A nomeação de Fernando Marcondes de Araújo Leão para a diretoria-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), que tem sede em Fortaleza, faz parte de um movimento recente do presidente Jair Bolsonaro de construção de uma base aliada no Congresso Nacional.
Enfraquecido, depois do pedido de demissão do então ministro da Justiça, Sérgio Moro, e alvo de denúncias feitas pelo ex-juiz que são investigadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da República viu o número de pedidos de impeachment contra ele aumentar na Câmara dos Deputados.
A corrida para ajustar um número seguro de apoiadores no Congresso, com objetivo de barrar possíveis processos contra o Governo, fez com que Jair Bolsonaro passasse a redistribuir cargos federais para os partidos do chamado Centrão.
Embora não admitida abertamente por aliados, a indicação do pernambucano Fernando Marcondes para o Dnocs teria sido levada pelo Progressistas, legenda com 40 deputados em exercício na Câmara, por Arthur Lira, de Alagoas. Representantes do partido no Ceará dizem não saber de detalhes da indicação da legenda, e afirmam não conhecer o novo escolhido para a função no órgão.
A indicação do nome de Marcondes, que é filiado ao Avante, irritou deputados federais do PP, que veem no gesto uma tentativa de Lira de angariar apoio para sua candidatura à Presidência da Câmara. Além disso, estes parlamentares reclamam do tamanho dos cargos que estão sendo negociados, já que Bolsonaro tem blindado até agora o primeiro escalão de seu Governo.
Entre os cargos que estão sendo negociados pelo Centrão com Bolsonaro estão o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), o Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e secretarias do Ministério de Desenvolvimento Regional, além de outros postos.
Dnocs
A autarquia federal, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, é responsável pela construção de barragens e açudes nas regiões áridas do País. Sucateado e necessitando de corpo técnico e administrativo para manter o funcionamento, o Departamento terá o terceiro comandante desde o início do atual Governo. Ângelo Guerra, de indicação do MDB, foi nomeado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).
O então diretor deixou o posto para a posse de Rosilônio Magalhães, indicado pelo Solidariedade (SD). O então chefe do Dnocs havia sido nomeado em outubro de 2019 pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Em novembro, participaram de cerimônia de posse na sede do órgão, na capital cearense, deputados federais como Genecias Noronha (SD), Júnior Mano (PL), Capitão Wagner (Pros) e Heitor Freire (PSL), além dos deputados estaduais Walter Cavalcante (MDB) e Aderlânia Noronha (SD).
Agora, o comando é de uma indicação do PP, mas que é filiado a um partido aliado. Marcondes esteve por 32 anos ao PTB, uma das siglas que integram o Centrão. O nome chegou ao deputado Arthur Lira (PP-AL) por intermédio do deputado Sebastião Oliveira (PE), que, embora ainda esteja filiado ao PL, comanda extraoficialmente o Avante em Pernambuco.
Historicamente, o Dnocs é disputado pelas principais lideranças políticas do País pela capilaridade eleitoral, principalmente no Nordeste. É a autarquia, por exemplo, que perfura e instala poços de água potável como uma política de convivência com a seca.