O segundo ministro da Saúde de Jair Bolsonaro durante a pandemia, Nelson Teich, foi o depoente desta quarta-feira (5) na CPI da Covid. A gestão da crise sanitária pelo governo federal, no entanto, não foi a única pauta discutida na reunião. Após o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), passar a palavra para a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) fazer um questionamento ao ex-ministro, Ciro Nogueira (PP-PI) se levantou em protesto.
Isso porque os membros do colegiado devem ser indicados pelos próprios partidos, segundo prevê o regimento interno da Casa, o que não aconteceu no caso de Eliziane e das demais representantes da bancada feminina que acompanhavam a sessão. "Se foi um erro das lideranças (partidárias) não indicarem as mulheres, o erro não é nosso. Isso não está em regimento, não foi acordado com a comissão, e a gente fica sempre com esse papel de ser o vilão dessa situação?", disse Nogueira.
A medida foi posta em prática após reclamações do colegiado sobre a falta de mulheres na comissão. Por isso, Omar Aziz deu o direito de fala a uma representante da bancada feminina a cada lista de inscritos na sessão do dia. "No teor do regimento, nós estamos, sim, fazendo uma concessão neste momento. Não é porque elas são mulheres, e sim porque elas têm uma representatividade igual à nossa", disse o presidente da CPI.
Liderança feminina
Eliziane reconheceu a imprevisibilidade do regimento interno e informou que estão em curso discussões sobre mudanças no texto, mas chamou atenção para o problema da própria CPI da Covid. "Vamos analisar do ponto de vista da razoabilidade. Esta comissão tem 18 membros entre permanentes e suplentes, e a gente não tem uma representação feminina, então a concessão abre o debate na comissão".
A líder da bancada feminina, Simone Tebet (MDB-MS), também argumentou a favor da presença feminina na investigação. "Há uma grande diferença entre privilégio e prerrogativa. Privilégios são inadmissíveis num estado de direito, e as mulheres desta Casa nunca vão pleitear. Prerrogativa é diferente. Nós pedimos ao plenário desta comissão, ontem, que pudéssemos ter direito a uma fala na lista dos titulares e na dos suplentes, e a questão de ordem já foi resolvida", pontuou.
As duas ressaltaram, inclusive, o fato de as representantes femininas na CPI serem de partidos diversos, da oposição e da base do presidente Jair Bolsonaro, afastando a tese levantada pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) de perseguição ao mandatário.
CPI da Covid
A comissão que apura as responsabilidades sobre a crise sanitária que já causou mais de 400 mil mortes vai ouvir todos os ministros da Saúde de Bolsonaro, além do diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres.
Na terça-feira (4), o primeiro chefe da pasta, Luiz Henrique Mandetta, participou da sessão. Nesta quarta, foi a vez de Nelson Teich, que substituiu Mandetta, mas ficou menos de um mês no cargo. O general Eduardo Pazuello, terceiro a assumir o posto, seria ouvido também nesta quarta, mas alegando diagnóstico de Covid-19, cancelou sua participação.
Na quinta-feira (6), a comissão recebe o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e Antônio Barra Torres.