Em entrevista ao Fantástico neste domingo (06), a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, compartilhou detalhes de seguidos episódios de assédio e importunação sexual cometidos pelo ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Até a última sexta-feira (04), quando uma entrevista com a ministra foi publicada na revista Veja, ela ainda não havia se manifestado publicamente sobre o assunto.
À Rede Globo, Anielle destacou que optou pelo silêncio porque precisou se resguardar após a exposição das situações de violência que sofreu.
"Nenhuma situação de violência é fácil, ainda mais para quem vive, para quem está ao redor. No primeiro momento, eu optei pelo silêncio. A exposição indevida faz com que a gente repense, pense. Tem uns estágios ali que fazem você se sentir culpada, você se sentir vulnerável e eu decidi que eu falaria primeiro nas instâncias devidas", declarou.
A ministra ainda relembrou que esta foi a segunda vez em que teve que depor após uma situação de violência. A primeira foi quando sua irmã, Marielle Franco, foi assassinada a tiros em março de 2018, no Rio de Janeiro, junto ao motorista Anderson Gomes.
As entrevistas da ministra foram concedidas após ela prestar depoimento à Polícia Federal na última quarta-feira (02). Segundo Anielle, o depoimento fez com que ela relembrasse de todos os momentos e atos de violência que viveu - inclusive a morte da irmã, já que essas foram as únicas duas situações em que ela precisou prestar depoimento às autoridades.
"É uma outra violência, que não se compara, em hipótese nenhuma, mas ainda assim é uma violência. Ainda assim, eu precisei refletir, pensar, viver tudo que tinha acontecido de novo. Mas eu sabia que não era só por mim também. Era, sim, pela Anielle que foi vítima, mas era pela Anielle também ministra de Estado, que precisa inspirar e cuidar de outras mulheres".
Ao Fantástico, Anielle ressaltou que nunca teve nenhum tipo de relação com Sílvio antes de os dois integrarem o governo do presidente Lula e que, desde que começou a trabalhar na gestão com ele, nunca teve nenhuma intimidade com o ex-ministro "nem deu nenhuma condição para ele fazer o que ele fez".
"A gente precisa parar de normalizar quando alguma mulher fala que passou ou sofreu alguma coisa desse tipo. De falar 'ah, mas será que ela não deu condição?'. Será nada. A vítima é a vítima. A palavra da mulher precisa valer", destacou.
Ex-ministro nega acusações
Na época em que as denúncias de assédio sexual envolvendo Anielle e outras vítimas vieram à tona, Silvio Almeida emitiu uma nota negando as acusações e repudiando com "absoluta veemência as mentiras" imputadas a ele. Segundo o ex-ministro, as denúncias são "ilações absurdas com o único intuito de me prejudicar, apagar nossas lutas e histórias, e bloquear o nosso futuro".
"Confesso que é muito triste viver tudo isso, dói na alma. Mais uma vez, há um grupo querendo apagar e diminuir as nossas existências, imputando a mim condutas que eles praticam. Com isso, perde o Brasil, perde a pauta de direitos humanos, perde a igualdade racial e perde o povo brasileiro", afirmou, à época.
O ex-titular do MDH também afirmou que encaminharia ofícios pedindo "apuração cuidadosa do caso" à Controladoria-Geral da União, ao Ministério da Justiça e à Segurança Pública e Procuradoria-Geral da República (PGR).