Prefeitos no Ceará tentam virar o jogo em Câmaras Municipais para garantir governabilidade

Em Juazeiro, Caucaia, São Gonçalo e Aquiraz, a base do governo é minoria e os atuais gestores têm opositores no comando dos parlamentos municipais. O desafio dos chefes dos executivos é tentar atrair vereadores para equilibrar forças

O tom usado pelo presidente da Câmara de Juazeiro do Norte quando deu posse ao prefeito no dia 1º de janeiro, balizou, ao menos no início de gestão, como deverá se comportar a oposição no Parlamento do terceiro maior colégio eleitoral do Ceará. "Se errar, a casa vai cair", disse Darlan Lobo (PTB), logo após empossar Glêdson Bezerra (Podemos). Gestores de Caucaia, São Gonçalo do Amarante e Aquiraz também deverão enfrentar oposição acentuada nos legislativos municipais. Analistas políticos observam que este cenário, porém, é instável.

Ao primeiro sinal de vitória nas urnas - e agora, já empossados -, os novos gestores já precisam começar a pensar nas Câmaras. É o que indicam cientistas políticos, apontando também como podem ser voláteis os chamados grupos de oposição e de base governista nas casas legislativas.

Nos quatro municípios, o discurso dos presidentes das Câmaras e dos prefeitos, apesar de comporem grupos políticos antagônicos, é alinhado quando dizem priorizar o diálogo e, no início dos trabalhos legislativos, apresentar e aprovar propostas que sejam para benfeitoria da população.

"É o primeiro desafio dos prefeitos", destaca Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

Os gestores têm interesse que os presidentes dos legislativos sejam aliados. Isso acontece porque são os comandantes das mesas diretoras que decidirão quando pautar projetos do Poder Executivo, por exemplo, além de outras prerrogativas. O vereador que preside Mesa Diretora também pode exercer uma função de liderança informal no grupo ao qual pertence.

É por isso, inclusive, que se torna comum, já nos primeiros dias de gestão, os eleitos adotarem um tom de alinhamento com os parlamentos, elaborando prioridades nos municípios e convocando reuniões com vereadores eleitos. Esses encontros servem também para formar uma base sólida nos Legislativos, principalmente se a tendência é que grupos de apoio sejam minoritários nas Casas.

Segundo plano

Negociações assim geralmente não levam em conta posições ideológicas, e vereadores de diferentes espectros podem ser aliados dentro de um mesmo agrupamento, seja de oposição seja de base do Poder Executivo.

É o que explica o cientista político Cleyton Monte, que também é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

O especialista analisa a relação dos vereadores com as gestões municipais baseada também no desempenho de cada prefeito. Ele cita como exemplo Sarto Nogueira (PDT), recém-empossado para gerir a Prefeitura de Fortaleza.

"Ele (Sarto) deverá ser habilidoso para manter a maioria da Câmara em sua base e também conseguir enfraquecer a oposição, que saiu fortalecida nas últimas eleições", detalha.

Na coligação formal de Sarto estiveram PDT, Cidadania, PSB, PP, PL, PSD, DEM, PSDB e Rede. A conta fecha em 25 cadeiras na Câmara. Ele, contudo, também atraiu apoio de outras legendas no segundo turno da disputa. Candidato derrotado, Capitão Wagner (Pros) conseguiu eleger 12 vereadores em seu arco de aliança. Na sequência, o PT, da também adversária em 2020 Luizianne Lins, elegeu três; o Psol, dois, e o PSL conseguiu fazer um representante.

"Algumas figuras tendem a esse adesismo; alguns partidos têm uma facilidade maior para transitar nos espectros ideológicos sem muitos constrangimentos. Da mesma forma pode ocorrer quando se tem uma base aliada muito grande, quando é difícil conciliar divergências", completa Monalisa Torres.

Juazeiro do Norte

Glêdson Bezerra, novo prefeito de Juazeiro do Norte, conta com essa volatilidade. Eleito pelo Podemos com 38,18% dos votos, ele ainda não crava quem são seus opositores no Parlamento. Dos 21 vereadores, apenas dois foram eleitos em partidos da base. Os outros 18 nomes são, em tese, de grupo de oposição ou ainda indefinido. O prefeito, porém, diz que tentará o diálogo.

"Terei um tempo para conversar com todos os vereadores, sempre me dei bem com eles e conheço quase todos. Vou escutar posições, ouvir propostas de políticas públicas e, ao final, vou poder falar se existe oposição ou maioria de situação", diz.

Na Câmara, o PTB, partido do ex-prefeito Arnon Bezerra, elegeu seis vereadores (28%), mas o presidente Darlan Lobo (PTB) garante independência na condução da Casa e ainda pondera que o ex-gestor não comandará o grupo por fora.

No quinto mandato parlamentar e na terceira vez presidindo a Mesa Diretora, o vereador minimiza a própria fala que repercutiu no dia da posse: "é natural, qualquer prefeito que errar terá a Câmara, a Justiça ou o povo para atuar", pondera.

Caucaia

Na Região Metropolitana de Fortaleza, Vitor Valim (Pros) foi eleito com 51,08% da votação em Caucaia - segundo maior colégio eleitoral do Ceará. Ex-deputado e vereador entre 2008 e 2014, ele sustenta o fato de já conhecer os trâmites do Legislativo como positivo para saber tratar com a Câmara Municipal.

"Já fui parlamentar e sei o papel importante que a Casa tem. Acredito na independência entre os poderes para que todos trabalhem a serviço do povo. Que as vaidades e interesses pessoais sejam deixados de lado. É hora de arregaçar as mangas e trabalhar", afirma o prefeito.

Quanto à possibilidade de perder aliados da oposição, o presidente da Câmara, Dr. Tanilo (PDT), não crê no cenário. Ele argumenta que "o grupo está fechado, com compromisso; houve esse sentimento de união". O vereador assume a Mesa Diretora pela terceira vez e inicia o sétimo mandato parlamentar.

Em Caucaia, dos 23 vereadores, 15 estão na oposição e oito, na base de Valim. Apesar de ser aliado do ex-prefeito Naumi Amorim (PSD), Dr. Tanilo diz que o candidato derrotado no pleito do ano passado não passará a influenciar de maneira externa a oposição.

São Gonçalo

Eleito com 44,46% dos votos em São Gonçalo do Amarante, o Professor Marcelão (Pros) também investe em discurso amigável no começo da gestão. "O diálogo está acontecendo, temos um projeto em comum com a Câmara, que é o povo", sustenta.

Dos 13 vereadores, oito estão na oposição. É o que assegura o presidente da Casa, Ailson Frota (PTB), que está no segundo mandato e preside a Câmara pela primeira vez. Para ele, o maior desafio do prefeito será alocar aliados em cargos na prefeitura.

Aquiraz

Vereador e presidente da Câmara de Aquiraz, Jair Silva (PP) prefere dizer que não se elegeu para ser oposição ou situação, e sim para "defender o interesse da sociedade". Apesar disso, faz as contas de que o seu grupo é opositor à gestão municipal com nove dos 15 vereadores.

Ao defender o diálogo entre os poderes, ele faz questão de separar as funções: "a Câmara não é uma secretaria da Prefeitura, é um poder constituído, tem que sentar à mesa com equidade". Silva inicia em 2021 o quinto mandato. O prefeito de Aquiraz, Bruno Gonçalves (PL), eleito com 53,88%, não respondeu ao contato até o fechamento da reportagem.