Empresário e ex-PMs são denunciados por matar advogado a tiros em Fortaleza

Segundo a denúncia do Ministério Público do Ceará, empresário teria pago R$ 800 mil para advogado tirar reportagens de um portal e depois encomendado morte da vítima para se vingar da extorsão

Dois ex-policiais militares e um empresário do ramo de combustíveis foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE). O trio é acusado pelo assassinato do advogado Francisco Di Angellis Duarte de Morais, morto na Parquelândia, em Fortaleza, quando estava prestes a chegar em casa.

Conforme a denúncia, o empresário Ernesto Wladimir de Oliveira Barroso teria encomendado a morte do advogado para se vingar de uma extorsão. Na versão do empresário, dias antes ele pagou R$ 800 mil para a vítima em troca que ela tirasse do ar reportagens de um portal que colocavam em questão a 'ascensão financeira' de Ernesto: "de acordo com o acusado, as publicações eram um ataque à sua pessoa e levantavam dúvidas quanto a honestidade de seu patrimônio".

Também são denunciados os ex-PMs José Luciano Souza de Queiroz e Glauco Sérgio Soares Bonfim. O MP pede que, em caso de condenação, seja fixado valor de R$ 1 milhão para reparação dos danos à família da vítima, "que se sentiu violentamente privada do convívio em razão da conduta criminosa".

"O crime tem como mandante o acusado Ernesto. Por sua vez, os réus José Luciano e Glauco agiram como executores materiais do delito", diz trecho da denúncia do MP.

"O motivo do delito é de natureza torpe, eis que consistente em vingança devido à extorsão praticada pela vítima. A vítima teria exigido a quantia de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais), efetivamente pago pelo réu Ernesto, constituindo o homicídio o justiçamento pela extorsão e um recado de que jamais poderia ser incomodado, dessa forma, outra vez", afirma o órgão ministerial.

O trio também é acusado por associação criminosa.

A defesa do empresário disse que ainda não tomou conhecimento da denúncia. "Quando tomar ciência se manifestará nos autos do processo". 

Já Alexandrina França, advogada dos ex-PMs disse que "a denúncia foi ofertada hoje, o escritório está fazendo as análises iniciais, ainda sendo prematuro algum pronunciamento em razão da ação penal acabei de ser instaurada e tratar-se de um processo que conta com uma investigação policial extremamente extensa e complexo".

DETALHES DO CRIME

O advogado Francisco Di Angelis Duarte de Morais, de 41 anos estaria sendo monitorado pelos criminosos - inclusive com uso de um rastreador - dias antes do crime.

A reportagem do Diário do Nordeste apurou que policiais civis da 6ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) descobriram que dois homens estiveram, em um carro, no local de trabalho de Francisco Di Angelis, uma torre empresarial no bairro Edson Queiroz, em busca de saber qual era o veículo do advogado, na manhã de 24 de abril deste ano.

Os dois homens informaram a funcionários do empreendimento que tinham interesse em comprar o carro. Um deles foi reconhecido por testemunhas como o ex-policial militar José Luciano Souza de Queiroz - que está preso preventivamente e foi indiciado pelo homicídio ocorrido no dia 6 de maio último.

Ao descobrir que dois homens procuraram pelo seu veículo, Di Angelis conversou com funcionários da torre empresarial e negou que estivesse vendendo o seu automóvel. O advogado ficou preocupado e perguntou sobre as imagens das câmeras de monitoramento do empreendimento.

O advogado foi assassinado em maio deste ano. Ele foi surpreendido pela aproximação de uma motocicleta com dois homens, posteriormente identificados como os ex-PMs. 

Para o MPCE, "a dinâmica do crime demonstra um meticuloso estudo da vítima, eis que o atirador se deu ao trabalho de efetuar os disparos somente após a vítima desembarcar do veículo, não efetuando disparos diretamente na lataria do carro, assim, evitando que a ação homicida fosse frustrada, caso o veículo fosse blindado".

O Ministério Público ainda requereu a citação dos denunciados pelos crimes de homicídio, com qualificadoras de torpeza e uso recurso que dificultou a defesa da vítima.

CUMPRIMENTO DE MANDADOS JUDICIAIS

A Polícia Civil cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão, contra os três suspeitos. "No dia 15 de junho, além do cumprimento dos mandados de prisão, foram cumpridos mandados de busca e apreensão nos endereços dos suspeitos em Fortaleza, Caucaia, Eusébio e Aquiraz", lembrou a Instituição.

"Durante as buscas, foi apreendida uma arma de fogo, além de munições, drogas, aparelhos celulares e dois veículos. À época, as prisões foram realizadas pela 6ª Delegacia do DHPP e tiveram o apoio do Departamento de Inteligência Policial (DIP) e da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (CORE), da PC-CE; além da Coordenadoria de Inteligência (Coin), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS)", acrescentou.

Outro mandado de busca e apreensão foi cumprido pela Polícia Civil contra um PM da ativa (que não teve a identidade revelada), em julho deste ano. Entretanto, o agente de segurança não foi indiciado, com a conclusão do Inquérito Policial.