Chacina do Curió: primeiro PM ouvido em terceiro júri nega ter torturado vítima sobrevivente

A versão do sobrevivente abordado pela composição onde estava Antônio Carlos diverge. A vítima, de identidade preservada, disse que foi retirada pelos policiais à força da própria casa e torturada.

A terceira sessão do júri da Chacina do Curió chega ao segundo dia. Na tarde desta quarta-feira (13), o primeiro policial acusado sentou no banco dos réus para interrogatório. O subtenente da reserva Antônio Carlos Marçal nega ter torturado uma das vítimas sobreviventes do massacre ocorrido na Grande Messejana.

Por volta das 13h40, Marçal passou a responder às perguntas do colegiado de juízes. Na versão do denunciado, ele não se omitiu de prestar socorro às demais vítimas assassinadas no episódio em 2015.

A versão do sobrevivente abordado pela composição onde estava Antônio Carlos diverge. A vítima, de identidade preservada, foi ouvida em juízo nessa terça-feira (12) e disse que foi retirada pelos policiais à força da própria casa. 

“Até pra trabalhar eu fico nervoso. Se tiver em um lugar que tem muita gente eu não consigo me manter. Fico nervoso e acho que a Polícia vai chegar e mandar todo mundo pra casa . Eu tenho medo [da Polícia], muito”
Vítima sobrevivente
que afirma ter ficado mais de três horas, mantido sob sequestro

Antônio Carlos Marçal foi questionado pelos próprios advogados de defesa sobre a atuação dele dentro da Corporação.

"AÇÃO DENTRO DA LEGALIDADE"

O subtenente conta que dirigia a viatura na data do crime e que recebeu ligação de superiores anunciando a morte do soldado Valtermberg Chaves Serpa e ordenando que a composição fosse ao Curió para procurar os responsáveis pelo homicídio.

Ele nega ter usado balaclava, "pois estavam legalizados porque passaram a ocorrência para o Ciops". Também nega a adulteração da placa e diz que não tratou vítima sobrevivente "com falta de educação em nenhum momento".

DEMAIS PMS RÉUS QUE DEVEM SER OUVIDOS NAS PRÓXIMAS HORAS:

  • José Wagner Silva de Souza
  • José Oliveira do Nascimento
  • Antônio Flauber de Melo Brazil
  • Clênio Silva da Costa
  • Francisco Helder de Souza Filho
  • Maria Barbara Moreira
  • Igor Bethoven Sousa de Oliveira

FAMILIARES DE VÍTIMAS AGUARDAM JUSTIÇA

As mães e outros familiares das vítimas da Chacina do Curió acompanham o terceiro julgamento do caso no Fórum Clóvis Beviláqua. A expectativa delas, que dizem não ter se abalado pela absolvição do júri anterior, é que seja feita justiça pelos 11 homicídios, três tentativas de assassinato e quatro crimes de tortura, ocorridos entre os dias 11 e 12 de novembro de 2015, na Grande Messejana.

"Esperamos justiça. Não podemos esperar outra coisa. Mesmo com esse resultado [anterior] frustrante, a gente não se abalou, porque o nosso abalo já vem desde aquela madrugada. Então, não tem como se abalar mais. A gente não coloca esse resultado passado como uma derrota. Buscamos justiça, o que é muito diferente", destaca Sílvia, mãe de dois sobreviventes.

PRIMEIRO E SEGUNDO JULGAMENTO

No primeiro julgamento, quatro policiais militares foram condenados a mais de mil anos de prisão, se somadas as penas, por participação na chacina. A sessão ocorreu em junho deste ano, após mais de 60 horas de julgamento. O Colegiado de Juízes decretou a perda do cargo público dos réus, que já recorreram da sentença.

Ideraldo Amâncio, Wellington Veras Chaves e Marcus Vinícius Sousa da Costa saíram do 1º Salão do Júri do Fórum Clóvis Beviláqua presos e foram levados ao Presídio Militar. Já Antônio José de Abreu Vidal Filho foi detido nos Estados Unidos, em agosto último.

No segundo momento, após quase 100 horas de julgamento, oito PMs foram absolvidos da acusação de omissão de socorro no massacre: Gerson Vitoriano Carvalho , Thiago Veríssimo Andrade Batista de Carvalho, Josiel Silveira Gomes, Thiago Aurélio de Souza Augusto, Ronaldo da Silva Lima, José Haroldo Uchoa Gomes, Gaudioso Menezes de Mattos Brito Goes e Francinildo José da Silva Nascimento.

À época, o Colegiado de Juízes revogou as medidas cautelares e de restrições de direito dos militares, o que significa que eles voltarão a estar aptos a atuar no policiamento ostensivo e que terão direito a obter promoção retroativa na Corporação. O Ministério Público do Ceará (MPCE) irá recorrer da absolvição ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).