O assassinato do motorista de aplicativo Samir Lima da Silva, morto a tiros na última quinta-feira (9), em Fortaleza, não foi um caso isolado de violência contra a categoria. De acordo com Rafael Keylon, diretor da Associação dos Motoristas de Aplicativos do Estado do Ceará (Amap-CE), já são 35 homicídios registrados nos últimos cinco anos.
Na opinião de Keylon, "a própria categoria pode se precaver" de modo a diminuir os casos. "Nós entendemos que para a redução desses casos, além da atuação da Segurança Pública, os próprios motoristas têm importante parcela de contribuição, seguindo protocolos de segurança, como não entrar em ruas sem saídas ou pouco iluminadas e cancelar corridas quando se sentir acuado", avalia.
O diretor da Associação relata ainda que, desde 2017, quando aconteceram os primeiros assassinatos, a "categoria decidiu se organizar em grupos de monitoramento" e isso "teve reflexo imediato, com queda no número de mortes nos anos seguintes".
Para além dessas medidas, o representante da Amap-CE adverte que a rápida resposta da Polícia, tão logo aconteçam os crimes, sejam assaltos ou assassinatos, é "importante para mostrar aos bandidos que a categoria está protegida". No caso da última quinta-feira, os suspeitos já foram capturados.
"Não pode haver impunidade. Se os crimes forem rapidamente solucionados, os bandidos ficarão mais receosos. Quando forem assaltar, vão pensar duas vezes antes de tirarem a vida de um pai de família trabalhador, pois saberão que a Polícia vai cair em cima e os prenderão rapidamente", acrescenta Rafael.
Portanto, sem impunidade, acreditamos que os assassinatos possam diminuir
Categoria trabalha "apavorada"
Diante dos sucessivos casos de violência contra a categoria, motoristas de aplicativo relatam trabalhar apavorados. Giovani Alves é um deles. O motorista conta já ter sido assaltado durante uma corrida.
"Eu vivi na pele essa insegurança. O medo é total. Fui amarrado e jogado em um matagal. Colocaram um facão na minha costela e um dos bandidos estava armado com uma pistola", descreve.
Giovani diz ter sido salvo devido ao sistema de localização do próprio aplicativo. "Ele [o sistema] ajudou os policiais a me encontrarem. Caso contrário, não sei se estaria vivo", rememora. Além do medo e da sensação de impotência diante dos assaltantes, Alves destaca o lado psicológico dos motoristas "que é bastante afetado".
"As pessoas se perguntam: 'se é perigoso, por quais motivos eles ainda rodam?'. Por necessidade. Alguns têm a atividade como renda extra, mas muitos só tem essa opção para sobreviver, por isso não podem parar", lamenta Giovani.
Avanços na segurança
Para garantir maior segurança aos motoristas, as plataformas de aplicativos desenvolveram sistemas que, segundo Rafael Keylon, têm surtido "algum efeito".
"Já tivemos avanços. Hoje os aplicativos são mais rígidos no cadastro dos usuários" e, além disso, dispõem de ferramentas como gravação da corrida, monitoramento do percurso em tempo real e botão do pânico que aciona a polícia de forma imediata.
Outro ponto destacado por Rafael foi o diálogo mantido com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará. "A partir de 2020, quando tivemos um número assustador de assassinatos, a Secretaria passou a dialogar conosco e isso surtiu efeito. Hoje existem abordagens específicas que já salvaram vidas", considera.
Assassinato da última quinta-feira
O corpo de Samir Lima da Silva, de 31 anos, foi encontrado pela Polícia Civil nesta sexta-feira (10), na Rua Tâmaras, no bairro Dunas, em Fortaleza.
Três suspeitos — dois homens e uma mulher — de envolvimento na ação foram capturados na sexta-feira (10). Em depoimento, dois deles confessaram a participação no ato. Um adolescente de 15 anos afirmou ter sido o autor dos disparos, de acordo com a Polícia Militar.
A Polícia informou que a solicitação da corrida em um aplicativo de transporte foi feita no bairro Cocó, com destino à comunidade do Titanzinho, na Praia do Futuro, onde Samir buscou um jovem de 18 anos. Da Praia do Futuro, os dois seguiram viagem para a Cidade Fortal. No caminho, na Sabiaguaba, a dupla pediu que o motorista encerrasse a corrida que havia sido solicitada.
Ainda conforme os policiais, na ocasião, o jovem, que estava sentado no banco traseiro, aplicou um golpe conhecido como "gravata" e tirou a vítima do carro. Depois, o colocou na parte de trás do veículo, com o adolescente, e assumiu o controle da direção.
Durante o trajeto, Samir Lima teria dito que a dupla poderia levar os pertences dele, mas pediu que não o matassem. Na sequência, eles desceram do veículo com o profissional, o mandaram deitar de costas no chão e atiraram duas vezes na nuca dele. A arma de fogo utilizada no crime não foi localizada.