Um artesão, um marceneiro e um mecânico que haviam sido acusados de cometerem um homicídio em 2014, em Cascavel, na Região Metropolitana de Fortaleza, foram inocentados em um júri popular ocorrido sete anos e meio depois. Os três saíram do sistema penitenciário cearense nesta sexta-feira (12).
A absolvição veio depois de 11 tentativas, por parte da Defensoria Pública do Estado do Ceará (DPCE), da soltura deles. Todos os habeas corpus foram negados pela Justiça mesmo diante do fato de os réus serem primários e a prisão em caráter preventivo ter excedido todos os prazos legais e aceitáveis.
De acordo com a defensora pública Fabiana Diógenes, atuante em Cascavel e que representou os assistidos ao lado do defensor Eduardo Villaça, da 4ª Vara de Execução Penal, o caso é "extremamente revoltante", de abandono, falha estatal, de absurdo e de descasos.
"São jovens que perderam toda a juventude no presídio. Foi uma coisa extremamente traumática e que as famílias vinham acompanhando diariamente. Foram famílias incansáveis. Nunca desistiram", afirma.
Injustiças
Também segundo a defensora pública, ao atuar na área criminal da instituição, não é raro se deparar com injustiças, falhas estatais e pessoas presas sem uma decisão definitiva por período excessivo. "No entanto, em minha experiência profissional, jamais havia presenciado mais de sete anos de prisão preventiva", diz.
"Obtivemos a absolvição dos assistidos, mas as consequências danosas dessa prisão não poderão ser revertidas. São réus que perderam parte da vida em razão da inércia do sistema de justiça", acrescenta.
Esposa grávida
Na época da prisão, a esposa de um dos absolvidos estava grávida de oito meses, e levava a tiracolo um menino de menos de dois anos.
Viu, então, a vida virar de cabeça para baixo justo quando o marido estava prestes a assumir um emprego com carteira assinada.
"Minha sorte foi a minha sogra, que ficava com meus filhos enquanto eu trabalhava", expressa a companheira, complementando que, agora, a família colocará "a vida para frente".
Ela conta que quando visitava o marido na unidade prisional em Itaitinga, também na Grande Fortaleza, o companheiro o perguntava como os filhos estavam na escola e o que eles tinham aprendido.
"Quando eu falava que tinham aprendido a ler, ele chorava. Só comecei a levar os meninos na hora em que caiu a ficha de que ele ia demorar a sair. A gente via os anos se passando e nada se resolvendo. Cheguei a pensar que ele nunca ia sair. Vivi muitos anos sem esperança. Era muito difícil", relembra.
Novos caminhos
A família vai morar na Paupina, periferia de Fortaleza, depois de uma vida em Cascavel e outra vida separados por uma injustiça.
"Cheguei a dormir na porta da cadeia em dia de rebelião. Achava que meu marido ia sair dali dentro de um caixão. Foi tanta aflição nestes sete anos que estou até agora sem conseguir acreditar que ele vai vir pra casa", rememora a esposa.
"Quando ele chegar, eu tenho certeza de que ainda vou ficar olhando para ele sem acreditar. Depois de tantos anos, a ficha não cai. Às vezes, eu acho até que tô sonhando. Agora quero receber ele com tudo organizado", celebra.