Sendo um dos últimos refúgios da espécie no Brasil, os guaribas-da-caatinga tiveram registros fotográficos inéditos na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Serra das Almas, localizada entre Crateús, no Ceará, e Buriti dos Montes, no Piauí, com 6.285 hectares. Este raro tipo de primata está ameaçado de extinção, visto que a perda de habitat e a caça dos animais são fatores de risco para os macacos.
O registro foi realizado em dez armadilhas fotográficas, que funcionam com sensores de movimento e de calor, por pesquisadores do Projeto Guariba em parceria com a Associação Caatinga, por meio da ação No Clima da Caatinga. O objetivo é monitorar e conservar a espécie de médio porte Alouatta ululata no local.
O estudo de Robério Freire Filho, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), indica ainda que a população dos guaribas-da-caatinga ainda é pequena na RPPN, com cerca de dez indivíduos.
“A distribuição atual [dos animais] está muito restrita, muito limitada. No Maciço da Meruoca ele já não ocorre, apenas em alguns pontos como na Serra no Coreaú, em Massapê, mas situações muito pontuais, muito restritas, populações muito pequenas e extremamente ameaçadas pela caça que ainda existe no Ceará e pela perda de ambiente”, explicou o pesquisador em entrevista ao Diário do Nordeste em março de 2021.
A espécie
De acordo com o coordenador de conservação da Associação Caatinga, Gilson Miranda, os guaribas-da-caatinga gostam de ficar na parte superior das árvores altas, entre 10 a 15 metros de altura, e “precisam de locais que tenham um certo nível de conservação para que eles possam ocupar, por isso também que é difícil o registro”.
Conforme o órgão, a vocalização é uma das principais características dos animais. Por possuir o osso hióide, os primatas conseguem emitir sons poderosos que podem ser ouvidos a até três quilômetros de distância. Além disso, eles são animais arborícolas e se alimentam de frutos, folhas, sementes, flores e cascas.
Neste sentido, Miranda esclarece que as fotografias dos macacos comprovam a eficácia do trabalho realizado pela instituição há 20 anos, funcionando como um refúgio para a fauna e a flora. “É importantíssimo o apoio de projetos como esse pra preservação da natureza”.
Além disso, o trabalho de preservação dessa espécie e de outras acontece por meio da manutenção e do cuidado com a área. “Então nós temos funcionários que se dedicam diariamente a cuidar dessa área bem extensa”, comenta Gilson.
“Vai desde o cuidado para evitar incêndios florestais, como também para evitar a caça dentro da nossa área. Então há todo um trabalho na educação ambiental realizado com o entorno da unidade para que as pessoas consigam ver essa área como algo que traga benefício a elas e que está realizando um trabalho em prol de todos”, prossegue.
Associação Caatinga
Segundo Gilson Miranda, a Associação Caatinga atua desde o ano 2000, com a implantação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Serra das Almas. Atualmente, a instituição conta com inúmeros projetos socioambientais, sendo um dos principais o No Clima da Caatinga, que opera desde 2010 com as comunidades do entorno.
“Esse projeto é patrocinado pela Petrobras através do programa Petrobras Socioambiental. Tem o apoio à criação e gestão de áreas protegidas; trabalhamos também dentro de reflorestamentos; disseminação de tecnologias socioambientais; a educação ambiental; o fomento à pesquisa; a articulação de políticas públicas e ambientais; e a comunicação”, detalha o coordenador.