O Ceará viveu, em setembro de 2019, uma das maiores crises na Segurança Pública, com uma série de ataques a bens públicos e privados. Mais de quatro anos depois, seis acusados de integrar duas facções criminosas rivais - que deram uma trégua na guerra entre elas e se associaram para atacar o Estado - foram condenados pela Justiça Estadual a uma soma de mais de 82 anos de prisão.
A sentença foi proferida pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas, no último dia 23 de janeiro. Ednal Braz da Silva, o 'Siciliano', proprietário de um dos seis anéis templários da alta cúpula de uma facção cearense e acusado de ser o principal mandante dos ataques, recebeu a maior pena da Justiça: 22 anos de prisão.
Também foram condenados outros quatro acusados de integrar a facção cearense: Antônia Valdirene de Lima Soares, a 'Irmã Raposa'; Aílton Maciel Lino, o 'Irmão Snoopy'; Luís Felipe Lima de Carvalho, o 'Irmão 43'; e Marcos Antônio de Castro Farias, o 'Matuê'.
A sexta pessoa condenada é Cíntia Bastos de Sousa, conhecida como 'Irmã Ruiva', apontada como uma integrante de uma facção carioca, que seria o elo entre os dois grupos criminosos. A denúncia da quadrilha foi realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE), após investigação em parceria com a Polícia Federal (PF).
Confira as penas individuais:
- Ednal Braz da Silva, o 'Siciliano' - condenado por integrar organização criminosa, tráfico de drogas e associação para o tráfico, a 22 anos de reclusão;
- Antônia Valdirene de Lima Soares, a 'Irmã Raposa' - condenada por integrar organização criminosa, a 9 anos e 7 meses de reclusão;
- Aílton Maciel Lino, o 'Irmão Snoopy' - condenado por integrar organização criminosa e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, a 15 anos e 5 meses de reclusão. Mas absolvido por tráfico de drogas e associação para o tráfico;
- Luís Felipe Lima de Carvalho, o 'Irmão 43' - condenado por integrar organização criminosa, a 13 anos e 1 mês de reclusão;
- Marcos Antônio de Castro Farias, o 'Matuê' - condenado por integrar organização criminosa, a 11 anos e 2 meses de reclusão. Mas absolvido por tráfico de drogas e associação para o tráfico;
- Cíntia Bastos de Sousa, a 'Irmã Ruiva' - condenada por integrar organização criminosa, a 11 anos e 2 meses de reclusão.
A Justiça determinou ainda que as penas devem ser cumpridas em regime inicial fechado e negou aos réus o direito de recorrer em liberdade. Outros dois acusados no processo criminal (um homem e uma mulher) foram absolvidos de todos os crimes e tiveram o alvará de soltura expedido.
Série de ataques criminosos
Em 11 dias (entre 20 e 30 de setembro de 2019), o Ceará somou pelo menos 113 ataques criminosos a bens públicos e privados, em 36 cidades. Entre as ocorrências, veículos foram incendiados, estabelecimentos comerciais depredados e torres de energias explodidas. Ao menos 150 suspeitos de envolvimento com os crimes foram capturados pela Polícia.
As investigações policiais descobriram que a principal motivação dos ataques criminosos era o descontentamento das facções com a gestão do Sistema Penitenciário cearense, que naquele ano passou a ser comandado pelo secretário Mauro Albuquerque. Em janeiro, o Estado já havia vivenciado outra série de ataque.
Uma investigação desenvolvida pela Polícia Federal (PF) chegou à participação de Ednal Braz da Silva nos crimes. 'Siciliano' estava detido em um presídio em Pernambuco, mas, mesmo preso, tinha acesso a um aparelho celular e enviava ordens de outro Estado para comparsas no Ceará.
No celular de 'Siciliano', os investigadores encontraram planos criminosos ousados da facção: passar-se por policiais federais para soltar presos e explodir a Arena Castelão durante um show.