Volume do Castanhão sobe de 3,48% para 4,19% em um mês

Reservatório começou a receber águas vindas do Vale do Salgado, no Cariri. Cerca de 60% da água que abastece o reservatório vêm do Vale do Salgado

As águas que vêm causando estragos na região do Cariri cearense trazem também esperança para o sertanejo. O maior açude do Ceará, o Castanhão, no Vale do Jaguaribe, começa a receber a primeira recarga deste ano. Cerca de 60% da água que abastece o reservatório vêm do alto sertão cearense, das chuvas que banham a maior parte da região do Cariri, ou seja, do Vale do Salgado. Depois de percorrer mais de 200 quilômetros pelo Rio Salgado, o recurso hídrico seguiu por Icó, Jaguaribe e Jaguaribara, na bacia do reservatório.

O volume do Rio Jaguaribe aumentou nas margens da velha Jaguaribara, enchendo de alegria os agricultores e piscicultores. A antiga passagem molhada está encoberta e a travessia é feita por barcos pelos moradores ribeirinhos.

O Açude Castanhão acumula 4,2%, de acordo com dados do Portal Hidrológico da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh). O reservatório precisa “renascer” para que as atividades agropecuárias que dependem dele – agricultura e piscicultura – possam ser retomadas, e as famílias tenham trabalho e renda no campo. A maior e mais importante reserva hídrica do Estado é fundamental para o abastecimento humano do Médio e Baixo Jaguaribe e da Região Metropolitana de Fortaleza. “Isso aqui é uma riqueza para nós”, disse o criador de bovinos, Ediano Brito. “Há poucos dias estava tudo seco e o nosso medo era que o gado passasse sede”.

O Rio Salgado, que recebe as águas do Sul do Ceará, desemboca no Rio Jaguaribe, após a cidade de Icó. O recurso hídrico segue em direção à localidade de Mapuá e depois à cidade de Jaguaribe, onde há a barragem de Sant’Ana, com balneário. Em seguida passa às margens da antiga cidade de Jaguaribara, que foi encoberta pelas águas do Castanhão, pela primeira vez, em janeiro de 2004. 


Na manhã desta sexta-feira, Maria do Carmo Marques e seu neto foram visitar as ruínas da velha Jaguaribara e ver o espetáculo da força da água escorrendo entre rochedos e as barreiras do Rio Jaguaribe. “É a primeira cheia deste ano e sempre que o rio tem água tudo fica muito bonito”, disse. “O plantio e a alimentação para o gado vão crescer”.

Moradora da cidade velha, Maria do Carmo compara com saudade: “Era uma cidade pequena e rica, não faltava nada, tinha tudo, as pessoas se conheciam. A nova Jaguaribara não tem emprego, não tem como plantar nada”, lamenta.

A professora do ensino fundamental, Edenúbia Bezerra da Silva, disse que estudou por dois anos na antiga Jaguaribara. “Tenho saudade das festas, dos colegas”, frisou. Os moradores lamentam a liberação de água para outras regiões. “O açude seca, fica ruim para nós, para os agricultores e pescadores”, disse o produtor rural, Elenízio Diógenes.

Pelo menos nos próximos cinco dias, o Castanhão deve continuar recebendo as águas da região do Cariri. No início do mês de março, passado, o reservatório acumulava 3, 48% e a partir desta data a reserva hídrica começou a subir devido às chuvas na bacia. Em 15 de março chegou a 3,58% e ontem chegou a 4,19%.

O clima é de alegria entre os agricultores e criadores de animais, mas de cautela entre os piscicultores. Para a retomada de parte dos projetos de criação de tilápia, o reservatório precisa atingir pelo menos 15%. “O nosso temor era de que não houvesse nenhuma recarga neste ano”, disse a secretária de Desenvolvimento, Aquicultura, Pesca e Turismo de Jaguaribara, Lívia Barreto.