Juazeiro do Norte. Um casamento fora dos padrões, dentro da prisão, tem sido cada vez mais comum para os detentos da Penitenciária Industrial e regional do Cariri (Pirc), neste município. O trabalho faz parte das ações de ressocialização dos presos. No último fim de semana, mais dois casais participaram da cerimônia de casamento, com os filhos, já frutos de uma relação construída dentro da prisão.
Cícero Fernandes de Alencar e Marli Rodrigues de Sousa e Marconi Lima da Silva e Francinaide Dias Alves dizem não ser o lugar dos seus sonhos para a realização de uma união, mas um momento que reflete a alegria da realização. A juíza de paz chega para cumprir mais uma missão. Eunice dos Santos, com sua assistente, se dirigem para o terceiro casamento coletivo na Pirc. O primeiro deles aconteceu em 2004. Foram nove casais. Na segunda, seis. Desta vez seriam três, mas num deles, a noiva não pôde participar.
Familiares dos noivos, padrinhos, todos apostos para se dirigirem ao pátio da penitenciária. Os procedimentos são os de sempre, com revista rigorosa na entrada. Eunice diz já estar se acostumando com o casamento na prisão, sempre concentrada no que irá dizer aos noivos na cerimônia. Um pouco de apreensão na entrada, mas a segurança fica de alerta. Agentes estão por todos os lados. Os assistentes sociais acompanham de perto.
A música romântica de fundo, na voz apaixonada de um seresteiro, quebra o clima das grades. Primeiro entram os padrinhos, depois, os noivos com os filhos. Dias antes, toda uma preparação. A isenção da taxa de R$ 90,00 é feita a partir de uma declaração da situação financeira dos detentos. Cuidados da assistência social acontecem com o acompanhamento, conversas com os casais, levantamentos de documentos.
Oportunidade
Segundo Cícero Fernandes, preso há mais de dois anos por assalto, a meta era casar quando saísse, já que está com os dias contados para desocupar a Pirc, mas a oportunidade surgiu e ele não deixou faltar. Cícera também concordou. São duas filhinhas, uma delas ainda por nascer. A outra com pouco mais de um ano. Ele de Campos Sales e ela de Picos-PI. A decisão agora é fazer da terra do padre Cícero morada permanente para a família.
Marconi respira fundo na hora de colocar a aliança. Um dos momentos mais esperados de sua vida, afirma ele. Com um filho de quatro meses com Francinaide, a esperança do julgamento e a saída da prisão. Quando se conheceram, ambos eram casados. Há mais de quatro anos Marconi, conhecido por Maicon, está preso. É acusado de assassinar o colunista e promoter Johnatan Kiss.
A juíza pede a atenção dos noivos para o momento. “É um casamento complicado, por vocês estarem presos. Precisam ter muita paciência um com o outro. Não devem cobrar de suas esposas o que elas não podem oferecer. Há limitações para ambos”, lembra. O momento da união, conforme Eunice, é para se pensar em Deus. Bons pensamentos que devem refletir nos encontros íntimos que tiverem dentro da penitenciária. Após a cerimônia, corte do bolo, salgados e refrigerantes aos convidados.
Realizada união civil de detentos
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