Série Influências Partidárias: a história do PSB, presidido por Eudoro Santana, no Ceará

A sigla vem com a meta de crescer para se consolidar nas eleições municipais de 2024

O Partido Socialista Brasileiro (PSB) foi um dos que nasceram imediatamente pós-Ditadura Militar (1964-1985), apesar de já ter uma história antes do regime de repressão. A fundação foi em 1985, mas o registro só veio três anos depois.

Já o antigo PSB, na verdade, foi fundado como Esquerda Democrática (ED) em 1945. A troca de nomenclatura veio dois anos depois, já após ter conseguido reunir grandes nomes no seu quadro de filiados, como Gilberto Freye, Hermes Lima e João Mangabeira.

Quase 80 anos depois, no Ceará, o partido se restabelece na base do governo estadual e espera crescer até abril de 2024. A projeção é feita em razão dos novos arranjos em curso no Estado, sobretudo neste momento em que Eudoro Santana preside a legenda.

Ele, ex-deputado estadual, retornou ao PSB com o apoio de Camilo Santana, seu filho, ex-governador, senador da República e ministro da Educação. Foi empossado no comando do PSB em agosto deste ano, em cerimônia marcada pela adesão de gestores de regiões estratégicas e pela presença de dirigentes do amplo arco de aliança.

A intenção é reforçar o bloco governista a fim de consolidar a influência camilista no interior e na Capital.

Este é o quinto episódio da série Influências Partidárias, que apresenta as legendas com representação no Ceará a fim de antecipar as discussões sobre as eleições de 2024. Nesta quinta-feira (16), o Diário do Nordeste recebe Eudoro Santana na Live PontoPoder, transmitida no YouTube, às 17h. 

Lideranças do PSB

Não é de agora que o PSB se mostra relevante e estratégico no Ceará. Por exemplo, abrigou entre 2005 e 2013 o então prefeito de Sobral e depois governador Cid Gomes (no PDT atualmente). 

À época, como governador, acomodou correligionários na gestão (como os próprios irmãos Ciro e Ivo Gomes), ampliando o raio da atuação, e apoiou-se em uma larga bancada pessebista na Assembleia Legislativa, além dos deputados federais cearenses do partido. 

O PSB também elegeu, em 2012, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, que migrou para o Pros em 2013 e, em 2015, para o PDT, onde está desde então.

O movimento representou o enfraquecimento do partido no Ceará naquele momento. A debandada estendeu-se a 500 filiados ligados a Cid Gomes, além do então governador.

O desembarque aconteceu devido à candidatura de Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes, à presidência da República em 2014. O partido entregou os cargos que possuía no governo de Dilma Rousseff (PT), que buscava a reeleição e que era apoiada por Cid.

Além disso, o grupo já tinha protagonizado episódios de crise interna, cujo auge ocorreu em 2011. Cid e o ex-deputado federal Sérgio Novais (da "ala histórica" do partido), presidente estadual e presidente do diretório de Fortaleza, respectivamente, já vinham divergindo sobre os rumos do partido.

Os embates ficaram mais sérios quando Sérgio lançou a pré-candidatura da irmã Eliane Novais para a Prefeitura de Fortaleza, como forma de confrontar a ala cidista por romper com a então prefeita Luizianne Lins (PT). Segundo reportagem do Diário do Nordeste de junho de 2011, a decisão de Novais foi comunicada diretamente à direção nacional do PSB.  

Assim, o segmento liderado por Cid buscou a destituição de Novais pelas vias administrativas, levando ao episódio mais pitoresco da história recente da legenda. Antecedendo-se à destituição do presidente do diretório municipal, aliados de Novais trancaram a sede do partido. 

A reunião que levou à derrota de Novais na agremiação foi, então, realizada do lado de fora com bastante confusão, incluindo 'ovadas' contra o grupo aliado a Cid. 

Nos últimos anos, PSB teve em seus quadros Heitor Férrer (que migrou para a sigla após a filiação de Cid no PDT, ao qual era filiado anteriormente), Odorico Monteiro, Danilo Forte e outros.

Hoje, ainda abriga lideranças de expressão nacional. O prefeito de Recife, João Campos, a deputada federal Tabata Amaral e o ministro da Justiça, Flávio Dino, estão nesse grupo. O próprio vice-presidente da República e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, é pessebista. 

História

Em 1990, o PSB ganhou um reforço de peso: de saída do antigo PMDB, o então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, passou a reforçar os quadros socialistas. Essa adesão ditou pelo menos as duas décadas seguintes do partido.

Em 1993, torna-se o presidente nacional da legenda. No ano seguinte, é eleito governador de Pernambuco pela terceira vez, junto a João Capiberibe (Amapá). O PSB também levou Ademir Andrade (Pará) para o Senado em 1994.

Daí, o partido registrou um crescimento constante. Em 2000, elegeu 133 prefeitos, a maioria em Pernambuco. Em 2024, já foram 174. Em 2008, novo aumento, para 310. Em 2012, um recorde: 440 prefeitos eleitos, incluindo Roberto Cláudio.

Em 2016, contudo, o PSB começou a viver um momento de regressão com a morte de Eduardo Campos, ainda durante a campanha presidencial. Quase dez anos após o trágico acidente, o partido manteve certa influência, sobretudo no reduto Pernambuco.

No Governo Bolsonaro (2019-2022), atuou como oposição, postura que se consolidou no pleito do ano passado. O PSB chegou a ensaiar uma federação com o PT e o PCdoB, mas recuou do arranjo. Contudo, seguiu apoiando a investida petista, formando chapa com o agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Geraldo Alckmin, filiado há pouco mais de um ano ao PSB, é vice-presidente.

PSB Ceará, hoje

Atualmente, o partido é coordenado no Ceará por Eudoro Santana, empossado em agosto deste ano. Desde abril, quem comandava o PSB era Sérgio Rufino. Ele foi antecedido pelo ex-deputado e atual diretor na Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), Denis Bezerra.

A agremiação deve seguir caminho diferente de 2022 em 2024. No ano passado, apoiou a chapa encabeçada pelo PDT ao governo cearense, apesar de o PSB nacional disputar a eleição ao Planalto com o PT. Já para o próximo ano, os pessebistas devem caminhar lado a lado com os petistas, seja compondo chaves ou apoiando os candidatos indicados.

O suporte do PSB, de toda forma, é considerável. A sigla recebeu em 2022, por exemplo, R$ 267 milhões em Fundo Eleitoral, fora o robusto Fundo Partidário. 

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O partido governa, por exemplo, Caucaia (Vitor Valim), Maranguape (Átila Câmara) e outros. Até fevereiro deste ano, o PSB ocupava a vice-prefeitura de Fortaleza, com Élcio Batista. Este, contudo, deixou o partido para embarcar no PSDB, que preside atualmente no Ceará.