A agenda que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cumpriu nesta sexta-feira (13), em Juazeiro do Norte, teve ares de campanha eleitoral para 2022 não só dele, que deve disputar a reeleição, mas de seus aliados no Ceará. De olho no ano que vem, Bolsonaro mira em ações para o Nordeste, onde teve pior desempenho em 2018, ao mesmo tempo em que correligionários buscam fortalecer oposição no Estado.
Os discursos e gestos do presidente e de seus auxiliares, durante a inauguração de um residencial em Juazeiro do Norte, foram recheados de contornos políticos. A ofensiva que vem sendo feita por Bolsonaro no Nordeste faz parte da estratégia de tentar se aproximar da região que é reduto tradicional do PT.
Foco nos nordestinos
Durante o evento, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, enfatizou a realização de obras hídricas no Nordeste para garantir água, como a conclusão da Transposição do Rio São Francisco que atende estados como o Ceará.
Bolsonaro, por sua vez, listou no seu discurso medidas sociais como o aumento do Bolsa Família, que vai passar a se chamar Auxílio Brasil, e o decreto que zerou impostos federais sobre o gás de cozinha.
No entanto, o destaque foi para a reformulação do Bolsa Família. Afinal, a proposta tem impactos diretos em famílias pobres do Nordeste que dependem dessa única renda para sobreviver, e é uma das principais bandeiras políticas ligadas à gestão do ex-presidente Lula, principal adversário de Bolsonaro.
Além disso, na tentativa de aproximação com o Nordeste, Bolsonaro voltou bater na tecla de que a família de sua esposa é do Ceará e, no fim do discurso, fez a famosa vaia cearense para uma plateia de apoiadores, exaltando bandeiras da eleição de 2018.
"(Eu sou) um presidente que acredita em Deus, respeita seus militares, que defende a família e um presidente que deve lealdade ao seu povo", disse.
Nenhum gesto ou fala é à toa. Bolsonaro estava na região do Cariri, que é berço político do governador Camilo Santana, seu adversário político, e na terra onde Ciro Gomes (PDT) teve melhor desempenho eleitoral em 2018, outro provável adversário na eleição presidencial de 2022.
Aliados no Ceará
Mas a agenda não foi estratégica apenas para Bolsonaro. Uma comitiva de parlamentares que está de olho na eleição de 2022 e busca capital político para tentar se caficar no ano que vem, acompanhou o presidente da República, desde a saída em Brasília.
Acompanhavam Bolsonaro na comitiva presidencial os deputados federais Capitão Wagner (Pros), Pedro Bezerra (PTB) e Dr. Jaziel (PL); os deputados estaduais André Fernandes (Republicanos), Delegado Cavalcante (PTB) e Drª Silvana (PL), além do vereador de Fortaleza, Carmelo Neto (Republicanos).
A maioria vai disputar a reeleição e outros vão tentar vaga na Assembleia Legislativa ou na Câmara dos Deputados. O deputado Capitão Wagner foi um dos que mais se mostrou próximo a Bolsonaro e recebeu apoio, indiretamente, do presidente em eventual candidatura a governador do Estado em 2022.
"Eu não acho, tenho certeza. Assim como o Brasil tem um capitão, o Ceará terá brevemente um capitão também", disse Bolsonaro.
Capitão Wagner é a principal liderança da oposição ao grupo governista no Estado. Ele já tem se colocado como pré-candidato a governador em 2022. No entanto, o apoio do presidente, que tem a máquina federal, ao seu nome lhe dá certa musculatura para a sucessão estadual.
Fortalecer bases
Outros parlamentares aliados admitem que as investidas de Bolsonaro em ações no Nordeste fortalecem as suas bases eleitorais para o ano que vem.
"Esse evento fortalece. A presença de Bolsonaro é importante para ele e para nós. Ele precisa trabalhar muito aqui, temos interesse profundo na nossa terra. Quanto mais ele vier aqui, trazendo ações, inaugurações, desenvolvimento, isso é importante", disse Jaziel.
Para a deputada estadual Drª Silvana (PL), esposa do deputado federal Dr. Jaziel, o evento dá o pontapé para a sua campanha à reeleição em 2022.
"Só nos anima mais. Essa pré-campanha já iniciou, pelo menos, para mim. Sinto esse momento como divisor de águas para o Ceará".
A secretária de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde, cearense Mayra Pinheiro, que já foi candidata a senadora do Estado em 2018, participou da comitiva presidencial. Ela evitou falar sobre a eleição de 2022, mas disse que pode cogitar disputar uma vaga, dessa vez, para deputada federal.
"Hoje não tendo intenção de disputar mandato de senadora, se fosse disputar alguma coisa, seria um cargo na Câmara Federal. Já recebi convites para me filiar, mas, no momento, meu cargo é técnico e quero desvincular da atuação política", afirmou Mayra.