É certo criar cães junto com crianças? Para alguns pais, a combinação só traz vantagens para os dois
Fortaleza Superar medos e desenvolver sentimentos como carinho, amor e amizade, com base no respeito e na responsabilidade. Estas são algumas vantagens para crianças que convivem com cães em casa. Por isto, aumenta o número de famílias que decidem manter animais no convívio doméstico.
João Castro, 2 anos, com filhotes de Dogue Alemão, do Canil Gigantes do Sertão, mantido pelos pais Odijas Frota e Juliana Régia Fotos: Nilton Novaes
Para o casal de veterinários Ticiana Franco, da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará (Favet-Uece), e Daniel Uchoa, do Kennel Clube do Estado do Ceará (KCEC), o convívio com os animais de estimação influencia positivamente na socialização das crianças.
Por isto, eles não tiveram dúvidas em compatibilizar o papel de pais da garota Letícia, com a função de criadores das raças Boxer e Bulldogue Francês. A filha Letícia, de 1 ano e 11 meses de idade, convive com os animais desde quando ainda estava na barriga da mãe.
A garota Letícia, de 1 ano e 11 meses, com filhote de Bulldogue Francês da criação mantida pelos pais, os veterinários Daniel Uchoa e Ticiana Franco
"Na nossa experiência, o contato físico com os cães, o som das batidas do coração e do latido dos cães adultos e o grunhido dos filhotes foram apresentados desde a gestação para a Letícia. Na fase neonatal até os 6 meses, fez também contato visual com raças tranquilas, que não latiam na presença dela e não a assustaram. Após seis meses, iniciou-se o contato físico, passando o pezinho e a mãozinha dela na cabeça, no dorso, na barriga de filhotes, depois cães adultos. Aos 11 meses, ela segurava a guia, brincava sozinha, sob supervisão atenta, com os Boxers Lara, Fetiche e Ícaro, e com o Buldogue Francês, Bóris", conta Ticiana.
Conforme explica Daniel, acompanhar os primeiros contatos, supervisionando a interação e explicando que o cão é um novo membro da família é essencial para o sucesso da convivência. "Mostrar à criança as atividades diárias do cão: dormir, comer, beber água, defecar, urinar, passear, tomar banho, limpar orelhas e também nas visitas ao veterinário para vermifu-gação, vacinas, higiene dentária e demais orientações. Assim, a depender da idade da criança, ela verá o cão como um amigo e não como um brinquedo", garante o médico.
Segundo Daniel, as crianças bem pequenas ainda não sabem distinguir o cãozinho de um bichinho de pelúcia. Daí podem machucar o animal e este pode reagir à "agressão". Daí a importância do acompanhamento dos pais no dia a dia e na escolha da melhor raça para a convivência com a criançada. Algumas raças são ideais para este convívio, por serem mais tolerantes a carinhos mais fortes.
Ele aponta as raças Boxer, Bulldogue Francês, Retriever do Labrador, Golden Retriever, Lhasa Apso, Shi Tzu, Dogue Alemão como mais tranquilas. "Os mais agitados Beagle, Terrier Brasileiro, conhecidos como Fox Paulistinha, e mesmo as raças tidas como mais perigosas ou utilizadas para guarda, como Fila Brasileiro, Rottweiler, Pastor Alemão e American Pit Bull Terrier podem ser excelentes cães de companhia para uma criança, desde que se conheça a personalidade do animal e o histórico genético e de criação dos pais e avós do animal. A interação também dependerá da personalidade da criança, se mais agitada ou tranquila, se é portadora de necessidades especiais ou não, do espaço físico e do objetivo dos pais na aquisição do cão", aponta ele.
Já o casal de criadores de Dogue Alemão, Odijas Frota e Juliana Régia, também tem os filhos Pedro Canuto, 9 anos, e João Castro, 2, na convivência diária com os cães do Canil Gigantes do Sertão, mantido pela família em São Gonçalo do Amarante. "Crianças que convivem com animais em geral, especialmente com cães, normalmente têm mais sensibilidade, maior afetividade, um amadurecimento emocional e cognitivo superior se comparado a crianças que não têm essa oportunidade", afirma Odijas Frota.
"Alem disso, também passam a ter uma melhor compreensão das fases da vida, como crescer, reproduzir e morrer, em consequência da menor longevidade dos animais", completa.
Responsabilidades
Ele diz que os dois filhos convivem com os Dogues desde que nasceram. Conta que cada um deles escolheu seu próprio cão e se sente responsável por ele. Pedro ficou com o Dogue Alemão mantado, chamado "Azulão", e João escolheu "Amelinha", uma Dogue plaqueada que ele faz o que quer com ela.
"Foram resultado da primeira ninhada que os nossos filhos acompanharam. João, inclusive, já treina com os cães para exposições. Esperamos que até o final de 2013, possamos estrear em pista com ele apresentando um dos filhotes de nossa criação", comemora.
Os veterinários Daniel Uchoa e Ticiana Franco mantêm o Canil Grande Canafístula. Para Daniel, no dia a dia, dependendo da idade da criança, é possível ela adquirir algumas responsabilidades junto ao animal de estimação. "Dependendo do porte ou da raça escolhida, a criança pode desenvolver algumas responsabilidades como ajudar a encher uma vasilha de água, jogar uma medida de ração no comedouro, ajudar no banho, na escovação do pelo, a recolher as fezes, tudo de uma forma lúdica, agradável, sem tornar isto uma obrigação para ela", diz Daniel.
Sobre as possíveis alergias infantis causadas por animais de estimação, apontadas por alguns pediatras, Ticiana Franco prefere contar com estudos que provam o contrário. "Em uma rápida busca, há estudos que mostram que crianças que convivem nos primeiros anos de vida com animais de estimação estão menos propensas a desenvolver alergia, pois o seu sistema imunológico já está "acostumado" com os agentes alergênicos encontrados nos animais", mostra ela. No contraponto, continua: "Já o sistema imunológico de crianças sem contato com animais não reconhece os agentes alergênicos provocando reações. Esta foi também a informação que nos foi dada pela minha obstetra e pela pediatra da Letícia. O que percebemos é que, talvez nenhum filho de colegas veterinários que teve ou tem convivência com animais desde cedo, possui problemas alérgicos; e que ouvimos muitas pessoas dizerem que o médico contraindicou o cão para as gestantes e as crianças sem diagnosticarem com exames específicos se a mãe ou a criança é alérgica".
Para Odijas, a convivência entre crianças e animais traz muitos ensinamentos. "Nos ensina muito mais do que ensinamos a eles. É uma relação sincera em que o cão se submete aos desejos da criança apenas pela atenção e carinho. Demonstram o verdadeiro significado da vida: amar sem interesse, sem esperar nada em troca", afirma.
FIQUE POR DENTRO
Dicas para fazer a melhor escolha do animal
Os veterinários Ticiana Franco e Daniel Uchoa, também pais da menina Letícia, dão dicas sobre a aquisição de um cão para o filho. " Observar se espaço físico comporta um cão e de qual raça; adequar a escolha da raça à personalidade da criança e o estilo de vida da família (se viaja muito, e no caso o animal ficará só, ou viajará com a família, por exemplo); ler sobre as raças que mais se adequarem neste perfil; procurar criadores idôneos no Kennel Clube, preferencialmente comprando destes, e não em pets shops; exigir exames e atestado de saúde do animal pelo veterinário responsável pelo canil; fazer a consulta inicial, tirando todas as dúvidas com o veterinário. A criança pode acompanhar todos estes momentos.
Mais informações
Canil Grande Canafístula, Daniel Uchoa - (85) 88591014/ 99251014 Canil Gigantes do Sertão
Odijas Frota - 8681.3728
odijas65@hotmail.com
Blog Bem-Estar Pet
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VALÉRIA FEITOSA
EDITORA