A comunidade Base, composta por remanescentes de quilombolas e localizada a cerca de 15 minutos de Pacajus - município da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF)-, passa por graves problemas no abastecimento de água. Três dos sete chafarizes disponíveis pela Prefeitura de Pacajus para abastecer as família do local estão quebrados e a comunidade não conta com abastecimento de água encanada realizado pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). A sugestão de pauta foi enviada por uma leitora através da ferramenta VCrepórter.
O restante de água que ainda tem em poços dentro de uma propriedade particular serve como fonte para muitos moradores. FOTO: Leonardo Bezerra.
O pouco de líquido ainda disponível pela Prefeitura está em um reservatório na rua principal da comunidade, entretanto, ela é salgada. O dessalinizador, equipamento responsável por retirar o sal da água, está quebrado, segundo os moradores. Ainda segundo as famílias, o equipamento está constantemente em manutenção, contribuindo para que o dessalinizador acabe virando a última opção de fonte de água para os moradores.
Resta aos moradores recorrerem a poços dentro de uma propriedade particular. Angelina Ferreira da Silva, 34, pega semanalmente água no "cacimbão do seu Carlos", mas diz que nem sempre consegue voltar para casa com os reservatórios cheios. "Vou sem a certeza se vai ter algo", afirma. Apesar de ter encontrado um pouco de líquido em um dos poços na última sexta-feira (13), Angelina afirma que a água vai servir apenas para beber e cozinhar. "A água para tomar banho eu tiro aos sábados, com o meu marido, do Canal do Trabalhador", explica.
Apesar da comunidade ter sido reconhecida como remanescente de quilombolas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o órgão do Governo Federal afirma que não tem nenhuma gerência no terreno até que todo o processo de demarcação das terras esteja finalizado. "A demanda da comunidade se refere, a princípio, apenas à regulação fundiária", informa José da Guia Marques, antropólogo do Incra do Ceará.
Caixa d'água do dessalinizador da comunidade estava sem higienização desde 2009. Com a falta de manutenção do equipamento, a água disponível para os moradores é salgada. FOTO: Leonardo Bezerra.
O antropólogo ainda explica que, por enquanto, o terreno ainda aguarda o Decreto de Interesse Social, a ser realizado pela presidente Dilma Roussef, para a emissão de posse, pela Justiça, ao moradores cadastrados que se reconheceram quilombolas. O processo ainda envolve a desocupação e o pagamento de indenização às 73 famílias que não se reconhecem como quilombolas e moram no local. "A partir daí o Incra terá gerência sobre o terrenos", afirma José da Guia. Ainda segundo o antropólogo, 337 famílias quilombolas moram nas comunidades Base e Alto Alegre em um terreno de 588 hectares.
Prefeitura informa que situação será amenizada ainda esta semana
A Prefeitura de Pacajus afirma que o poço da Izomar, na rua Tia Júlia, teve o abastecimento suspenso porque o motor estava queimado e aguardando conserto. A Prefeitura ressalta que, nesta terça-feira (17), o poço estará abastecendo normalmente 15 residências, com água encanada.
Um segundo poço, localizado na Associação dos Remanescentes Quilombolas, está sem funcionar desde a gestão passada, quando o compressor foi levado para conserto e ainda não voltou. Até o final desta semana, a Prefeitura de Pacajus afirma normalizará o funcionamento. Com relação ao dessalinizador, devido a grande quantidade de lodo, a gestão municipal diz que o poço está desativado para que a caixa d?água, que não é lavada desde 2009, seja higienizada. Nessa quarta-feira (18) a lavagem será concluída e o abastecimento normalizado.
Segundo a Prefeitura de Pacajus, a atual administração está em entendimento com a Cagece através do gerente operacional da Região Metropolitana de Fortaleza, Sávio Cardoso, para ampliar a rede de abastecimento da comunidade de Alto Alegre, no município de Horizonte, para a Comunidade da Base.
Atualmente, o carro-pipa da Prefeitura de Pacajus abastece a Comunidade da Base uma vez por semana. A comunidade também está incluída no programa da Defesa Civil. Os 130 moradores da Base dispõem de 49 cisternas de 16 mil litros de água, cada uma.