados pela Justiça para incorporar a frota da Ficco, até o julgamento do processo. Ao ser interrogado, o acusado admitiu que administra a loteria em Fortaleza, mas negou que a empresa é envolvida com jogo do bicho, como também negou pertencer à facção paulista.
Já Menesclau foi detido no bairro Joaquim Távora, em Fortaleza, na posse de três aparelhos celulares e um caderno com anotações. A esposa de Menesclau, Dayanne Vitória de Freitas Silva, que também foi presa, negou que o casal tenha envolvimento com facção criminosa e com o jogo do bicho.
Leonardo Alexander Ribeiro Herbas Camacho, o filho de 'Marcolinha', foi capturado em Itajaí, Santa Catarina. Ele seria o responsável por uma casa de apostas esportivas na internet, utilizada para a lavagem de dinheiro da facção. Leonardo foi transferido para o Presídio de Segurança Máxima do Ceará, no último dia 18 de junho.
As investigações da Ficco apontaram ainda que quatro homens, que viraram réus no processo, integravam um "núcleo de segurança e transporte" da organização criminosa: os policiais militares Robério Nunes de Sousa e Francisco Julienio Lima Vasconcelos, além de Marcelo Anderson Alves da Silva e Edijakson Fernandes de Araujo Junior. Os PMs organizavam a logística e a segurança da loteria que promovia o jogo do bicho e lavava o dinheiro da facção no Ceará.
Na residência do subtenente Julienio, no bairro Bom Jardim, em Fortaleza, foram apreendidas cinco armas de fogo, sendo um fuzil calibre 5.56, uma carabina Ponto 40 e três pistolas (duas calibre 9mm e uma, Ponto 380). As armas estavam devidamente registradas, mas os investigadores alertaram à Justiça Estadual que as armas estavam em um imóvel localizado em "área dominada por facções e não tinha em sua residência qualquer sistema de segurança, tal como cofres, para guarda segura destas armas".