O comerciante Mychell Egídio Torquato Oliveira, que possui registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) e foi preso em uma operação do Ministério Público do Ceará (MPCE) e da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) na última terça-feira (19), é suspeito de comprar armas de fogo de policiais militares, que também são CACs, e de revendê-las para criminosos, no Ceará. Há a suspeita de que as armas tenham ido parar nas mãos de membros de facções criminosas.
A reportagem apurou que um policial militar do Ceará vendeu uma carabina calibre 556 e duas pistolas Ponto 40, por um total de R$ 36 mil. As armas eram legalizadas e a venda foi feita de acordo com a lei, segundo as investigações.
Mychell Egídio ainda assumiu, em depoimento, ter comprado armas de outro PM. Mas os produtos e o valor pago ainda são investigados pelo Ministério Público e pela Polícia Civil.
Outro CAC vendeu uma carabina calibre 556, uma carabina calibre Ponto 40 e uma pistola Ponto 40 para o comerciante preso, pelo valor de R$ 32 mil. Até o momento, também não há ilegalidade comprovada nesta negociação.
O crime começava a ser cometido por Mychell Egídio após adquirir essas armas de fogo legalmente. O Exército Brasileiro informou aos investigadores que o suspeito tentou registrar 23 armas, das quais 16 foram registradas.
Ele simulava o furto dessas armas, raspava a numeração e revendia as armas. As investigações irão continuar, no intuito de identificar outras pessoas envolvidas, apreender o armamento, até porque tem muitas armas de grosso calibre, como fuzis AR15. Bem como identificar as pessoas que adquiriram esse armamento de forma ilegal, para responsabilizá-las criminalmente."
A operação também prendeu Francisco Paulo Henrique do Nascimento Lima, que era funcionário do mercantil de propriedade de Mychell Egídio e passou a ser um "laranja" do esquema criminoso, ao ponto de também se registrar como CAC, para adquirir armas para o seu chefe.
"O Mychel, até então, não tinha antecedentes criminais. Preenchia todos os requisitos legais para obter o certificado de CAC. Só que a investigação está demonstrando que a intenção dele era de utilizar esse meio legal para adquirir os armamentos e praticar atos de ilegalidade, como falsificar certificados de registro do Exército e revender ilegalmente essas armas", destacou o delegado adjunto da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), da Polícia Civil, Eduardo Tomé.
Comerciante tinha arsenal
Os suspeitos possuíam um verdadeiro arsenal. A reportagem apurou que as investigações policiais identificaram que o comerciante Mychell Egídio Torquato Oliveira e o comparsa dele, Francisco Paulo Henrique do Nascimento Lima, detinham o poder de pelo menos 19 armas de fogo, avaliadas em mais de R$ 220 mil. Entre elas, sete fuzis, além de espingarda, pistolas e revólveres.
A dupla foi presa temporariamente - Mychell Egídio em Caucaia e Paulo Henrique, em Fortaleza - pelo crime de comercialização ilegal de arma de fogo, mas será investigada por outros crimes. Com eles, foram apreendidos dois carros e uma motocicleta. Entretanto, nenhuma arma foi encontrada com os suspeitos.
Comandadas pelo promotor de Justiça de Caucaia, Jairo Pequeno Neto, e pelo delegado de Roubos e Furtos (DRF), Eduardo Tomé, as equipes policiais cumpriram os dois mandados de prisão temporária (por 30 dias) e cinco mandados de busca e apreensão (quatro em Caucaia, ligados a Mychell; e um em Fortaleza, na residência de Paulo).
A Justiça Estadual também determinou a quebra de siligo telefônico, telemático, de informática e bancário dos suspeitos, além do sequestro de um veículo Toyota Hilux, outro Toyota Corolla e uma motocicleta Kawasaki Z900, de 900 cilindradas.
Suspeito registrou BO por furto
A reportagem apurou que as investigações do MPCE e da PC-CE se iniciaram após um Boletim de Ocorrência (BO) registrado por Mychell Egídio Torquato em uma delegacia da Polícia Civil, em novembro de 2022, no qual ele denunciou ter sido vítima de um furto mediante arrombamento da sua casa, em que teriam sido subtraídas 16 armas de fogo, entre fuzis, carabinas, pistolas e revólveres.
Ao checar as informações prestadas pela suposta vítima, os investigadores perceberam que, no dia anterior ao BO, Mychell tinha recebido uma notificação do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados da 10ª Região Militar (SFPC/10), do Exército Brasileiro, para realizar uma vistoria no seu acervo de armas.
Outro fato que levantou a suspeita do MP e da Polícia Civil foi o registro do Boletim de Ocorrência ser feito apenas quatro meses depois do suposto furto. O esquema criminoso comprava armas de fogo por um valor alto, à vista, simulava o furto dessas armas, raspava a numeração delas e realizava a venda por um valor ainda mais alto, segundo as investigações.
Os levantamentos policiais ainda apontam que o valor pago pelas armas de fogo, por Mychell Egídio, não condizem com o valor que ele fatura no mercadinho que é proprietário nem com o seu padrão de vida em Caucaia.