Com a campanha eleitoral já a todo vapor, alguns deputados do PDT Ceará têm demonstrado insatisfação com critérios adotados pela cúpula do partido na divisão do Fundo Partidário, um dos principais mecanismos de financiamento das campanhas eleitorais. A legenda tem condicionado o repasse dos recursos apenas para candidatos que demonstraram apoio à campanha de Roberto Cláudio (PDT) para o Governo do Ceará.
Com essa decisão, parlamentares atualmente com mandato pela sigla ainda não receberam qualquer investimento financeiro do partido na disputa pela reeleição. Ao mesmo tempo, nomes estreantes nas urnas, mas que apoiam publicamente a candidatura majoritária do PDT, receberam montantes na ordem de R$ 50 mil.
Ao Diário do Nordeste, o deputado federal André Figueiredo (PDT), presidente da legenda no Ceará, confirmou a decisão, mas atribuiu a uma orientação da executiva nacional.
“Alguns candidatos que não manifestaram apoio à majoritária não estão recebendo ainda (os recursos). Por enquanto, não estão recebendo. Houve uma resolução nacional direcionada a todos os estados e que está sendo aplicada ao Ceará”
Em julho deste ano, o PDT oficializou uma resolução para impedir que candidatos da sigla façam campanha para adversários do partido. No documento, a legenda condena a realização de “propaganda a favor de candidatos que não sejam os indicados pelas convenções nacional e estaduais”, assim com a prática de “ato ostensivamente desfavorável a qualquer candidato do próprio partido”. Em outro trecho da resolução, torna passível de punição “desrespeitar ou omitir as chapas majoritárias do partido”.
Conforme André Figueiredo, no caso dos candidatos do Ceará, “quando declararem esse apoio, vão receber o recurso”. A decisão ocorre em meio a um momento turbulento do PDT do Ceará, que viu seus filiados divididos sobre a escolha de Roberto Cláudio ou Izolda Cela, atual governadora do Ceará, como candidato no pleito deste ano. André Figueiredo, no entanto, negou que isso tenha pesado na decisão. “Não tem absolutamente nada a ver”, reforçou.
Insatisfação
Apesar da declaração de Figueiredo, todos os deputados estaduais que ainda não receberam o Fundo Partidário assinaram, durante a pré-campanha, uma carta em apoio à candidatura de Izolda Cela. São eles: Bruno Pedrosa (PDT), Jeová Mota (PDT), Osmar Baquit (PDT), Romeu Aldigueri (PDT), Salmito Filho (PDT) e Tin Gomes (PDT). Na lista dos que ainda não foram contemplados tem até o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), Evandro Leitão (PDT).
Sob condição de anonimato, um dos parlamentares reclamou do critério adotado pela cúpula do partido. O principal foco de insatisfação é que mandatários em busca da reeleição não estão recebendo apoio financeiro, enquanto estreantes nas eleições receberam até R$ 50 mil.
Quem também lamentou a decisão da sigla foi o deputado estadual Osmar Baquit.
“Fiz o que podia, enviei uma mensagem perguntando os critérios dessa distribuição. Uns, que não são deputados, já receberam R$ 15 mil, R$ 20 mil, R$ 25 mil, enquanto nós, que somos deputados, não recebemos nada. Qual o critério? É voto? Se for, eu devo estar morto, porque fui eleito (em 2018) e não recebi nada”
Informado pelo Diário do Nordeste sobre a explicação de André Figueiredo, o deputado estadual e candidato à reeleição ironizou. “Engraçado, posso mandar umas 20 imagens de deputados que dizem apoiar Roberto Cláudio e não tem nenhuma propaganda com Ciro. O meu material, no meu CNPJ, tem Roberto e Ciro”, disse.
“Agora, se um prefeito vota em mim e no Elmano, se ele publica isso nas redes sociais dele, não é da minha conta, não posso fazer nada, não é meu CNPJ. Enfim, quero dizer que lamento muito, até porque não tem nenhum ato meu com Elmano, pedindo voto para o Elmano”, concluiu Baquit.
Sanções internas
No último sábado (27), uma comissão interna do PDT Ceará já havia decidido estabelecer sanções contra o deputado estadual e candidato à reeleição Jeová Mota.
O político foi acusado por uma correligionária de fazer campanha em prol de ao menos quatro candidatos do PT. O parlamentar deve apresentar a defesa nesta quarta-feira (31).
“As postagens em redes sociais do filiado/candidato denotam clara desobediência a deliberação emanada de Convenção Estadual, na medida em que aquele realiza propaganda a favor de candidatos que não foram indicados pela Convenção Estadual do PDT/CE para as Eleições 2022 (Presidente: Lula (PT), Governador: Elmano de Freitas (PT), Senador: Camilo Santana (PT) e Deputado Federal: Guimarães (PT)), e que compõem coligação que não é integrada pelo PDT, e nem apoiada por esta agremiação. Reforça-se a isso, o fato de que o PDT apresenta outros candidatos à Presidência da República (Ciro Gomes) e a Governador: Roberto Cláudio”, aponta o relatório do colegiado pedetista.
Na decisão, a comissão de fiscalização suspendeu o repasse do fundo partidário e do fundo especial de financiamento de campanha para o parlamentar. O colegiado determinou ainda a suspensão da propaganda eleitoral do candidato durante a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Por fim, ordenou que Jeová se abstenha de participar de quaisquer atos de campanha eleitoral ou produzir material de campanha de outras coligações que não a liderada pelo PDT.