Em 24 horas, a sucessão da presidência na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) sofreu uma guinada: a desistência de Fernando Santana (PT) e escolha de Romeu Aldigueri (PDT) como novo candidato do Palácio da Abolição para o cargo. As decisões foram anunciadas entre a sexta-feira (22) e o sábado (23).
Na avaliação de deputados estaduais aliados ao Governo Elmano de Freitas (PT), a mudança 'pacifica' e 'unifica' a base aliada, que, na última semana, viveu sob risco de rompimento com o senador Cid Gomes (PSB), uma das principais lideranças do grupo político. O ex-governador do Ceará demonstrou insatisfação pela candidatura de um petista para o comando da Casa — o PT terá, em 2025, o comando da Prefeitura de Fortaleza, do Governo do Ceará e da presidência da República.
Por outro lado, parlamentares também citam o prazo curto que tem Romeu Aldigueri para as articulações em torno da composição da Mesa Diretora — além do presidente, o comando da Alece conta com outras seis cadeiras e três suplências —, principalmente com os opositores, que estavam em estágio avançado com Fernando Santana.
A eleição para o comando do Legislativo estadual está prevista para o dia 3 de dezembro.
Segundo deputados ouvidos pelo Diário do Nordeste, Aldigueri telefonou para os colegas ao longo do final de semana para anunciar a candidatura. Ele também já iniciou conversas com as lideranças dos partidos na Casa Legislativa para alinhar a composição da chapa para a Mesa Diretora, o que deve se intensificar nos próximos dias.
Composição da Mesa Diretora
A perspectiva é de que a Mesa Diretora tenha composição partidária semelhante a que encerra o mandato em dezembro. Portanto, são duas vagas para o PDT — representado pelos deputados dissidentes, que estão de saída do partido e devem se filiar ao PSB —, incluindo a presidência; duas vagas para o PT; uma vaga para o MDB; uma vaga para o PP; e uma vaga para a oposição.
Um dos nomes definidos é do deputado Danniel Oliveira (MDB), que deve ocupar a 1ª vice-presidência — mesma posição que ocuparia na chapa comandada por Fernando Santana antes da renúncia. "Definido o nome, agora é fazer a composição respeitando os blocos montados para o biênio", disse.
Para o parlamentar, o "nome do Romeu reforça bem, é um nome de peso, com boa experiência na política. (A presidência) estará em boas mãos". "Com a experiência que já tenho, irei contribuir o máximo que puder para termos uma Casa fortalecida com cada dia mais acesso à população", completa.
Com a saída de Fernando Santana, o PT deve ocupar a 1ª Secretaria da Mesa Diretora e, segundo o líder da bancada petista, De Assis Diniz (PT), a 2ª vice-presidência. "Ainda não tem nomes", informou o deputado.
Um dos defensores da candidatura de Fernando Santana — que considerava "pacificada", mesmo após impasse com Cid —, De Assis afirma que, com a escolha de Aldigueri, "aquele sentimento de unidade permanece, se mantém na íntegra".
O PDT também irá ficar com duas posições na Mesa — que devem ser ocupadas pelos deputados que buscam, na Justiça Eleitoral, autorização para deixar o partido e podem seguir mesmo caminho partidário do senador Cid Gomes, indo para o PSB.
A primeira delas, é a presidência, com Romeu Aldigueri. Alguns parlamentares da base falam da 2ª vice-presidência, enquanto outros citam que deve ser a 2ª ou 3ª secretaria. O Diário do Nordeste entrou em contato com o líder do PDT na Alece, Guilherme Landim para saber como estão as articulações, mas não obteve retorno.
Hoje, 2º vice-presidente da Casa, Osmar Baquit (PDT), cita que o partido deve ficar com uma das secretarias da Mesa Diretora, mas que "não está definido". Ele foi um dos deputados que esteve reunido com Aldigueri nesse final de semana, após o anúncio da escolha.
Segundo Baquit, Aldigueri está conduzindo o processo junto a Evandro Leitão (PT), atual presidente da Alece e prefeito eleito de Fortaleza. "Está ouvindo todos os líderes de partidos para formatar não só a chapa (da Mesa Diretora) como as comissões técnicas", explica o deputado, que chegou a ser cotado para a presidência da Assembleia.
"Nós temos que entender que, todos temos as pretensões, que são justas e legítimas, mas quando tem a definição, temos que nos unir para fazer um grande trabalho. Tendo o escolhido, temos que emprestar todo apoio para ele fazer um grande mandato", ressaltou.
Dentro da base aliada, é apontada ainda que uma das cadeiras deve ficar com o PP, com a indicação do deputado João Jaime (PP), que hoje é o 3º secretário. O parlamentar, no entanto, não confirmou a indicação. "Ainda não está fechado", disse, mas confirmou que o PP "deve compor" a chapa.
A expectativa dos parlamentares é de que a chapa completa para a Mesa Diretora seja anunciada ainda nesta semana, entre a quarta (27) e a quinta-feira (28).
Diálogo com a oposição
Na atual composição da Mesa Diretora, uma das cadeiras é ocupada pela oposição, representada por Oscar Rodrigues (União). A perspectiva, quando Fernando Santana era o candidato, era de que a oposição mantivesse a posição e houvesse uma candidatura única.
"O jogo zerou, de sexta para hoje", pontua o deputado Felipe Mota (União) sobre a nova candidatura à presidência da Alece. Ele foi citado para assumir um lugar na chapa de Romeu Aldigueri como nome da oposição.
"Eu não conversei com o deputado Romeu ou com o presidente da Casa (Evandro Leitão). Existia essa vontade pelo Fernando Santana, mas eu ainda estava conversando com os meus colegas, colocando a negociação que existia com o Fernando Santana. Pode ser que o Governo queira que o deputado Romeu faça o mesmo movimento, não foi determinado ainda", explica Mota.
Ele disse que com as mudanças feitas pela base governista, a oposição terá que voltar a se reunir para "pensar em um consenso ou em uma chapa". Ele admite que a possibilidade de chapa própria da oposição "não está descartada", mas defende que haja uma unidade. "Eu sempre defendi o consenso na Assembleia", disse.
Da ala oposicionista do PDT, Cláudio Pinho confirma que parlamentares contrários ao Palácio da Abolição ainda devem se reunir entre si e também com o novo candidato à presidência da Alece. Ele afirma que já existia "diálogo aberto com o deputado Fernando Santana" e agora é momento de "avaliar as posições".
Um ponto defendido por ele é que a candidatura de Aldigueri possa "incorporar" as ideias da oposição, das quais elenca a abertura das galerias do Plenário 13 de Maio e a maior celeridade na tramitação de projetos de deputados. Ele elogia o candidato: "Apesar de ser líder (do Governo Elmano de Freitas), sempre tivemos um bom diálogo".
Líder do PL na Casa, Dra. Silvana também elogiou Aldigueri. "Ele foi muito amistoso comigo. A eleição da Casa deve passar mesmo por essa cordialidade e respeito", disse.
Ela afirmou que a bancada do PL ainda deve se reunir para definir a posição, mas que ela pretende defender "que cada deputado tenha liberdade de escolha". "A Casa deve ter harmonia e respeito com todos os deputados, mesmo os de oposição", disse. Presidente do PL Ceará, o deputado estadual Carmelo Neto confirmou que a bancada do partido "ainda deve se reunir".