Qual Assembleia Legislativa Elmano de Freitas vai encontrar quando assumir o Governo em 2023

Para especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste, prioridade para o governador eleito deve ser reconstruir aliança com o PDT, maioria no Parlamento Estadual

Com a mudança de um ciclo político, a composição da Assembleia Legislativa é renovada, assim como o comando do Governo do Estado, impondo desafios de articulação a ambas as partes. Gestor eleito, Elmano de Freitas (PT) encontrará um corpo parlamentar que passou por importantes processos neste ano, desde o fortalecimento da oposição até o rompimento com um importante partido de sustentação, o PDT.

Quanto ao último ponto, o petista deixou claro que pretende restabelecer a relação “com muito diálogo”, em entrevista ao Ponto Poder

“Tenho uma postura de muita humildade e de muito diálogo para discutir com todas as forças políticas. (...) Nós vamos dialogar e estar muito abertos para que deputados e deputadas possam melhorar, aperfeiçoar e possam sugerir coisa nova, porque assim que eu acho que tem que ser”, afirmou.

Assembleia em 2023

Enquanto quatro partidos ganharam mais um representante na Casa (PL, PDT, PT e Cidadania), outros seis mantiveram suas cadeiras (União, PP, Psol, PCdoB, PSD e PSDB). Além disso, quatro legendas perderam membros no Parlamento Estadual (Republicanos, MDB, SD e PV), fazendo com que duas delas deixassem de ter representação nesta instância (SD e PV). Veja a lista completa de deputados estaduais eleitos no Ceará.

Para Rodrigo Santaella, professor do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará (PPGPP/UECE), Elmano lidará com “uma assembleia que não é fundamentalmente diferente das anteriores”, mas mesmo assim será um desafio no próximo ano.

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“O que o governador eleito vai encontrar na Assembleia é um cenário difícil de busca por composição de alianças, especialmente porque a que estruturava a hegemonia política no Ceará, entre PT e PDT, está completamente abalada com as eleições deste ano”, avalia. 

“Mas acho que é uma Assembleia que tem potencial para ser favorável ao Elmano desde que se saiba construir esses acordos”, completa.

Relação com o PDT

O próprio Elmano acredita que tem maioria na Assembleia. Apesar de a opinião ser compartilhada por especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste, a reconciliação com o PDT ainda é “a chave para a governabilidade” do novo gestor. 

É o que diz Rodrigo Santaella. “Reconstituir a aliança com o PDT é fundamental porque, embora dividido, com setores mais próximos, hoje, do Elmano que do Roberto Cláudio, por exemplo, o partido tem mais de um quarto da Assembleia. Além disso, o PDT tem muita influência no Ceará, muitos canais de diálogo com prefeituras”, afirma.

Em sua análise, o retorno da aliança é benéfico para ambos os partidos. O cientista social Alexandre Landim entende o mesmo. Ele explica que o enfraquecimento político de Ciro Gomes (PDT), em quarto lugar na disputa presidencial e com cerca de 10 milhões de votos a menos que em 2018, abre espaço para as legendas retomarem o diálogo, enfraquecido justamente após rompimento de Camilo Santana com o então candidato ao Planalto.

"O PDT perdeu poder político ao terminar em terceiro lugar no Ceará e com a votação diminuída de Ciro Gomes, mas elegeu mais deputados que o PT. O PT, por outro lado, saiu fortalecido com a vitória acachapante de Elmano no 1º turno. Refazendo a aliança, o PDT irá barganhar cargos e secretarias, o que é fundamental para o partido se manter atuante. Por outro lado, o PT precisa formar maioria para aprovar projetos na Assembleia. Não irá tardar e os dois interesses irão convergir. É assim que funciona", indica.

Oposição

Timidamente maior que na legislatura atual, a oposição mais convicta, representada por PL e União Brasil na Assembleia, novamente fez o parlamentar mais votado nas eleições de domingo (2). Trata-se de Carmelo Neto (PL), que já havia sido eleito, em 2020, vereador de Fortaleza.

Além dele, o grupo coligou-se, na chapa majoritária deste ano, a partidos como o Republicanos e o Avante, com representação no novo Legislativo Estadual. Estes, contudo, ainda não deram indicativo de que seguirão o mesmo caminho nos próximos anos no âmbito parlamentar. Se assim fizerem, Elmano pode enfrentar forte resistência de 11 deputados.

Como indica Santaella, o governador eleito pode seguir o caminho de Camilo e estabelecer boa relação com o Republicanos, por exemplo, na Casa. Este é um caso que depende de outros fatores, como o nacional. 

"O crescimento dessa oposição mais robusta ao Elmano, mesmo que pequeno, pode prejudicar porque faz muito barulho, pode ter um apoio de figuras nacionais importantes, acho que a eleição nacional também vai ter um peso”, afirma. Apesar disso, o professor da Uece ainda acredita que essa questão pode não impactar tanto a gestão negativamente se for refeito o elo com o PDT. 

Em qualquer caso, Elmano precisará ter desenvoltura para lidar com a oposição. “Na democracia, não existe somente a situação. Faz parte do jogo. Embora existam graus variados de discordância, a consolidação das instituições permite que os embates ocorram dentro dos limites democráticos”, avalia Alexandre Landim.