Com a oficialização de pré-candidaturas e o término da janela partidária para vereadores, as legendas já têm em seu horizonte um desenho pré-definido de como vai se dar a disputa pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. Para o pleito de outubro, ao menos sete pré-candidaturas para o Executivo já foram anunciadas.
A partir de agora, visando obter resultados eleitorais positivos, todas elas terão como desafio a construção de chapas proporcionais. E, neste trabalho, o redimensionamento propiciado pelas migrações partidárias na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), bem como a articulação com lideranças de siglas aliadas, tem toda relevância.
Estão como pré-candidatos o prefeito José Sarto (PDT), o deputado estadual Evandro Leitão (PT), o deputado federal André Fernandes (PL), o senador Eduardo Girão (Novo), o ex-deputado federal Capitão Wagner (União), o produtor cultural Técio Nunes (PSOL) e a ambientalista Cindy Carvalho (Rede). Os dois últimos nomes, no entanto, devem ser objeto de disputa interna, por conta das regras que organizam o funcionamento das federações.
Consultada pelo Diário do Nordeste, a doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Mariana Andrade, afirma que, além do fortalecimento das bases, "o tamanho das bancadas significa direcionamento mais específico dos recursos de campanha".
"No caso das eleições municipais, uma bancada mais robusta implica em demonstração clara do poder de articulação e maior apoio de outras personalidades políticas já consolidadas", completou a docente.
André Lima, professor de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (Uece), explica a articulação por outro prisma. Ao que argumentou, a disputa proporcional é definida na "micropolítica das relações interpessoais". "Sendo assim, quem consegue mais apoios desse tipo geralmente tem mais chances na disputa eleitoral para o executivo", agregou.
Essa característica explicaria a movimentação vista em decorrência da janela eleitoral. "Observando o cenário pós as movimentações da janela partidária, vimos que 24 dos 43 vereadores, ou seja, mais da metade dos atuais vereadores mudou de partido", lembrou.
Sarto em busca da reeleição
O bloco de apoio do atual ocupante da cadeira, pelo que tem divulgado o grupo político de Sarto, que quer se reeleger, deve ir para as urnas com pelo menos 9 legendas. A maioria delas de dimensões pouco expressivas nacionalmente. O Partido Democrático Trabalhista (PDT), sigla do mandatário da Capital, deve contar com a parceria do PSDB, Agir, Mobiliza, Cidadania, Avante, PMB, PRD e DC.
Para Andrade, ao ter legendas menores ao seu lado, "o prefeito José Sarto tenta demonstrar coesão em meio ao caos da recente debandada".
Trata-se de uma estratégia onde todos ganham: ao reunir partidos pequenos, o PDT amplia seu apoio e mostra que o capital eleitoral ainda está em alta. Para os partidos pequenos, demonstrar apoio ao PDT, consiste na ampliação das chances de sobrevivência política para as próximas eleições de 2026.
Com exceção do DC, todos possuem representação na Câmara Municipal, totalizando um quantitativo de 24 parlamentares na bancada governista.
Segundo o presidente do PRD no Ceará, o vereador Michel Lins, o projeto de montagem da agremiação foi liderado por ele, com a sinalização do prefeito para que, após o prazo de filiação, um "conjunto de ações" seria criado para fortalecer diretamente todos os partidos e pré-candidatos ligados a ele. "Ele já iniciou logo após a passagem do prazo", disse.
"Essas ações, naturalmente, diretamente ligadas a ações da Prefeitura, atendendo as demandas naturais da população, que ele já tem feito na cidade como um todo, mas, que neste momento, é natural que faça um fortalecimento para aqueles diretamente ligados a ele", destrinchou.
Uma das tucanas da Casa, a vereadora Cláudia Gomes (PSDB) revelou que, até o momento, 69 pré-candidatos já foram colocados pela federação que seu partido compõe junto com o Cidadania. "Vamos fechar a chapa com 44 pré-candidatos", acrescentou Gomes, salientando que o agrupamento definirá os critérios de seleção para chegar ao número máximo permitido.
A perspectiva, segundo descreveu, é que o PSDB siga na vice e a federação consiga eleger entre 4 a 5 parlamentares para a próxima legislatura da Câmara Municipal. "Estamos fazendo esse processo com muito diálogo entre os partidos", finalizou.
A reportagem procurou o líder do prefeito Sarto na CMFor, Iraguassú Filho (PDT), para tratar das articulações no Legislativo municipal visando a eleição de outubro. No entanto, não houve retorno.
Coligação do PT quer refletir alianças de Elmano
O Partido dos Trabalhadores (PT), com a escolha de Evandro Leitão, no último domingo (21), foi um dos últimos a confirmar o nome que vai representá-lo nas urnas na disputa deste ano.
Pelo que alegam os aliados, a expectativa é que a coligação petista espelhe o arco de sustentação do Governo Elmano e conte com PV, PP, PSB, Republicanos, PCdoB, MDB, Podemos, Solidariedade e PSD.
Apesar de ocupar cargos no Estado, o PSOL não deve integrar o agrupamento. Além disso, PT, PSB, Republicanos e PSD são os únicos que possuem cadeiras no Parlamento municipal, somando 13 vereadores.
Questionada sobre a aposta das candidaturas em partidos que não possuem representação na legislatura atual, Mariana Andrade foi enfática: "Na corrida eleitoral vale praticamente tudo. Desde a articulação estratégica com partidos menores até a modulação de ideologia para a conquista de novos eleitores".
Ao apostar em siglas sem representatividade numérica na Câmara, muitas vezes desconhecidas para o grande eleitorado, partidos maiores angariam apoio com a promessa de maior sobrevivência política e, ao mesmo tempo, fazem parecer que o capital eleitoral permanece intacto.
A ampliação de lugares, no entanto, é uma premissa que está no horizonte da articulação de campanha, pelo que alegou a líder da oposição na CMFor, Adriana Almeida (PT). "A ideia é que a gente possa fazer vereadores do PT, PV e do PCdoB", disse.
A escolha de Evandro não foi uma unanimidade no PT, já que até o último momento da disputa o nome da ex-prefeita e deputada federal Luizianne Lins seguia no páreo. Para Almeida, que defendia o nome da ex-gestora, o caminho agora será a construção de uma "unidade" na sigla.
"Ainda vamos conversar internamente para ver como vai se dar essa participação nas eleições, mas o fato é que o candidato do PT hoje é o Evandro e temos que trabalhar para que a gente possa eleger essa candidatura", avaliou. O nome que ocupará a vice ainda está em aberto.
O Partido Social Democrático (PSD) é um candidato forte na briga pela participação na chapa majoritária, na condição de vice. Segundo o líder na Câmara, Danilo Lopes, existe um direcionamento por parte do Diretório Municipal de que os sociais-democratas optem pela aliança com o PT.
Questionado sobre a possibilidade do seu partido indicar o vice, ele salientou que "existe a intenção". "Mas (não há) nada definido", ponderou a liderança. Conforme frisou Lopes, o presidente da Executiva Municipal do PSD está "em constante diálogo" com Evandro Leitão.
A posição na chapa também é desejada pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), liderado na Câmara pelo vereador Léo Couto, aliado de primeira ordem de Evandro Leitão.
"Passada essa primeira etapa, onde os vereadores, os candidatos, escolheram os partidos e o jogo está começando a se desenhar para a corrida eleitoral pelo Executivo, o PSB agora deve conversar com todos os partidos da base aliada para ver a questão das chapas de vereadores", salientou.
Segundo Couto, o PSB está com 50 nomes à disposição. "Estamos discutindo a fortalecimento dessa chapa e acredito que o PSB, junto com os partidos da base aliada, vão começar a discutir a questão da chapa para disputar a eleição (para prefeito)", apontou o parlamentar.
PSOL-Rede discutem pré-candidaturas
Atualmente, dois parlamentares, Adriana Gerônimo e Gabriel Aguiar, ambos do PSOL, representam a federação formada pela legenda socialista junto com a Rede Sustentabilidade. Antes da janela partidária o partido voltado para a causa ambiental contava com Estrela Barros, que migrou para o PSD.
Embora estejam federados, ambos possuem pré-candidaturas próprias para o Paço Municipal. O PSOL indicou o produtor cultural Técio Nunes e a Rede colocou o nome da ambientalista Cindy Carvalho. A legislação eleitoral só permite que haja uma pessoa da federação concorrendo ao cargo de comando do Executivo da Capital.
Consultado, o presidente do PSOL Ceará, Alexandre Uchoa afirmou que a intenção do bloco é ampliar a bancada. "Com a federação, nossa tarefa é garantir uma chapa bem competitiva e também apresentá-la completa, preenchendo todas as vagas possíveis e garantir uma chapa bem diversa nas pautas tão importantes pra cidade", respondeu.
A que indicou o dirigente psolista, eles pretendem lançar nomes relacionados a sindicatos, ao serviço público, à pauta ambiental, à pauta feminista, à defesa dos direitos das pessoas LGBTQIA+, lideranças comunitárias, pessoas dos movimentos negros, pessoas com deficiência, defensores dos direitos humanos e povos de terreiro.
Uchoa, que assumiu também a presidência da federação no estado, discorreu ainda sobre o encaminhamento a ser tomado pelo grupo. "Tenho a tarefa de organizar a construção das federações em todos os municípios", alegou, defendendo que, pelas regras, o PSOL tem a prerrogativa de indicar o nome, mas defendeu a legitimidade da Rede em indicar outro nome para a cidade e para o debate interno.
A reportagem procurou a pré-candidata da Rede, para que pudesse se manifestar, mas não obteve nenhuma resposta até a última atualização desta matéria.
Direita se divide em três
A direita de Fortaleza já tem três pré-candidaturas colocadas, o que poderá representar uma disputa de preferência entre o eleitorado mais conservador. O ex-deputado federal Capitão Wagner (União), o deputado federal André Fernandes (PL) e o senador Eduardo Girão (Novo) são os nomes do espectro político.
Mariana Andrade discorda de uma ideia de que haverá uma "dispersão de votos". "Embora praticamente idênticos em ideologia, os três partidos desejam predominância eleitoral isolada, e escolheram nomes fortes e representativos da sigla", opinou.
"Quem conseguir chegar ao segundo turno, certamente pedirá apoio aos demais, mas não se trata de um pensamento prioritário. Hoje, o foco principal é vencer a disputa ainda no primeiro turno e, se não houver sucesso na tarefa, construir pontes de apoio para amealhar o eleitorado cuja inclinação ideológica torna o voto mais previsível", indicou.
Márcio Martins, vereador que passou a fazer parte das fileiras do União no início do mês e hoje é o único a ter cadeira na CMFor, destrinchou a estratégia do partido para a corrida eleitoral deste ano.
"O União Brasil tem uma chapa completa. Existem, inclusive, figuras importantes da política, ex-vereadores e ex-deputados. São nomes que já foram testados nas urnas e têm total condição de fazer uma boa representatividade no parlamento", citou.
Na opinião dele, o postulante da sua legenda estará no segundo turno. "Todos os números até aqui demonstram o Wagner em primeiro nas pesquisas. Teria que derreter absurdamente para não estar no segundo turno", concluiu.
Já Lima, docente da Uece, disse ver com dificuldade a viabilidade de algum nome mais à direita. "Fortaleza dificilmente elegerá algum identificado nitidamente com a direta, isso não quer dizer que a direita é fraca na cidade, mas que nunca foi maioria", disse, lembrando de Moroni Torgan e o próprio Wagner, que chegaram a ir para o segundo turno em diversas eleições majoritárias, mas nunca ganharam o pleito.
"Se fosse apostar, diria que o segundo turno tende a ser entre Sarto e Evandro Leitão. O PL de André Fernandes perdeu 4 vereadores na janela partidária e sai enfraquecido, e o União Brasil, de Wagner, perdeu dois. Já o Novo, de Eduardo Girão é quase irrelevante na Câmara", finalizou.
O Partido Liberal (PL), apesar da baixa que teve, com a saída de quatro parlamentares na janela partidária, concentra três vereadores em sua bancada: Priscila Costa, Inspetor Alberto e Julierme Sena.
Acionada para que pudesse falar sobre a organização, a direção estadual não se manifestou. A mesma postura foi adotada pelo senador Girão, procurado através da sua equipe de comunicação.