Além de gerar confusão, a mudança feita pelo Ministério da Saúde nas regras da vacinação de adolescentes é alvo de críticas de governos estaduais e municipais, além de entidades da Saúde. No Ceará, a Associação dos Municípios do Estado (Aprece) critica a decisão do ministro Marcelo Queiroga e defende a continuidade da vacinação da população de 12 a 17 anos sem comorbidades.
Segundo Nilson Diniz, ex-presidente e atual conselheiro da entidade, a Aprece mantém diálogo constante com o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems-CE) e com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), que decidirá sobre a vacinação dos adolescentes cearenses. Os órgãos tiveram reunião na tarde desta quinta-feira (16) para debater o assunto.
“Assistimos a essa fala do ministro (Queiroga) com muita apreensão e preocupação, porque ali é um ministro de Estado, então naturalmente temos que dar atenção, já que é quem coordena o Programa Nacional de Imunização, mas sabemos que esse argumento de 1.500 pequenas reações não justifica uma interrupção na vacinação”, aponta Diniz.
"Não justifica"
“São reações pequenas, quase imperceptíveis e nem se comparam ao risco de uma contaminação por Covid-19. Então, estou em contato com o Cosems-CE e com o Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde), nosso entendimento é de que essa decisão deveria ter sido tomada com estados e municípios, precisava de uma avaliação melhor”, acrescenta.
Segundo Diniz, entre os gestores estaduais e municipais, especula-se que a decisão do Ministério da Saúde tenha sido motivada pela baixa quantidade de vacinas disponíveis no País.
“Devemos continuar como está (a vacinação no Ceará). A Sesa é quem bate o martelo, a Aprece, o Cosemns e o Sonasems apontam neste sentido. O que realmente precisamos é ter um volume maior de vacinas no Brasil”, conclui.
Mudança surpresa
Nesta quinta-feira (16), o Ministério da Saúde orientou que municípios não apliquem a segunda dose da vacina contra a Covid-19 em adolescentes sem comorbidades. Pelas novas recomendações, só devem receber o imunizante adolescentes com deficiência permanente, com comorbidades ou que estejam privados de liberdade.
Em reação, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conasse) e o Conasems pediram posicionamento da Anvisa sobre a vacinação de adolescentes sem comorbidades.
O Ministério argumenta que "crianças e adolescentes são menos propensos a ter complicações por causa da doença". Portanto, seria "menos urgente" vacinar este público, continuando com o foco em idosos, pessoas com comorbidades e trabalhadores da saúde.
O ministro Queiroga também mencionou um óbito que não tem causa confirmada e eventos adversos em adolescentes. “Desses 3,5 milhões que receberam vacina de forma intempestiva, cerca de 1.500 apresentaram eventos adversos”, disse.