Com derrotas eleitorais recentes na Região Metropolitana de Fortaleza, o governismo no Ceará começa a acender o sinal de alerta para a disputa de outubro de 2022. Cientistas políticos consultados pelo Diário do Nordeste avaliam que a base precisa afinar o discurso em frentes como segurança pública, criação de empregos e eleitorado evangélico com o objetivo de evitar surpresas negativas na abertura das urnas.
Em 2014, com o desgaste da segurança pública na gestão de Cid Gomes, o próprio governador Camilo Santana (PT), ainda enquanto candidato, foi derrotado em Fortaleza, Caucaia e Maracanaú nos dois turnos para o então senador Eunício Oliveira (MDB).
Na eleição municipal de 2020, o candidato apoiado pelo PDT em Caucaia, Naumi Amorim (PSD), foi derrotado por Vitor Valim (Pros) com discurso de opositor. Maracanaú se manteve na oposição com Roberto Pessoa (PSDB). Na mesma toada, São Gonçalo do Amarante deixou as fileiras da base ao eleger o Professor Marcelão (Pros) para a prefeitura.
Em 2022, a retomada de encontros regionais que o PDT tem feito deve focar no entorno de Fortaleza, segundo o presidente do PDT Ceará, deputado federal André Figueiredo.
"Nós, enquanto base aliada, temos Fortaleza como município muito forte. Na nossa composição com Acilon (Gonçalves), prefeito do Eusébio, e o grupo político dele (o PL), temos a região leste com muita solidez", afirma Figueiredo.
Ele ressalta ainda parceria com partidos como o Cidadania na região, além da ligação a ex-prefeitos de municípios governados hoje pela oposição, como São Gonçalo.
"Os primeiros encontros que faremos em 2022 será com os municípios da Região Metropolitana, em Pacajus, então estamos trabalhando bem para que a Região Metropolitana possa representar um grande diferencial de votos, é a nossa meta", pontuou o pedetista.
Estratégia nos discursos
Para o cientista político da Universidade Federal do Ceará, Cleyton Monte, o representante do governismo vai precisar centrar o discurso em áreas como segurança pública, empregos e combate à pobreza como estratégia eleitoral.
"A Região Metropolitana de Fortaleza é a região que mais sente problemas que são decorrência também do desgaste do governismo no Ceará que é o caso da segurança pública. Você tem índices mais alarmantes e tem números muito fortes de desigualdade social com o retorno da fome. Não por acaso a oposição teve vitórias importantes na região, como Caucaia, Maracanaú, em áreas importantes de Fortaleza", disse.
A eleição de 2022 tem elementos similares aos de 2014. Cid Gomes, um governador com aprovação popular em alta na época, tentava eleger um sucessor que não tinha a imagem conhecida pelo grande eleitorado cearense.
Seja, para o ano que vem, a escolha por Roberto Cláudio, Izolda Cela, Mauro Filho ou Evandro Leitão na ala do PDT, em qualquer um dos cenários vai ser necessário um tempo de conhecimento do candidato por parte do eleitor — assim como ocorreu com Camilo.
Reeleito com certa tranquilidade quatro anos mais tarde, não há a garantia de que Camilo vai conseguir transferir os votos para o escolhido, avalia o cientista político Cleyton Monte. E é esse elemento que pode equilibrar a queda de braço pelo comando do Palácio da Abolição.
"Apesar do governador Camilo Santana ter uma aprovação muito alta, isso não significa que ele consiga transferir esse capital para outra figura, como parlamentares ou candidato ao Executivo", diz o professor da Universidade Federal do Ceará.
Grupos neopentecostais
Para o professor da UFC, a disputa eleitoral que se aproxima vai exigir uma resposta qualificada por parte do governo para essas regiões. "Problema relacionado a empregos, desigualdades e segurança pública vai ter que ter um discurso muito coerente com relação às facções. E isso tem que ser um discurso não só dos candidatos ao governo, mas das candidaturas ao Senado e às outras vagas parlamentares", complementa.
Na avaliação do sociólogo e pesquisador da Universidade Federal do Ceará, Jonael Pontes, o grupo que comanda o Palácio do Planalto vai precisar direcionar as forças também para agentes de disseminação, como lideranças que tenham entradas em grupos neopentecostais que hoje são tomados pelo bolsonarismo.
"Uma igreja pode ser tornar uma sucursal de um partido político dentro de uma comunidade. Então você tem agentes das esferas políticas e religiosas dentro desse processo. Essas figuras precisarão ser muito utilizadas para que o governismo saia vitorioso", diz Pontes.
Risco de perder partidos
Prática comum do grupo liderado pelos Ferreira Gomes, a aliança plural continua se mantendo ativa nos dias atuais como principal estratégia eleitoral.
O risco da saída do PL da base do governo, com a figura do prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves, nesse contexto, pode atrapalhar os caminhos de um candidato de oposição em prefeituras da RMF do litoral, que hoje são influenciadas pelo dirigente do PL no Estado.
Pensando nisso, lideranças do PDT já cortejam prefeitos eleitos pela oposição em 2020, como Vitor Valim (Pros), que formalizou parcerias administrativas com o governador Camilo Santana e recebeu elogios públicos do senador Cid Gomes; e o prefeito de São Gonçalo que também se aproximou do governismo.
Do outro lado, a oposição tem mais tempo para se consolidar. Líder do grupo, o deputado federal Capitão Wagner (Pros) é um nome estabelecido para a disputa. O pré-candidato ao Governo do Estado viaja o Ceará inteiro e projeta seu nome em torno de lideranças regionais de oposição.
Na disputa de 2020, Wagner equilibrou a eleição e quase foi eleito prefeito da Capital. Com diferença de pouco mais de 3% dos votos válidos, o ex-capitão da Polícia Militar ficou em segundo lugar no pleito mais equilibrado em Fortaleza dos últimos anos.