A empresa Fiotex, proprietária do terreno no Carlito Pamplona desocupado na madrugada desta terça-feira (10), afirma que adotou medidas "para cessar a demarcação ilegal" do terreno e que quando agiu não havia moradores no espaço.
Por nota, a Fiotex diz que a ação foi testemunhada por policiais militares e que ocorreu "de forma pacífica por quase duas horas". Disse ainda que "a equipe foi surpreendida por agressores vindos de fora do terreno, arremessando pedras, ateando fogo e realizando disparos contra todos que se encontravam no local e seus arredores".
A reportagem questionou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e Polícia Militar do Ceará (PMCE) se os agentes teriam acompanhado a desocupação e presenciado os disparos que atingiram uma mulher morta na ação.
[ATUALIZAÇÃO às 19h19]
Segundo a PM, "quanto à possibilidade da presença de viaturas e/ou policiais militares no local, anteriormente ao acionamento da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), na manhã desta terça-feira (10), os fatos serão averiguados por meio do procedimento pertinente"
O Diário do Nordeste teve acesso a uma Boletim de Ocorrência registrado pela Fiotex na última sexta-feira (6) noticiando que no dia 4 de setembro de 2024 a propriedade "foi invadida por pessoas da comunidade local".
A Polícia disse que "por meio do comando do policiamento local responsável pela área da ocorrência, o bairro Carlito Pamplona - Área Integrada de Segurança 8 (AIS 8) de Fortaleza, e sob a perspectiva das ações preventivas de segurança pública, oficiou a empresa proprietária do terreno que o mesmo estaria sendo alvo de demarcações irregulares, bem como orientou como a empresa proceder em caso de solicitação de medidas judiciais, portanto, legais".
"Em torno de cem pessoas quebraram o muro e invadiram... Até a presente data, os invasores continuam dentro da propriedade"
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSPDS), a desocupação teria sido iniciada por seguranças contratados pela empresa privada dona do terreno. Em nota, a Fiotex afirma que é proprietária do terreno e "adotou as medidas para cessar a demarcação ilegal".
MULHER MORREU NA AÇÃO
A vítima morta durante a desocupação foi identificada como Mayane Lima, de 28 anos. Conforme moradores da região, ela trabalhava como vendedora. "Mayane era uma mãe guerreira, era uma boa filha, a coluna da casa dela. A Mayane morreu com um tiro no peito", confirmou o líder comunitário Rafael Pequiá, ouvido pela reportagem da Verdinha FM nesta manhã.
O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), informou por meio das redes sociais que três suspeitos de envolvimento na desocupação que resultou na morte de uma mulher, no bairro Carlito Pamplona, foram identificados nesta terça-feira (10). Destes, dois foram conduzidos à delegacia para prestar depoimento. Não foi informado se eles foram presos ou não.
Elmano disse ter determinado ao secretário da Segurança Pública "rigorosa apuração deste lamentável episódio" e que a "Polícia Militar foi acionada e imediatamente e controlou a situação no local".
A morte de Mayane desencadeou uma série de ataques nos arredores da Avenida Presidente Castelo Branco (Leste-Oeste) logo nas primeiras horas desta terça. Diversos estabelecimentos comerciais da região foram fechados por conta de manifestações da população.
Sobre o homicídio, a Pasta afirma que "as circunstâncias da morte estão sendo investigadas pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP)". A vítima, de acordo com a Secretaria, "deu entrada em uma unidade de saúde do bairro Pirambu (AIS 8) lesionada com disparos de arma de fogo. A vítima não resistiu aos ferimentos e foi a óbito".
VEJA NOTA NA ÍNTEGRA DA FIOTEX:
"A Fiotex informa que, no final da tarde da última sexta-feira (6), foi oficiada pela Polícia Militar que seu terreno no bairro Carlito Pamplona estava sendo alvo de demarcação irregular. De imediato, ainda no mesmo dia, registrou um boletim de ocorrência no 34º Distrito Policial.
Na madrugada desta terça-feira (10), a empresa adotou as medidas para cessar a demarcação ilegal. Não havia moradores no terreno. A ação foi testemunhada por policiais militares e ocorreu de forma pacífica por quase duas horas.
A equipe foi surpreendida por agressores vindos de fora do terreno, arremessando pedras, ateando fogo e realizando disparos contra todos que se encontravam no local e seus arredores.
O trator utilizado na ação foi destruído e incendiado, e dois colaboradores ficaram feridos e levados para um hospital particular.
A Fiotex não compactua com atos de violência. A empresa está à disposição dos órgãos de segurança para colaborar com as investigações e se solidariza com a família da vendedora Mayane Lima e com todas as outras vítimas.
A empresa é proprietária do terreno há mais de 20 anos. O imóvel está registrado na matrícula 3507 do Cartório da terceira zona"
VEJA NOTA NA ÍNTEGRA DA SSPDS:
"A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que equipes da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE) foram acionadas, nesta terça-feira (10), para atenderem a uma ocorrência no bairro Carlito Pamplona - Área Integrada de Segurança 8 (AIS 8) de Fortaleza. Conforme as primeiras informações, pessoas invadiram um terreno privado na região. Durante a desocupação que teria sido iniciada por seguranças contratados pela empresa privada, outros indivíduos colocaram fogo em entulhos e vegetação em vias do bairro. Os focos de incêndio foram controlados pelos Bombeiros. Dois ônibus também foram danificados.
Ainda conforme os levantamentos policiais, uma mulher, de 28 anos, deu entrada em uma unidade de saúde do bairro Pirambu (AIS 8) lesionada com disparos de arma de fogo. A vítima não resistiu aos ferimentos e foi a óbito. As circunstâncias da morte estão sendo investigadas pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), que também esteve no local.
Durante as diligências, três pessoas foram identificadas por equipes da PMCE e foram ouvidas no 34º DP. As investigações serão transferidas para o 1º DP, unidade que dará prosseguimento às investigações para identificar o envolvimento dessas pessoas nos crimes, bem como elucidar os fatos. Diligências seguem em andamento.
Denúncias
A população pode contribuir com as investigações repassando informações que auxiliem os trabalhos policiais. As informações podem ser direcionadas para o número 181, o Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ou para o (85) 3101-0181, que é o número de WhatsApp, pelo qual podem ser feitas denúncias via mensagem, áudio, vídeo e fotografia ou ainda via "e-denúncia", o site do serviço 181, por meio do endereço eletrônico: https://disquedenuncia181.sspds.ce.gov.br/. As informações também podem ser encaminhadas para o telefone (85) 3257-4807, do DHPP, que também é o WhatsApp do Departamento ou para o (85) 3101-2233, do 1º DP. O sigilo e o anonimato são garantidos".