Um grupo de 20 moradores da comunidade rural de Tapuio, localizada a 20 km de Tabuleiro do Norte, vem protagonizando a troca de experiências entre universidade e sociedade. Um projeto de extensão do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Campus de Tabuleiro, promoveu durante dois meses, o aprofundamento de saberes tradicionais por meio do cultivo de 20 plantas medicinais selecionadas pelo Conselho Estadual de Fitoterapia do Ceará.
A turma é formada, em sua maioria, por donas de casa, agriculturas ou aposentadas. As plantas são cultivadas no quintal do Posto de Saúde da comunidade.
A aposentada Maria Eliza é moradora do Tapuio há 40 anos. Ela, que passou boa parte da vida ensinando, hoje está feliz em mudar de papel. A aluna conta que só agora aprendeu a preparar um chá. "A gente sempre cultivou plantas medicinais, mas não sabíamos em que situação poderíamos utilizá-las. Quando a gente começou a fazer o curso descobriu que muitas vezes usávamos as plantas de forma errada, que não sabíamos como fazer um chá", ressalta.
Além de natural, a questão do acesso é outro ponto que Maria Eliza destaca ao valorizar o curso. A distância entre a comunidade e o hospital mais próximo faz com que alguns tratamentos venham, hoje, do próprio quintal. “A solução era correr pros hospitais, às vezes resolvia e às vezes não. Com o curso a gente viu que pequenas coisas dava pra gente cuidar daqui mesmo através das plantas medicinais. É só plantar, cuidar e aprender a usar sem medo”, ressalta a aluna.
Resultados
A professora do IFCE, Joceli Noronha, que media as aulas, espera que os frutos plantados permaneçam na história da comunidade. “A primeira coisa foi fazer com que cada dupla estudasse duas plantas para saber a parte que seria usada, a adubação, qual a utilidade”, lembra. Depois da parte teórica, os estudantes vivenciaram a prática do cultivo e da produção artesanal dos remédios. O tratamento fitoterápico com as plantas utilizadas no curso vem apresentando bons resultados.
“Eu sei que eles vão usar porque muitos já sabiam alguma coisa, mas não faziam da forma mais correta. A gente tenta deixar o mais próximo deles. Por exemplo, a nossa medida é uma mamadeira, porque em qualquer lugar você consegue. Eu sei que isso aqui vai pra frente. Eles podem produzir esses materiais de forma artesanal”, garante a professora.
Curso
O curso é fruto de uma parceria do IFCE com a Associação Comunitária do Tapuio e as aulas, que variam entre atividades teóricas e práticas, se encerram nesta quinta-feira (28). Os encontros têm o objetivo de apresentar à comunidade formas de cultivo e preparo de produtos fitoterápicos, como pomadas e sabonetes, que podem tratar doenças intestinais e de pele. Cada aluno levará para casa um kit com todos os produtos preparados artesanalmente ao longo do curso.
A idealização do projeto é do professor Francisco José de Abreu Matos, da Universidade Federal do Ceará (UFC).