Luiz Paulo Dominguetti, representante da Davati Medical Supply no Brasil que, segundo denúncia da Folha de S. Paulo, teria recebido pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina para o fechamento de um contrato com o Governo Federal, será ouvido na CPI da Covid-19 na próxima sexta-feira (2).
Informação foi confirmada pelo presidente da Comissão Omar Aziz (PSD-AM), após o vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentar requerimento na noite desta terça-feira (29), junto a Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
A proposta teria sido feita, segundo o representante, por Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística do Ministério da Saúde (MS), durante uma reunião em Brasília no dia 25 de fevereiro. A denúncia foi publicada pelo jornal na noite desta terça.
A farmacêutica americana representada por Dominguetti teria procurado o MS para negociar 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca/Oxford inicialmente a US$ 3,5 cada.
Entretanto, a AstraZeneca informou, por meio de nota à TV Globo, que não possui intermediários de venda de vacina no Brasil. A farmacêutica afirma que as doses são viabilizadas no País por meio de acordos com os governos e organizações como o consórcio internacional Covax Facility.
Existência de "grupo do Ministério"
À Folha, Luiz Paulo Dominguetti relatou que Roberto Dias indicou que as negociações só seriam concretizadas se a Davato compusesse "um grupo" no Ministério.
Aí ele me disse que não avançava dentro do ministério se a gente não compusesse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério. Se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo
O acréscimo solicitado de US$ 1 geraria 200 milhões de doses em propina, resultando em um montante de R$ 1 bilhão, conforme Luiz Paulo.
Luiz Paulo afirmou que antes do encontro com Roberto Dias, ele esteve no Ministério para ofertar as vacinas e conversou com Elcio Franco, ex-secretário-executivo da Pasta. Segundo ele, a oferta foi recusada. O representante afirma que na véspera de deixar Brasília recebeu uma ligação de Roberto Dias.
Pressão
O representante farmacêutico contou ainda que mesmo após ele negar a proposta de Roberto Dias, o gestor insistiu que ele tirasse a noite "para pensar" após o jantar do dia 25 de fevereiro. Dias então marcou um encontro na sede do Ministério no dia seguinte. Luiz Paulo afirmou que a reunião não avançou.
Dias teria reiterado, na segunda vez que se encontrou com o vendedor, que não seria possível a pasta compras as vacinas caso não ocorresse a majoração de US$ 1 sobre as doses, para atender aos interesses do "grupo do Ministério".
Dominguetti não soube responder quem faria parte do grupo citado. "Não sei. Não sei quem que eram os personagens. Quando ele começou com essa conversa, eu já não dei mais seguimento porque eu já sabia que o trem não era bom", ponderou em entrevista à Folha.
Relação com Ricardo Barros
A Folha de S. Paulo afirmou que Roberto Dias foi indicado ao cargo no MS pelo deputado federal Ricardo Barros (PP-RR), líder do Governo na Câmara. Dias foi nomeado em 8 de janeiro de 2019, na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.
Após a divulgação da reportagem da Folha, Barros negou que tivesse indicado Dias, pois no início da gestão presidencial ele ainda "não estava alinhado ao governo".