Dos oito policiais militares sentados no banco dos réus na segunda etapa do julgamento da Chacina do Curió, no Fórum Clóvis Beviláqua, quatro já foram interrogados. Os restantes são ouvidos nesta segunda (4), quando o júri completa uma semana.
O primeiro réu chamado a depor na volta dos trabalhos foi o cabo Ronaldo da Silva Lima. Ele estava na viatura RD1072 na madrugada da matança que vitimou 11 pessoas na Grande Messejana.
Assim como Thiago Veríssimo Andrade Batista e Josiel Silveira Gomes, os policiais ouvidos ontem, ele se emocionou, negou participação no crime e também alegou que, naquela madrugada, embora tenha passado pela Rua Elza Leite Albuquerque, uma das vias onde foram registrados os crimes, não viu corpos a serem socorridos e nem ouviu disparos de arma de fogo.
Questionado pela acusação sobre a viatura não ter respondido às ocorrências de lesão a bala na região, o PM alegou que foi mal direcionado e não encontrou o local.
"Sempre procurei fazer meu serviço o mais perfeito possível. Meu objetivo sempre foi atender bem à população. Jamais participaria de homicídios absurdos como esses. É um absurdo eu estar respondendo a um homicídio por estar na esquina. É muito difícil estar aqui nessa cadeira. Sou um trabalhador honesto. Não respondo a nada, sou ficha limpa. Não estou escondendo nada. A minha família sofre há oito anos. Eu não vi minha filha nascer porque estava preso", respondeu Ronaldo.
Intermitente da viatura
Como Thiago e Josiel, Ronaldo também foi questionado pela acusação sobre por que o sinal intermitente da viatura na qual estava, a RD1072, estava desligado na madrugada da chacina, quando o veículo foi visto na região onde foram registradas as mortes. O réu alegou que o recurso, assim como o computador de bordo da viatura, não estava funcionando.
No domingo (3), provocado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) pelo mesmo motivo, Thiago Veríssimo argumentou que os intermitentes de sua viatura, a RD1307, estavam desligados porque a patrulha da qual fazia parte estava em busca de um suspeito de homicídio. Ele também é acusado de omissão por ter sido flagrado trafegando por uma rua com vítimas feridas estendidas no chão e não ter prestado socorro.
Para a defensora pública Lia Felismino, que compõe a assistência de acusação, a expectativa é de que os interrogatórios dos réus sejam concluídos nesta segunda para que, nesta terça-feira (5), "a gente possa, acusação e defesa, apresentar teses e provas" e se encaminhar para o fim do julgamento. "É um júri muito cansativo, muito complexo", resumiu a defensora, que é assessora de Relações Institucionais da Defensoria Pública do Estado (DPCE).
Tese da defesa
Em entrevista ao Diário do Nordeste após o primeiro depoimento desta segunda, o coordenador jurídico da Associação dos Profissionais de Segurança (APS) e advogado de defesa dos policiais que estavam nas viaturas RD1072 e RD1307, Carlos Bezerra Neto, reforçou a tese de que os réus deste julgamento apenas "cumpriram seu papel legal" e ordens da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops).
"Eles foram para duas ocorrências no local em que foi determinado que eles estivessem, com orientação da coordenadoria da Ciops, e cumpriram as ocorrências. Ocorreu que não tinha nada no local", sustentou o jurista. "Esses policiais que estavam de serviço não foram policiais que saíram de um determinado local em seus carros, adulterados, para cometer crimes", reforçou.
Primeiro julgamento
Na madrugada do último dia 25 de junho, após seis dias de julgamento, o Tribunal do Júri condenou os primeiros quatro PMs réus pelas mortes da Chacina do Curió. As penas somaram 1,1 mil anos no total. Foram condenados: Wellington Veras; Ideraldo Amâncio; Marcus Vinícius Costa e Antônio Abreu.
Os três primeiros foram levados para o quartel da Polícia Militar no Centro da Capital após o júri. Já Abreu foi preso nos Estados Unidos, somente neste mês de agosto.
Quando será o terceiro júri?
Uma terceira sessão do julgamento já está agendada para este ano. No próximo dia 12 de setembro, será a vez de julgar todos os oito réus que compõem o processo 3 da Chacina do Curió.
Nesta ocasião, estão previstos 21 depoimentos, sendo seis de vítimas sobreviventes, sete de testemunhas e oito interrogatórios.