Até 2040, a maior parte da população brasileira estará entre 39 e 69 anos de idade, afirma Wilson Linz, professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) e consultor técnico do Escritório de Gestão, Empreendedorismo e Sustentabilidade (Eges) da Unifor. “E isso exige, desde agora, uma total reformulação na maneira de abordar o mercado, porque a garotada que está hoje com 30 anos de idade, daqui a 21 anos, estará com 51, e aí? Estamos a 21 anos de uma mudança radical da população brasileira, e muita gente ainda acha que o Brasil é o país dos jovens, mas não é não”, analisa o docente.
Diante da situação, surge um desafio e, ao mesmo tempo, uma necessidade de o mercado se reinventar para atender os idosos e os que estão se aproximando dessa fase, nicho que só tende a crescer. “Dos planos de saúde até o entretenimento e o lazer, precisamos nos reinventar em um curto prazo”, defende Wilson Linz. Mudanças na moda, nos carros, nas sinalizações, no piso, na iluminação, nos remédios, na rotulagem, tudo isso abrange os novos negócios voltados para pessoas da terceira idade.
Valores
Wilson Linz diz que vivemos um mundo “sem idade”. “É uma sociedade em que há um ajuntamento de pessoas que você não pode dizer ‘isso aqui é típico da idade tal, isso aqui é típico dessa outra idade’”, argumenta. “Os jovens de hoje escutam, por exemplo, Queen, que fazia sucesso em 1976. Tem gente que gosta de Beethoven, de Bach, de Mozart. De quando era isso? Vejo hoje uma junção de valores, uma mistura acentuada de consumidores. Agora, é importante lembrar que essa mistura fez com que surgissem os nichos, grupos específicos com certa quantidade, mas que têm valores elevados e querem produtos com suas especificidades, intimamente ligados a sua pessoa”, descreve o professor da Unifor.
O nicho da terceira idade é um dos que deve ganhar ainda mais novos negócios. Antes, geralmente os homens de 60 anos colocavam um pijama e iam para casa, comenta Wilson Linz. “E as mulheres de 50 botavam um vestido bem simples, uma chinelinha baixa, e ficavam dentro de casa”, acrescenta.
Novos negócios
Hoje, essas pessoas de 70, 80 anos vão para os clubes dançar. Surgiram, então, dançarinos, festas específicas e condomínios para idosos. “Eles falam ‘não, eu vou morar num condomínio chique. Não é um asilo, não. Quero morar num condomínio onde só tenha pessoas da minha idade, para jogar gamão, fazer minhas festividades’”, observa o consultor técnico do Eges.
Um exemplo de negócio existente em Fortaleza voltado a esse nicho é o Clube Viva, um lugar para onde as pessoas vão e passam o dia todo jogando, escutam música, fazem arte e participam de festas, como o São João, considera Wilson Linz. É um espaço específico para idosos e aposentados, com atividades físicas, psicológicas e cognitivas acompanhadas por uma equipe multiprofissional.
A empresa tem foco no que chama de “novo idoso”, isto é, idosos ativos e aposentados que dispõem de mais tempo livre e querem aproveitar e ocupá-lo com atividades saudáveis. O “novo idoso” perde a imagem de “velho”, não tem mais aquele estigma de uma pessoa dependente e comprometida, mas é aquele que envelhece e sabe que seu futuro depende do agora, relata a empresa.
O professor da Unifor expõe que o idoso vai trazer reformulação de piso, de rótulo, de embalagem, “ou seja, é uma revolução!”, pontua. “Porque a pessoa não lê letrinhas pequenininhas. Então, vai mudar rótulo, fachada de loja, iluminação. Vão ter novos estilos de medicina, novos atendimentos, novos aparelhos de academia, fisioterapeutas diferenciados”, projeta Wilson Linz.
Outro serviço que tem tido incremento são as formas de entregar em domicílio. No setor da Construção Civil, já há diversas opções de apartamentos menores, para acolher os casais cujos filhos saíram de casa. “Sem os filhos, cresce, em consequência, a busca por animais de estimação, o que, por sua vez, impulsiona o mercado dos pet shops”, avalia o professor.
Preparação
Wilson Linz cita que muitos remédios criados por meio da nanotecnologia estão fazendo com que as pessoas passem a recuperar algo que o Alzheimer já tinha levado. O viagra, complementa, deu uma revolução sexual nos homens de 65, 70 anos. Isso provocou, por outro lado, o surgimento da Aids dentro dessa população, porque não estava preparada para isso.
Aspectos negativos também começaram a aparecer para as mulheres na faixa dos 65 anos, por exemplo, quando iam para as festas para dançar. “Elas encontraram oportunistas que extorquiam dinheiro em troca de dançar. Então isso tudo tem um lado positivo e um lado negativo. Tem que haver todo um processo de preparação pra poder enfrentar todas essas facetas do mercado”, frisa o professor da Unifor.
Ele confirma que 80% dos produtos que a geração que está hoje com 19 anos vai consumir daqui a cinco anos não saíram das pranchetas ainda. “Estão, então, em desenvolvimento, ou seja, é uma realidade extremamente volátil e facilmente substituída. Você nota que é um processo diferenciado, é um mercado totalmente novo, e ele está em constante ebulição, é todo tempo algo mudando”, enfatiza Wilson Linz.
MELHOR IDADE NO BRASIL
- 30,2 milhões de pessoas com 60 anos ou mais
- 16,9 milhões de mulheres estão nessa faixa etária
- 13,3 milhões são homens na terceira idade
- 76,2 anos é a expectativa de vida no Brasil
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) - 2017