O que a votação de Elmano e Capitão Wagner em Fortaleza indica para Lula e Bolsonaro no 2º turno

Aliados dos candidatos estão reforçando suas forças, reagrupando alianças e definindo novas estratégias para conquistar o eleitorado do Estado

Com uma diferença superior a 55 mil votos, o candidato Capitão Wagner (União) venceu, em Fortaleza, seu principal adversário na disputa pelo Governo do Ceará, Elmano de Freitas (PT). O bom desempenho na Capital, no entanto, não foi suficiente para o grupo oposicionista impedir a vitória do petista já no primeiro turno nem garantir uma vantagem ao candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PL) sobre Lula (PT) na Capital.

Contudo, para o segundo turno entre os dois postulantes, aliados dos candidatos estão reforçando suas forças, reagrupando alianças e definindo novas estratégias para conquistar o eleitorado do Estado. Com a disputa pelo Palácio da Abolição já liquidada, eventos pró-Lula e pró-Bolsonaro se multiplicam em Fortaleza, ao mesmo tempo em que lideranças locais tentam transferir votos para os aliados em disputa direta pela Presidência da República.

“O que os aliados de Bolsonaro tentam fazer, não só em Fortaleza, mas no Nordeste como um todo, é reduzir o dano em áreas onde o presidente historicamente não tem um bom desempenho. É uma redução de dano no sentido de, ao invés de um Lula 70% contra 30% do Bolsonaro, reduzir essa diferença para um 65% a 35%, por exemplo, quem sabe em 60% a 40%”, analisa o consultor de marketing político Leurinbergue Lima.

Dentro desses cenários de “redução de dano” apontados pelo especialista, a situação de Bolsonaro na Capital nem é tão ruim. Conforme dados da apuração na Cidade, divulgados pela Justiça Eleitoral, o atual presidente recebeu 35,17% dos votos em Fortaleza, já Lula ficou com 53,20%. 

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Para Bolsonaro avançar

O principal reforço anunciado até agora, no Ceará, para a campanha de reeleição do presidente foi a declaração explícita de apoio de Capitão Wagner. O ex-candidato ao Governo do Ceará foi derrotado no primeiro turno, mas acumulou um resultado histórico em Fortaleza. O oposicionista venceu em pelo menos 27 bairros da Capital, somando apoio de pouco mais de 600 mil eleitores.

Para Leurinbergue Lima, alguns fatores que favoreceram o ex-candidato ao Governo do Ceará podem ajudar na transferência de voto para Bolsonaro. “Wagner tem um recall aqui em Fortaleza, já disputou duas eleições para prefeito, inclusive, ficou com o sentimento de que quase ganhou na última disputa”, avalia.

“Outro ponto é que a gestão do atual prefeito, José Sarto, ainda não tem uma marca, uma cara, falta algo que dê protagonismo a ele, o que facilita para um nome da oposição. E outra, acredito que a divisão do PT e PDT favoreceu o Wagner, ao menos na Capital. Se somar os votos de Elmano e do Roberto em Fortaleza, eles teriam uma ampla maioria”, argumenta o consultor.

Mas o grupo de Wagner e Bolsonaro no Ceará tem outras armas. A bancada parlamentar, por exemplo, consegue atrair uma fatia significativa do eleitorado da Capital. Nomes como André Fernandes (PL), Ronaldo Martins (Republicanos), Dra Mayra Pinheiro (PL) e Priscila Costa (PL) estiveram entre os candidatos a deputados federais mais votados no Estado e são aliados do presidente, totalizando 245,5 mil votos.

Entre os estaduais, o candidato mais votado da Capital é um dos principais nomes do bolsonarismo no Ceará, o vereador de Fortaleza e deputado estadual eleito, Carmelo Neto (PL). Tanto os federais quanto os estaduais têm forte atuação sobre o eleitorado mais conservador e também evangélico, setor que o principal adversário de Bolsonaro, o ex-presidente Lula, encontra dificuldade de conquistar.

Esse grupo de parlamentares, sob liderança de Wagner e Fernandes, esteve em Brasília no último dia 6 de outubro para um encontro de alinhamento para a campanha. No evento, houve ainda o anúncio da visita da senadora eleita Damares Alves (PL) ao Ceará como parte das mobilizações em prol do presidente.

“Esse grupo vai precisar partir para mobilizações, eventos, carreatas, se organizar mesmo, promover um reagrupamento neste segundo turno para tentar minimizar essa diferença entre Lula e Bolsonaro”, avalia Leurinbergue. O consultor aponta que, mesmo com lideranças fortes no Estado, o desafio para o candidato à Presidência é grande. 

“Ele pode surpreender e crescer um pouco mais, mas não sei a que ponto, vai depender do engajamento dessa base do Bolsonaro aqui. O desafio para o presidente é não ser massacrado no Nordeste”, conclui.

Para Lula avançar

Já olhando para o desempenho de Elmano de Freitas na Capital, ainda é possível perceber uma dominância do PT em áreas que são redutos históricos do partido, aponta Leurinbergue. Além disso, mesmo derrotado na Cidade pelo nome da oposição, a disputa foi acirrada, com o petista somando 37,62% da preferência do eleitorado.

“O ex-prefeito Juracy Magalhães falava muito do cinturão vermelho, que ia pela Aldeota, Bairro de Fátima, Benfica, Gentilândia, Parque Araxá, ali por toda a Jovita Feitosa, onde o PT sempre vencia. Nesta eleição, de novo o PT ganhou, as únicas exceções, neste caso, foram a Aldeota e a Parquelândia, que deram vitória ao Wagner”, acrescenta.

A própria candidatura de Elmano foi uma demonstração de força da sigla, que alçou a candidatura lançada no fim do prazo de montagem da chapa e garantiu a vitória já no primeiro turno. Para os petistas, o principal desafio para o segundo turno é ampliar a votação de Lula nos estados do Nordeste.

Conforme Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), mais que de Elmano, o resultado do PT é uma demonstração de força de Camilo Santana (PT). “O principal cabo eleitoral é o Camilo, mais que Lula até. Camilo tem eleitores até entre os bolsonaristas, tanto que a Kamila Cardoso (Avante) era para ter tido a mesma votação de Wagner, mas não foi isso que ocorreu”, avalia.

O professor ressalta ainda que, assim como Bolsonaro tem aliados de peso na Capital, Lula também tem forças importantes, como a deputada federal reeleita Luizianne Lins (PT), a mais votada em Fortaleza. 

“Esses atores com bom recall, como Wagner e Luizianne, ela que já foi prefeita e ele candidato duas vezes, são importantes para os aliados que ainda estão na disputa. O Wagner é até mais, porque Lula teve um cabo eleitoral forte no primeiro turno por aqui, que foi o Camilo, já Bolsonaro teve só deputados, vai precisar abrir a vereda”, aponta.

Leuribergue acrescenta ainda o apoio do PDT à candidatura de Lula, que representa, no Ceará, uma soma de forças. Inclusive, nesta semana o prefeito de Fortaleza reuniu a base aliada da Câmara municipal e orientou pelo trabalho em prol de Lula.

“Agora, a contribuição desses parlamentares vai depender do nível de envolvimento. Eles vão para a rua mesmo? Vão usar a estrutura? Força sabemos que eles têm, a base aliada tem mais de 30 vereadores, então tem muita força, capilaridade, tem força para fazer acontecer”, conclui.

O Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) não divulgou a votação dos bairros Aracapé, Cocó, Couto Fernandes, Curió, Dendê, Manuel Dias Branco, Novo Mondubim, Olavo Oliveira, Parque Araxá, Parque Genibaú, Parque Iracema, Parreão, Praia do Futuro I, Salinas e São Bento.

O Diário do Nordeste aguarda retorno do Tribunal para incluir os dados faltantes.