Iguatu mantém tradição de mais de 200 anos

Na sua pregação, o vigário geral da diocese de Iguatu, padre Afonso Queiroga, lamentou que a festa de Natal viesse se transformando em um acontecimento social

Centenas de católicos participaram da Missa do Galo, campal, celebrada ao lado da Igreja Matriz de Senhora Sant’Ana, na cidade de Iguatu, na região Centro-Sul do Ceará. Há mais de 200 anos que a tradição é mantida, embora desde a década passada, a participação dos católicos vem minguando.
           

A missa foi celebrada pelo padre Carlos Roberto Alencar, que fez uma reflexão rápida sobre o Natal, lembrando que Jesus veio ao Mundo para anunciar a paz, o amor e a solidariedade entre os homens. “O Menino Deus nasceu pobre, em uma manjedoura, próximo de animais”, frisou. “Celebrar o Natal com orações, participar da liturgia é seguir o real sentido desta festa religiosa”.
           

A Missa do Galo na Igreja Matriz de Senhora Sant’Ana, a mais antiga da cidade, é uma tradição mantida há mais de 200 anos. No passado, era celebrada mais tarde, a partir das 22 horas, mas agora foi antecipada para as 20 horas. O objetivo é facilitar que as pessoas depois façam confraternizações entre os parentes e amigos, facilitar a participação dos idosos, e até por questão de segurança.
           

O vigário geral da diocese de Iguatu, padre Afonso Queiroga, lamentou que a festa de Natal viesse se transformando em um acontecimento social. “As pessoas ficam muito preocupadas com roupas, calçados, presentes, muita comida, bebida, ocupam os salões de beleza e se esquecem do aniversariante”, observou. “Celebrar o Natal é agradecer a Deus por ter nos dado Jesus, é compartilhar o amor, a solidariedade entre os irmãos, é perdoar”.
           

Padre Queiroga disse que as pessoas precisam encontrar tempo para um momento de oração, de reflexão sobre o Natal, em casa, com a família, e participando dos atos religiosos.
           

Na noite desta quarta-feira, 24, milhares de pessoas lotaram a Praça da Matriz de Senhora Sant’Ana, mantendo o costume local da véspera de Natal: saírem para a praça principal, onde há lanchonetes, pizzarias e bares. O espaço está decorado e atraiu muitos jovens. A maioria aproveita para tirar fotos em frente à árvore de Natal ou em outros pontos de decoração. Muitos reclamaram, entretanto, da falta de música ao vivo, de apresentações culturais e artísticas.

Espírito natalino
         

Nesta cidade, um grupo de vizinhos comemora o Natal com novena, reflexão do nascimento de Jesus Cristo, num clima de confraternização. É uma tradição antiga, mantida pelo empresário Carlos Nascimento, que organiza a festa no jardim da casa dos pais dele. “Queremos manter o verdadeiro espírito natalino”, frisou.
           

Os amigos e parentes vão chegando, trazem presentes e muitas alegrias no coração. O clima é de festa, mas antes de servir uma roda de bebida e comida, salgadinhos e doce, é feita a celebração de uma novena e reflexão do Evangelho, sobre o nascimento de Jesus.
            As amigas Aila Holanda e Jucicleide Souza puxam os cânticos, fazem leituras e lembram que celebrar o Natal é vivenciar momentos de fraternidade, amor, confraternização com parentes, amigos, vizinhos. Neste ano, o padre Afonso Queiroga participou da festa e lembrou que “a grande alegria do Natal é que Cristo veio, habitou e permanece no meio de nós”. O empresário Carlos Nascimento disse que mantém a tradição para promover e fortalecer os laços de amizades.
           

A aposentada Enilma Araújo a cada Natal faz na casa dela a renovação da imagem do Menino Jesus, reunindo parentes e amigos e os vizinhos. Na solenidade, há cânticos e orações. “Não vejo o Natal como uma grande festa de bebida e comida”, frisou. “Para mim é a festa da família, mas que tenha no centro, Jesus, que veio ao mundo e nos deixou muitas lições de paz, amor e solidariedade”.
           

Na zona rural, muitas famílias seguem a tradição de participar de celebrações em capelas e depois de se reunirem no pátio, em frente às casas, e promoverem uma ceia compartilhada, em que cada grupo leva um prato para ser dividido.