Aliado de Camilo Santana e Bolsonaro, PP vive dúvidas sobre alianças locais com ida à Casa Civil

Ciro Nogueira, presidente nacional do Partido, deve virar ministro de Bolsonaro e ter que administrar as alianças com outras forças nos estados

A ida do senador do Piauí e presidente nacional do Progressistas (PP), Ciro Nogueira, para o comando da Casa Civil, ministério mais importante de Jair Bolsonaro (sem partido), volta a levantar dúvidas sobre os alinhamentos estaduais da legenda. Atualmente, no Ceará, a sigla compõe a base de apoio ao governador Camilo Santana (PT) e o comando local é próximo de Cid e Ciro Gomes.

Historicamente, os alinhamentos nacionais têm pouco impacto na composição local para os partidos do centrão, entretanto, há um complicador neste caso que é a possível filiação de Bolsonaro ao Partido.

Os membros do principal partido do chamado "centrão"  no Ceará admitem certo constrangimento com a proximidade nacional com o Governo Bolsonaro, mas acreditam na tese de independência das relações nos estados e fortalecimento do partido em 2022, a partir da relação com o Governo Federal.

Em entrevista ao jornal O Globo nesta sexta (23), Bolsonaro admitiu a possibilidade de se filiar ao PP. Caso a aproximação com o partido chegue a esse patamar, a expectativa é que as alianças regionais com partidos de esquerda - como ocorre no Ceará e também na Bahia -, possam ser reavaliadas.

No cálculo que joga luz ao jogo politico regional, é inserida a habilidade de diálogo entre politicos que, ao mesmo tempo em que permanecerão na base aliada estadual, terão como líder partidário um membro do primeiro escalão do Governo Federal, que passará a dar as cartas dentro do Planalto. 

Nogueira é aliado e correligionário do presidente da Câmara, Arthur Lira, que já tem uma aliada no coração da gestão Bolsonaro, a deputada Flávia Arruda, chefe da Secretaria de Governo. A indicação de mais um nome forte do Centrão tem sido apontada como fragilidade do Governo, no momento em que a CPI da Covid avança no Congresso Nacional e o Governo está sob denúncias.

No Ceará, o Partido Progressista forma a segunda maior bancada da Assembleia Legislativa, ficando atrás apenas do PDT - sigla que abriga os irmãos Ciro e Cid Gomes. O PP também compõe com os pedetistas em nível municipal e engrossa a base governista do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT).

Um indicativo de que as siglas atuam lado a lado na Capital cearense é a participação na gestão do atual Secretário de Desenvolvimento de Fortaleza, Rodrigo Nogueira, que é primo de Ciro Nogueira.

"Parceria branca"

Nos bastidores estaduais, o clima é de ponderação. Ao mesmo tempo em que os principais quadros do partido no Ceará avaliam positivamente a indicação de Ciro Nogueira ao cargo, ponderam que esse movimento é "minimamente incoveniente" para os aliados da base no Ceará. 

É o que pontua o deputado estadual Fernando Hugo, o mais antigo parlamentar na Assembleia Legislativa, com oito mandatos consecutivos.

Desde 1990 aliado aos Ferreira Gomes, ele diz que poderá haver uma "parceria branca" para que o PP permaneça com a mesma postura, mesmo que a nível nacional esteja compondo com Bolsonaro nas Eleições 2022. 

A presença dele (Ciro Nogueira) junto ao presidente Bolsonaro é inequívoco que trará uma situação extremamente delicada para a nossa posição aqui. Por conta de que Ciro Gomes (PDT) é candidato a presidente da República.
Fernando Hugo (PP)
Deputado estadual

O parlamentar também diz, no entanto, que ter o presidente nacional do PP no núcleo duro do Governo Federal trará pontos positivos para a sigla no Estado.

Como exemplo cita que outros políticos poderão optar por se filiar ao PP no início do ano que vem, fortalecendo a formação de chapa para disputa na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados.  

Há uma expectativa no partido de que a bancada do Progressistas na Assembleia possa passar de cinco para oito parlamentares ainda antes das próximas eleições. Na Câmara, o cálculo feito por interlocutores é de que o PP seja capaz de eleger dois nomes em 2022. 

Liderança na AL

Atuando como líder da bancada dos Progressistas na Assembleia, Bruno Pedrosa descarta a possibilidade de deixar o apoio ao governador Camilo Santana. 

De forma alguma há um redesenho na base. Eu entendo que os deputados do PP aqui, no Ceará, estamos ajudando o governador [...] Eu entendo que Ciro Nogueira virá a ocupar esse cargo pelas suas competências, representando um estado vizinho
Bruno Pedrosa (PP)
Deputado estadual

Na Câmara Municipal de Fortaleza, onde o PP ocupa duas vagas, o vereador Emanuel Acrízio vê com otimismo a nomeação de Nogueira e aguarda ter um partido fortalecido com a nova função do presidente da legenda.

Acrízio é autor de um projeto que, já em redação final na Casa, concede título de cidadão fortalezense ao senador do Piauí. 

Relação de Ciro Nogueira com o Ceará

 

No Estado, o PP tem como presidente o deputado federal AJ Albuquerque, filho do secretário de Cidades do governo Camilo Santana, Zezinho Albuquerque, ex-presidente da Assembleia Legislativa.

Zezinho é aliado de primeira hora dos irmãos Ciro e Cid Gomes, adversários de Jair Bolsonaro no Ceará.

Próximo de Ciro Nogueira e Arthur Lira, AJ acompanhou a comitiva presidencial na última visita de Bolsonaro ao Estado, no início do ano, e foi fotografado ao lado de políticos bolsonaristas.

Desenho em Brasília

A reforma ministerial, já admitida por Jair Bolsonaro como necessária para governabilidade, é tida como a mais importante do atual governo até agora.

Ter um dos principais líderes do chamado "centrão" - grupo de partidos que historicamente dá sustentação aos governos -, torna-se um indicativo de "popularidade" do presidente no Congresso. 

Além de Ciro Nogueira, o PP também abriga o Presidente da Câmara, deputado Arthur Lira. Eleito para o cargo na Mesa Diretora com o apoio do Presidente da República, cabe a Lira aceitar ou não a abertura dos mais de 100 pedidos de impeachment protocolados em seu gabinete. 

Já questionado sobre esse movimento, o deputado responde que precisa haver "materialidade" para que o processo possa ter continuidade. A ida de Ciro Nogueira para a Casa Civil surge como estratégia para reduzir danos à gestão de Bolsonaro.