De prisão à perda de mandato, o que houve com os vereadores mais votados em Fortaleza desde 1988

O Diário do Nordeste relembra quem foram os nove parlamentares mais votados no Ceará desde 1988

Major Edmilson, Sérgio Benevides e Nelba Fortaleza, esses nomes podem parecer desconhecidos para o eleitor fortalezense, mas já foram “sucesso de votos” entre eleitores da Capital. Desde o fim dos anos 1980, os parlamentares mais votados do Município tiveram diversos destinos: um que foi preso, outro que chegou a ser cassado, alguns que viraram deputados e outro que quase virou prefeito.

Na prática, para alguns, ser o vereador mais votado de Fortaleza foi só o primeiro passo para uma carreira de sucesso na política. Para outros, foi o auge do trabalho na vida pública. O Diário do Nordeste relembra quem foram os nove parlamentares mais votados no Ceará desde 1988.

Confira os vereadores mais bem votados em cada pleito desde os anos 1980: 

Major Edmilson Fernandes (1988)

  • Votação: 7.034

Egresso das forças da segurança pública, Major Edmilson era político conhecido na Capital e tinha nos grupos militares sua principal base eleitoral. Em 1988, na primeira eleição para vereadores pós-redemocratização, o parlamentar recebeu 7.034 votos. 

Ele foi reeleito no pleito de 1992, mas não repetiu o mesmo sucesso nas urnas. Major Edmilson ainda disputou outros pleitos, como em 2000, 2004 e 2008, mas acabou não sendo eleito.

José Sérgio Teixeira Benevides (1992)

  • Votação: 6.029

Sob influência política de seu sogro, o então prefeito de Fortaleza Juraci Magalhães, Sérgio Benevides foi recordista de votos na eleição de 1992, somando 6.029. Ele já havia exercido a função anteriormente na Capital e ainda conseguiu se reeleger no pleito de 1996. 

O parlamentar ainda foi eleito deputado estadual, mas acabou cassado do cargo em 2004 por quebra de decoro parlamentar. O político foi condenado por desvio de recursos destinados à merenda escolar pela Prefeitura de Fortaleza. Em 2014, o ex-parlamentar chegou a ser preso por suspeita de participar da venda ilícita de um imóvel localizado no bairro Papicu. Atualmente, o ex-vereador é empresário. 

Patrícia Lúcia Saboya Ferreira Gomes (1996)

  • Votação: 21.839

Ex-primeira-dama do Ceará e de Fortaleza, entre 1989 e 1994, Patrícia Saboya foi eleita vereadora de Fortaleza em 1996 somando 21.839 votos, sendo a parlamentar mais votada daquele pleito na Capital. A candidata à época recebeu apoio do então marido, o ex-governador Ciro Gomes (PDT).

Aquele, no entanto, era só o início da vida pública de Patrícia Saboya. Ela ainda exerceu dois mandatos de deputada estadual e foi senadora pelo Ceará entre 2003 e 2011. Desde 2014, a ex-vereadora é conselheira do Tribunal de Contas do Ceará (TCE) por indicação de seu ex-cunhado, o então governador Cid Gomes (PDT). 

José Maria Couto (2000)

  • Votação: 16.257

Ex-presidente da Câmara de Fortaleza, José Maria Couto foi um dos mais conhecidos parlamentares da Casa. Exemplo disso foi sua votação em 2000, quando atingiu 16.257 votos, sendo o mandatário que mais somou apoio dos eleitores nas urnas.

Couto exerceu cinco mandatos no Legislativo municipal, tendo cadeira na Casa de 1982 a 2004. O político, atualmente, tem um herdeiro político, seu filho, o vereador Léo Couto (PSB), ex-vice-líder do Governo Sarto (PDT), mas que agora integra uma frente oposicionista.  

Nelba Fortaleza (2004)

  • Votação: 15.562

Eleita pela primeira vez em 2000, a vereadora Nelba Fortaleza foi reeleita em 2004 com recorde de voto naquele pleito em Fortaleza, chegando a 15.562. Afilhada do ex-prefeito Juraci Magalhães, Nelba recebeu as bênçãos do padrinho para disputar a preferência da população.

Depois do bom desempenho eleitoral, ela não disputou mais eleições. A mandatária atuava na área de moradia e acabou sendo condenada pela Justiça Eleitoral por suposta compra de votos nas eleições de 2004. Ela foi acusada de prometer e distribuir apartamentos a pessoas carentes. Anos depois, ela foi inocentada.

João Alfredo Telles (2008)

  • Votação: 14.917

Deputado estadual por três legislaturas (1987 a 1990; 1995 a 1998 e de 1999 a 2000) e deputado federal de 2003 a 2006. O advogado e militante João Alfredo Telles foi eleito vereador de Fortaleza com 14.917 votos em 2008, sendo o mais votado no pleito daquele ano. 

João Alfredo foi um dos fundadores do PT no Ceará e, desde 2005, é filiado ao Psol. Atualmente, o ex-parlamentar é superintendente do Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace).

Capitão Wagner (2012)

  • Votação: 43.655

Atual secretário da Saúde de Maracanaú, o ex-deputado federal Capitão Wagner foi o vereador mais votado da história de Fortaleza. Em 2012, na esteira do motim da Polícia Militar daquele ano, à época durante o Governo Cid Gomes (PDT), Wagner atingiu 43.655 votos.

Desde então, o político tem acumulado resultados positivos nas disputas por vagas no Legislativo, sendo deputado estadual entre 2014 e 2018, além de deputado federal entre 2019 e 2023. Já no Executivo, o político acumula derrotas tanto para Prefeitura de Fortaleza quanto para o Governo do Ceará.

Célio Studart (2016)

  • Votação: 38.278

Advogado ambientalista, o hoje deputado federal Célio Studart estreou na política com um resultado expressivo, sendo o vereador mais votado de Fortaleza em 2016, com 38.278 votos. O mandatário, no entanto, ficou apenas dois anos na Casa e, em 2018, disputou eleição para deputado federal, sendo o segundo mais votado do Estado. 

Em 2020, ele disputou a Prefeitura de Fortaleza, mas acabou o pleito em quinto lugar na disputa. O político foi reeleito deputado federal em 2022, sendo o terceiro candidato mais votado do Ceará para Câmara dos Deputados. 

Ronaldo Martins (2020)

  • Votação: 31.840

O mais recente recordista de votos, no pleito de 2020, é o hoje vereador Ronaldo Martins. Ele somou 31.840 nas últimas eleições municipais. A principal base eleitoral do mandatário é o segmento evangélico. O político iniciou na vida pública em 2001, quando foi eleito vereador de Caucaia.

Ele também foi deputado estadual por três legislaturas consecutivas, de 2003 a 2014. Em 2014, foi eleito como deputado federal, função para a qual não foi reeleito em 2018, mas acabou assumindo como suplente em três ocasiões. Já em 2020, além de ter sido o candidato a vereador de Fortaleza mais votado daquele ano, foi o único que atingiu o quociente eleitoral.

O segredo do sucesso

Líder de votos no último pleito, Ronaldo Martins (Republicanos) afirma que aquela campanha foi especialmente desafiadora por conta da pandemia. 

“Não foi fácil porque muitos acessos aos eleitores foram limitados, os locais de grande público estavam fechados, a campanha no Centro de Fortaleza e nos terminais também era cheia de restrições, mas conseguimos conquistar mostrando nosso trabalho, nossa dedicação, e dando atenção ao eleitor”
Ronaldo Martins (Republicanos)
Vereador mais votado de Fortaleza em 2020

Para o parlamentar, uma das chaves daquela eleição foi saber fazer bom uso das redes sociais para chegar ao eleitorado. “Hoje, vejo a importância das redes sociais e da campanha corpo a corpo como iguais, 50% para cada”, aponta.

Mais que o bom desempenho nas urnas, a trajetória política desses ex-vereadores deixam claro critérios adotados pelos eleitores na escolha diante das urnas. Além de evidenciar mudanças nos parâmetros de voto.  

Essa avaliação é feita por um parlamentar que conviveu com todos esses vereadores desde a redemocratização: o decano da Casa Carlos Mesquita (PDT). O pedetista está em seu nono mandato no Legislativo municipal.

“Entendo a política como um ditado que diz que ‘quando um cavalo passa selado é preciso aproveitar’. Todo mundo tem um momento, aquele momento é o dele, tem que montar e ir embora”, afirma o vereador sobre o bom desempenho de seus ex-colegas de parlamento.

De acordo com o pedetista, que não chegou a ser o mais votado em nenhum desses pleitos, mas acumula mais mandatos que qualquer outro vereador de Fortaleza, o segredo para a longevidade política é a proximidade com a população.

“Tem que estar bem com a comunidade, realizar obras, adquirir lideranças e associações para espalhar o trabalho. No passado tinham os redutos, cada vereador tinha seu bairro, como eu era identificado pelo Álvaro Weyne”, aponta.

Novos desafios na busca pelo eleitor

Contudo, Mesquita um “novo momento” da política em que a identificação com uma comunidade ou um bairro específico deu lugar a “bandeiras” e uma “disputa federalizada”. 

O parlamentar lista, por exemplo, o bom desempenho recente de nomes como Capitão Wagner, muito identificado com a segurança pública; Célio Studart, com a causa ambiental; e Ronaldo Martins, que tem um eleitorado evangélico fiel.

“Mesmo o voto para vereador passou a ser vinculado ao voto para governador, presidente ou senador. Antigamente, o vereador tinha que estar alinhado ao prefeito, não tinha toda essa relação nacional, hoje, o vereador precisa estar antenado a tudo, conquistar o voto ficou mais difícil”
Carlos Mesquita (PDT)
Líder do Governo Sarto na Câmara e decano da Casa

Ronaldo Martins concorda com essa avaliação. “Essa mudança é evidente, as pessoas querem ser representadas em todas as áreas hoje em dia, não só pelo bairro. Elas querem alguém que defenda a família, suas ideias, seus pensamentos e faça proposições alinhadas a isso, tanto que eu mesmo tirei votos em todos os bairros de Fortaleza”, conclui.