A Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) e a Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) repercutiram a tragédia que ocorreu, na manhã desta terça-feira (23), no Instituto José Frota (IJF), em Fortaleza, e cobraram respostas do hospital sobre o caso. A Alece oficiou a unidade com pedido sobre as providências e medidas de responsabilização adotadas após o assassinato brutal de um funcionário dentro da unidade de saúde e do ferimento de outro profissional.
O despacho foi feito por meio da Comissão de Previdência Social e Saúde da Casa, de iniciativa da deputada Dra. Silvana (PL), e foi assinado pelo presidente do colegiado, deputado Guilherme Landim (PDT).
O requerimento direcionado ao superintendente do IJF, José Maria Sampaio Menezes Júnior, ainda diz que o Parlamento Estadual lamenta o ocorrido e coloca-se à disposição para contribuir no que for possível, a fim de "garantir uma maior segurança a todos que utilizam diariamente este equipamento de saúde" no Ceará. Como resume Landim, a intenção é "acompanhar o caso de perto".
"Não existe justificativa lógica ou aceitável que a biometria do assassino tenha permanecido ativa, e ainda entrar armado mostra uma falha absurda que expõe funcionários e pacientes. Há tempos o Sindicato dos Médicos solicita reforço e garantia na segurança do hospital. Toda a população que usa o hospital está exposta", disse Silvana ao Diário do Nordeste.
Durante a sessão plenária desta terça, a deputada ainda defendeu a utilização de métodos de reconhecimento facial como maneira de garantir a segurança de pacientes e funcionários da unidade.
Mudança no secretariado
Antes de ser divulgada a informação de que o assassinato no Instituto José Frota foi um 'crime passional' cometido por um ex-funcionário, deputados foram à tribuna criticar as medidas adotadas pelo Governo do Ceará na área de Segurança Pública.
Eles citaram também o jovem que foi assassinado dentro de uma escola municipal no bairro Passaré, também nesta terça-feira. Sargento Reginauro (União Brasil) citou problemas enfrentados com facções criminosas no Ceará — semelhante ao feito pelo prefeito José Sarto.
"O que está acontecendo no Ceará? O que está acontecendo com o senhor governador Elmano de Freitas? Alguém me responda onde está o governador que não viu ou não está querendo ver. Não dá para chamar de inépcia, não dá para chamar de incompetência. É desumano o governador não tomar uma atitude para resolver esse problema", disse o parlamentar.
Ele também criticou o titular da pasta de Segurança Pública do Governo do Ceará, Samuel Elânio. "Não sabe o que está fazendo, qual é a iniciativa, qual é o plano", disse. "No Ceará, estamos vivendo essa tragédia e o governador do Estado parece que nem manda no seu secretariado. Deve ser iss. Não tem autonomia para retirar o secretário, não tem autonomia para mudar o secretário".
Felipe Mota (União Brasil) concordou com a crítica. "Será que não está na hora de chegarmos, nós da oposição, sentarmos com a base e vermos que esse secretário não teve nenhum projeto para vocês defenderem nessa Casa", disse o parlamentar. Ele apontou ainda que a segurança do IJF é de responsabilidade da Prefeitura de Fortaleza.
Líder do Governo Elmano na Assembleia Legislativa, Romeu Aldigueri (PDT) criticou o que chamou de "oportunismo político" na fala dos deputados da oposição. "Só lamentar o nível de oportunismo político que ocorre em meio a casos que gerem revolta e comoção pública. Não se resolve a questão da violência com bravatas e com oportunismo, principalmente se aproveitando de um ano de eleição", disse.
Repercussão na Câmara
Na Câmara Municipal de Fortaleza, os vereadores também repercutiram o assassinato de um funcionário do IJF. Líder do prefeito na Casa, Iraguassú Filho (PDT) disse que convive com a sensação de insegurança e associou a violência do crime às facções criminosas, mesma tese apontada pelo por Sarto antes da Polícia Civil colher detalhes do crime, indicando motivação passional.
"Esse sentimento de insegurança pública, é um sentimento que a gente precisa que nossos representantes da segurança pública, que é do Estado, não estou eximindo a prefeitura, não, que é consorciada, mas a responsabilidade constitucional é do Governo do Estado. Há poucas semanas uma obra da Prefeitura de Fortaleza teve máquinas queimadas, e os funcionários da empresa tiveram suas atividades interrompidas, por conta de quê? Facção, insegurança pública", ressaltou o parlamentar.
Integrante da oposição ao prefeito na Câmara, o vereador Júlio Brizzi (PT) lamentou a postura de Sarto por tentar se "eximir da responsabilidade", uma vez que o ato ocorreu dentro do Instituto Doutor José Frota.
"Lamentar a postura do prefeito que foi às redes sociais, não sentiu nenhum pesar, não se responsabilizou por nada, não falou objetivamente do IJF, que é um equipamento público municipal, e o que aconteceu foi lá dentro do IJF, dentro da copa. Não dá para o prefeito da Cidade se eximir de responsabilidade do que acontece na cidade, agora pela manhã foi morto um adolescente de 16 anos dentro de uma escola lá no Gereba, aqui em Fortaleza", afirmou Júlio Brizzi.
Segundo o secretário da Segurança Pública do Ceará, Samuel Elânio, o suspeito é ex-funcionário da unidade e ainda tinha o reconhecimento facial na entrada do hospital ativo, o que possibilitou a entrada.
Primeiro vice-presidente da Casa, Paulo Martins (PDT) disse que a oposição estava tentando "colocar o problema da violência" à Prefeitura.
"Pelo que a gente viu foi uma execução, um indivíduo que entrou no hospital e, se ele não matasse esse outro indivíduo ali no IJF, ele iria matar em outro local", afirmou o parlamentar.
Logo em seguida, o vereador Léo Couto (PSB), que também integra a oposição de Sarto, rebateu, alegando que "tudo de ruim que acontece a culpa é do governador". Ele sugeriu, ainda, que o superintendente do hospital vá à Casa prestar esclarecimentos sobre falhas na segurança do local.
"Eu acho importante a gente chamar o diretor do hospital para saber o que houve, porque a responsabilidade também é do hospital, também é do prefeito", defendeu.
Guerra de narrativas
Após tomar conhecimento do crime no IJF e de outro homicídio em uma escola no bairro Passaré, o prefeito José Sarto (PDT) usou as redes sociais para criticar “a paralisia do Governo do Estado no combate às facções”, apontando que “não parece ser apenas incompetência, mas também cumplicidade”. O gestor afirmou, ainda, que acionou as Secretarias de Segurança Cidadã, Educação, Saúde e Direitos Humanos “para dar todo o suporte aos familiares das vítimas e aos trabalhadores”.
Em resposta a Sarto, o Secretário de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Samuel Elânio, disse o caso do IJF "não se trata de segurança pública". Segundo ele, o crime teria sido motivado por ciúmes e cometido por um ex-funcionário do hospital, desligado em 2022, mas que ainda tinha acesso à unidade por reconhecimento facial. O homem já foi identificado e é procurado pelas forças de segurança. A companheira dele também trabalha no hospital.
O governador Elmano de Freitas (PT) também comentou o caso. Ele afirmou que a responsabilidade da segurança, dentro do hospital, é da Prefeitura, mas garantiu que o Estado irá agir para investigar o caso e prender o criminoso.
"Nós não fazemos a segurança pública dentro dos equipamentos, fazemos fora dos equipamentos. Efetivamente no hospital tem equipe de vigilância, tem guarda municipal, o que se imagina é que nesses ambientes a guarda municipal e a força de vigilância contratada pela Prefeitura resguarde a segurança pública dentro do seu hospital", afirmou Elmano, em coletiva de lançamento do serviço “Empresa Mais Simples: Abre no Zap”.
"Infelizmente, não foi o que aconteceu. Uma pessoa perdeu a vida. Mas eu acho que a nossa tarefa agora é investigar, identificar exatamente a pessoa e prendê-la. Esse é o nosso desafio nesse momento", concluiu o governador.