O deputado federal Arthur Lira (PP-AL), 51, chega à presidência da Câmara dos Deputados depois de dois anos de articulação e graças ao apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para alcançar o posto mais alto da Casa.
Parlamentar de terceiro mandato e um dos expoentes do chamado Centrão, Arthur Lira ensaiou uma candidatura em 2019, quando tentou montar um grupo de apoio para se contrapor a Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Naquela ocasião, porém, o deputado, líder do PP, falhou em arregimentar votos suficientes para vencer Rodrigo Maia, que presidiria a Câmara dos Deputados pela terceira vez.
Na época, Arthur Lira abriu mão de se lançar candidato, deixando o caminho livre para o deputado do DEM. Dirigentes do PP contam que a opção de Arthur Lira por desistir da candidatura passou por um acordo para que o seu partido pudesse comandar a Casa no biênio seguinte. Rodrigo Maia nega que tenha feito trato nesse sentido.
A ideia era formar um amplo arco de apoio a um nome do PP, o que não aconteceu depois que os parlamentares dividiram-se entre aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e independentes.
Articulação
Arthur Lira já vinha trabalhando junto a deputados para se viabilizar candidato à presidência da Câmara dos Deputados e era considerado um nome competitivo. A grande virada na sua articulação que lhe assegurou a vitória no comando da Casa, no entanto, ocorreu em abril de 2020, quando Arthur Lira e seu partido aliaram-se ao Governo Federal.
O deputado federal ajudou a construir uma base de apoio a Jair Bolsonaro que poderia barrar a abertura de um processo de impeachment e permitir a aprovação de matérias de interesses do Palácio do Planalto.
Até aquele momento, Arthur Lira era um crítico do Governo Federal. Nos bastidores, reclamava que Jair Bolsonaro tratava mal o Congresso Nacional, estimulava a base contra o Parlamento e não sabia negociar para aprovação de projetos.
O deputado foi favorável à reforma da Previdência, aprovada no primeiro ano de mandato do presidente, mas articulou pela retirada de trechos que alteravam o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e mudanças na aposentadoria de trabalhadores rurais.
Naquele momento, ele atribuía ao ministro da Economia, Paulo Guedes, adjetivos nada elogiosos. Arthur Lira apelidou o ministro de "vendedor de redes", para dizer que ele falava muito, mas entregava pouco.
Menos de dois anos depois, Arthur Lira hoje é tratado por Paulo Guedes como importante aliado, capaz de ajudá-lo a tocar a agenda liberal que prega. Agenda que, aliás, não é defendida com tanto afinco pelo líder do PP. A base do mandatário no Congresso Nacional não veio a um preço baixo.
Pelo contrário. Jair Bolsonaro teve de ceder diversos espaços em órgãos da máquina federal para indicados de parlamentares e concedeu bilhões em emendas e recursos extras para aliados.
Foi esse dinheiro, inclusive, que garantiu a Arthur Lira parte dos votos que ele teve na Casa, avaliam deputados federais. Para fazê-lo presidente, o Planalto deu ao deputado federal do PP a coordenação da distribuição das emendas parlamentares. Ele passou a privilegiar aqueles que o chancelaram.
O método de fazer política é semelhante ao de um antecessor de Arthur Lira na chefia da Câmara dos Deputados: Eduardo Cunha (MDB-RJ), que foi eleito presidente em fevereiro de 2015 e ficou até julho de 2016, quando enfrentou um processo de cassação do mandato.
Eduardo Cunha deu lugar a Rodrigo Maia, que assumiu um mandato-tampão pela primeira vez. Foi o emedebista o responsável por deflagrar o processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Arthur Lira era um dos seus principais aliados. Ajudou a articular o afastamento da petista e votou contra a cassação do mandato de Eduardo Cunha.
Investigações
Sua eleição representa o retorno do centrão ao comando da Câmara dos Deputados. Para apoiá-lo, Jair Bolsonaro não apenas contradisse o discurso anterior, crítico ao centrão, a quem atribuía apetite por cargos, fisiologismos e toma lá, da cá. Teve também que chancelar um nome que responde a processos no Poder Judiciário.
Arthur Lira é alvo de ação apresentada por sua ex-mulher Jullyene Santos Lins, que o acusa de injúria e difamação e diz que "o medo a segue 24 horas por dia". O deputado federal afirma que, ao longo do tempo, as denúncias da ex-mulher "mostraram-se infundadas".
No STF (Supremo Tribunal Federal), há dois casos que envolvem o parlamentar. Em um deles, o deputado federal foi acusado de receber propina de R$ 106 mil do então presidente da CBTU (Companhia Brasileira de Transportes Urbanos) Francisco Colombo, em troca de apoio dado ao executivo para se manter no cargo.
A PGR (Procuradoria-Geral da República) denunciou o agora presidente da Câmara em 2018. Em 2020, a Primeira Turma do STF aceitou por maioria a denúncia. A conclusão do julgamento foi adiada após pedido de vista do ministro Dias Toffoli.
Já a Segunda Turma da corte aceitou denúncia contra o deputado pela acusação de organização criminosa no inquérito conhecido como "quadrilhão do PP", resultado da Operação Lava Jato.
Embora tenha acatado parecer da PGR, o Supremo ainda não abriu a ação penal contra Lira nesses dois casos. Ou seja, tecnicamente, o deputado não é réu e poderia assumir a Presidência da República em caso de ausência de Jair Bolsonaro e do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB).
Ainda no final do ano passado, Arthur Lira foi absolvido de acusações de prática de "rachadinha" pelo Tribunal de Justiça de Alagoas.
Perfil
Conhecido por ser genioso, esquentado e "cumpridor de acordos", Arthur Lira já expressou a pessoas próximas que deseja disputar o governo de Alagoas e que ele pode concorrer ao cargo em 2022.
O deputado tentará compor com a família do senador Renan Calheiros (MDB-AL). O filho dele, Renan Filho (MDB), é governador de Alagoas pela segunda vez e deve disputar o Senado Federal em 2022.
A relação entre eles, porém, não é das melhores. Renan Calheiros, por exemplo, declarou apoio a Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela Câmara dos Deputados.
Antes de ser deputado federal, Arthur Lira foi vereador e deputado estadual em Alagoas. É filho de Benedito de Lira, ex-senador e prefeito de Barra de São Miguel eleito no ano passado.