Deputados estaduais entraram em embate e trocaram acusações durante a sessão desta quinta-feira (7), na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), ao falarem sobre os desdobramentos da CPI que investiga a suposta participação de associações militares no motim da PM de 2020. Os debates ocorreram entre a base do governo e a oposição, que acusou a comissão de utilizar “discurso politiqueiro”.
As discussões acaloradas começaram após a fala do deputado Soldado Noélio (UB), único membro titular da CPI que faz parte do grupo de oposição. Aliado ao Capitão Wagner, ele acusou o grupo governista de tentar aproximar as ações do motim para “macular a imagem” do pré-candidato a governador pelo União Brasil.
“A paralisação da Policia Militar foi em 2020, estamos no ano de 2022, esperaram chegar no ano eleitoral para fazer politicagem. Quando iniciou essa CPI na Assembleia, avisei, é CPI pra fazer politicagem”, disse o deputado.
Noélio também argumentou que, uma vez que sejam levantadas as suspeitas sobre a participação de associações no motim, os deputados possam também apresentar provas no âmbito da comissão parlamentar.
“O que espero da CPI é que, quando fizer acusações, apresente as provas. Foi sacado dinheiro, qual foi a ilicitude em que esse dinheiro foi usado de forma irregular? Mostre a prova”, provocou ainda o parlamentar.
Embate no plenário
Como resposta, o presidente da CPI, deputado Salmito Filho (PDT), disse que o requerimento para abertura das investigações foi aprovado ainda em 2020, mas o início da pandemia, as ondas de infecção pela doença e as Eleições 2020 provocaram o adiamento dos trabalhos.
“Fazer o debate é importante, é necessário. Eu estou aqui para debater. Me permita, eu tenho que discordar muito do Soldado Noélio, como é que ele desqualifica uma CPI da qual é membro titular? Nós vamos terminar antes das eleições, pelo prazo regimental”, destacou o pedetista.
Salmito também salientou que, na sessão da comissão da última terça-feira (7), ao ouvir presidente da Associação dos Profissionais de Segurança (APS), Cleyber Araújo, a relatoria da CPI apresentou documentos de movimentações bancárias da associação, inclusive em datas próximas ao estouro do motim.
“Construir uma retórica para tentar construir a cabeça da população, não adianta. Contra provas não há argumentos”, rebateu o parlamentar do PDT.
Elmano de Freitas (PT), que é relator da comissão parlamentar, destacou que Soldado Noélio também assinou requerimento para abertura das investigações contra as associações militares, e que, portanto, seria à favor dos trabalhos da CPI.
“Nenhum outro político da CPI ficou discutindo política na CPI no sentido partidário, mas ele (Noélio) faz questão”, disse ainda o petista.
Também do grupo de oposição, Heitor Férrer (UB) participou do debate e argumentou que, segundo a própria avaliação, os índices de violência no Ceará não se dão por conta do motim policial, alegando ser uma questão do debate público.
Próximos passos
A Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as Associações Militares volta a se reunir na próxima terça-feira (12) e ouvirá o vereador de Fortaleza Sargento Reginauro (UB), que foi presidente da APS por cinco anos.
O depoimento, no entanto, já vem sendo discutido na Câmara Muicipal, onde Reginauro, ainda nesta quarta-feira (6), disse que deputados terão que "forjar provas" contra ele, caso queiram comprovar sua participação no motim policial de 2020.
A sessão está marcada para ocorrer a partir das 14h30, no complexo das comissões da Assembleia Legislativa do Ceará.