Apartamentos que podem ser personalizados (mesmo num prédio em que todas as unidades têm 80m²), pet shops, pet sitters, baby sitters e moda de inclusão (para pessoas com deficiência) são alguns exemplos de produtos e serviços que surgiram como novas oportunidades de negócio, explica o professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) Wilson Linz.
O docente, que é também consultor técnico do Escritório de Gestão, Empreendedorismo e Sustentabilidade (Eges) da Unifor e consultor de empresas nas áreas de mercado e de desenvolvimento de produto, conta que esses novos negócios têm surgido em função das próprias mudanças de costumes das pessoas. “Por isso é que esse novo mercado, esse novo consumidor, também está exigindo um novo profissional, um novo ofertante de bens e serviços”, aponta.
Mudanças
Ele dá o exemplo das mulheres, que a partir da década de 90, desbravaram o mercado de trabalho. “Por isso, não tinham com quem deixar os filhos. Surgiram as creches, mas não atingiram a demanda. Aí surgiram as baby sitters, que não são aquelas babás tradicionais, pois vão nas casas de pessoas”, argumenta o professor.
Esse novo consumidor é marcado também pelas consequências proporcionadas pelos avanços tecnológicos. Enquanto o consumidor de antigamente fazia compras em lojas físicas – em unidades de varejo muito reconhecidas no mercado, as mesmas que seus pais compravam –, acreditando que aquelas lojas mereceriam confiança, o consumidor de hoje não tem apego à marca. “Ele não tem muita fidelidade, ele troca de emprego a qualquer momento, ele troca de marca a qualquer momento, desde que aquele produto que surgiu o atenda em necessidades e desejos que muitas vezes são artificiais”, descreve Wilson Linz.
Ele diz que a tecnologia aproximou muito as antigas diferenças entre produtos, tanto nas qualidades quanto nas funcionalidades. “Então isso deu condições para diversas marcas surgirem e ocuparem seu espaço no mercado. Ao mesmo tempo, a informática produziu na sociedade o acesso à informação, que há muito tempo era restrito a algumas pessoas que tinham certo poder aquisitivo”, sinaliza. A consequência disso é que a disseminação de mensagens via internet (em redes sociais, e-mails e outros canais de comunicação) fortaleceu o surgimento de uma nova realidade em termos de comportamento e postura de consumo.
De forma que o consumidor de hoje – chamado multicanal ou omnichannel – consulta a internet, consulta sites de várias lojas concorrentes, sites de reclamação, consulta amigos. “Muitas vezes, a opinião de amigos e daqueles que fazem parte do seu ciclo de comunicaçãovia informática tem um poder muito maior do que a propaganda veiculada nos canais tradicionais de comunicação”, informa Wilson Linz.
Nichos e tribos
Ele ensina que o mercado, portanto, antes visto como uma população massificada, passou a ser constituído, nesta nova realidade, por pequenas populações com valores específicos, os chamados nichos de mercado ou tribos. “Então você passou a entender que aquele item ou serviço que era focado a uma parcela da sociedade passou a uma redução em termos de volume, mas, ao mesmo tempo, um aumento das exigências que aqueles itens ou serviços necessitam para se sintonizar com os prováveis consumidores. Hoje, empresas trabalham com produtos personalizados sem afetar seus rendimentos em termos de produtividade”, relata o consultor técnico do Eges.
Ele cita os nichos dos esportistas, dos idosos, dos religiosos, entre outros, que passaram a ser respeitados e a ter mais oferta de produtos e serviços específicos para eles. “Nós temos um crescimento muito grande do single, que é o indivíduo que mora só e passa a adquirir produtos em função do seu consumo, porque ele está preocupado que uma maior quantidade possa passar do prazo de validade. Então, as empresas se adaptaram para essa exigência”, comenta.
Da mesma forma, a mudança da sociedade levou as famílias a terem menos filhos. Estas, portanto, ao invés de comprar 4kg de queijo, passaram a comprar 400 gramas de queijo. Mais uma vez, as empresas tiveram que se adaptar a essa nova realidade, a este novo nicho de mercado. Os padrões familiares também fizeram com que os apartamentos diminuíssem de tamanho. “Sem falar na vasta oferta de apartamentos que podem ser personalizados. Todos têm 80m², por exemplo, mas uma pessoa pode querer com dois quartos, outra pessoa com três quartos, outra com um quarto e um salão. Por exemplo, hoje a indústria da Construção Civil faz um prédio e com parede dry wall faz as divisões que você quer. É uma reformulação daquilo que até há pouco tempo era improvável”, observa o docente.
O serviço de pet sitters também cresceu muito, pelo fato de as pessoas estarem adquirindo mais animais de estimação. Com esse aumento, apareceu toda uma transformação do que antigamente se chamava casa veterinária, que hoje se chama pet shop, “um local onde você ia comprar remédio para cachorro. Hoje, é uma boutique para pets, que inclusive vende remédio”, reflete Wilson Linz.
Evolução
Com tudo isso, é importante entender que hoje existe uma infinidade de oportunidades, pois é um mercado totalmente diferente, opina Wilson Linz. Diferente não só de 50 e 30 anos atrás, como diferente de cinco anos atrás. Muitas das profissões tradicionais estão dando espaço a outras, que tenham ligação com essas, mas apresentam outras variedades. Levar as informações para dentro de aplicativos, por exemplo, é um caminho sinalizado pelo consultor de empresas para as novas profissões e para as empresas atuais.
“A grande revolução está no reconceito de mercado. O mercado deixou de ser aquela coisa vista de maneira maciça, com abordagem única, e passou a ter abordagens específicas. Isso deu uma tremenda obrigação ao empresário, ao empreendedor de estar em constante pesquisa, porque, como essas pessoas estão também modificando seus hábitos de comportamento e consumo numa rapidez estonteante, a empresa também tem que se adaptar a isso, com o risco de ficar para trás. Esse é um problema? Não. É um grande desafio, dentro dessa visão moderna do mercado”, avalia Wilson Linz.
Novas oportunidades de negócios
. Apartamentos que podem ser personalizados;
. Apartamentos de tamanho reduzido;
. Pet shops;
. Pet sitters;
. Baby sitters;
. Moda de inclusão (para pessoas com deficiência);
. Serviços de entrega (delivery) e serviços em domicílio;
. Embalagens com quantidade de produto reduzida;
. Meios de comunicação que entregam conteúdos de assuntos específicos, selecionados pelo consumidor;
. Serviços de streaming;
. Personal stylist;
. Personal organizer;
. Remédios criados por meio da nanotecnologia.