Mensagens reveladas pela Polícia Federal nesta quarta-feira (3) mostram que o candidato a deputado estadual nas eleições de 2022 pelo PL-RJ, Ailton Barros, afirma conhecer o mandante da morte da vereadora e ativista Marielle Franco, no Rio de Janeiro. As informações são do g1.
Segundo a Polícia Federal, que trascreveu a mensagem do parlamentar, Ailton enviou áudio ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Bolsonaro, alegando saber quem mandou assassinar a vereadora.
"De repente, nem precisa falar com o cônsul. Na neurose da cabeça dele [Siciliano], que ele já vem tentando resolver isso a bastante tempo, manda e-mail e ninguém responde, entendeu? Então, ele partiu para a direção do do cônsul, que ele entende que é quem dá a palavra final. Mas a gente sabe que nem sempre é assim, né? Então quem resolva, quem resolva o problema do garoto, entendeu? Que tá nessa história de bucha. Se não tivesse de bucha, irmão, eu não pediria por ele, tá de bucha. Eu sei dessa história da Marielle toda, irmão, sei quem mandou. Sei a p*** toda. Entendeu? ", afirmou Ailton Barros.
Ailton Barros é um dos seis presos na operação da PF que apura um suposto esquema de fraude em dados de vacinação contra a Covid-19 envolvendo ajudantes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele é suspeito de participar na adulteração de vacinas de Bolsonaro, de Michelle Bolsonaro, e do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, também preso nesta quarta.
Segundo a PF, Mauro Cid teria se comprometido a ajudar a resolver um problema do ex-vereador do Rio de Janeiro (RJ) Marcello Moraes Siciliano, para conseguir o visto de entrada nos Estados Unidos, por conta das acusações de envolvimento de Siciliano no assassinato da vereadora Marielle Franco. Isso teria ocorrido após o ex-vereador ajudar Mauro Cid a conseguir um cartão de vacinação para a esposa.
Foi na troca de mensagens entre os envolvidos, ainda conforme a PF, que Ailton Barros revelou saber quem foi o mandante do assassinato de Marielle.
Quem é Ailton Barros?
Ailton Gonçalves Moraes Barros é ex-major do Exército e concorreu pelo PL a uma vaga como deputado estadual no Rio de Janeiro em 2022, segundo o Metrópoles. Ele se apresentava como “01 do Bolsonaro” na campanha.
Eleito suplente, Barros tem várias fotos em rede social ao lado do ex-presidente. Ele foi oficial da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), mas seguia carreira civil nos últimos anos. Em 2020, foi candidato a vereador pelo PRTB.
Em março de 2022, Barros foi exonerado de um cargo de assessor que ocupava na Casa Civil do governo do Rio de Janeiro.
Dados falsos de vacinação
A operação da Polícia Federal investiga um grupo suspeito de inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.
Com a inserção de dados falsos no sistema, segundo a PF, eram alteradas as informações de imunização dos beneficiários e "tais pessoas puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes imposta pelos poderes públicos (Brasil e Estados Unidos)", detalhou a Polícia Federal.
A investigação indica que o grupo buscava, assim, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid. A casa do ex-presidente em Brasília também foi alvo de buscas realizadas pelos policiais federais.
Segundo apuração da TV Globo e da GloboNews, teriam sido falsificados certificados de vacinação de: Jair Bolsonaro, da filha dele, Laura, do próprio Mauro Cid, da mulher e da filha dele do ex-ajudante. Isso garantiria a entrada de todos nos Estados Unidos. A ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, tomou vacina nos EUA.
Além de Mauro Cid, também foram alvos da PF, conforme o G1, o policial militar Max Guilherme, o militar do Exército Sérgio Cordeiro e o secretário municipal de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha. Os militares atuaram como assessores e seguranças durante o mandato de Bolsonaro.
A GloboNews informou que a PF apreendeu celulares de Bolsonaro e da ex-primeira dama, Michelle.
Conforme a PF, estão sendo cumpridos 16 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva, em Brasília e no Rio de Janeiro.
Operação Venire
A Operação Venire é parte do inquérito policial que apura a atuação das chamadas “milícias digitais”, em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF). A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Os fatos investigados configurariam:
- crimes de infração de medida sanitária preventiva;
- associação criminosa;
- inserção de dados falsos em sistemas de informação;
- corrupção de menores.
Segundo a PF, o nome da operação deriva do princípio “Venire contra factum proprium”, que significa "vir contra seus próprios atos", "ninguém pode comportar-se contra seus próprios atos". É um princípio base do Direito Civil e do Direito Internacional, que veda comportamentos contraditórios de uma pessoa.