A cerca de um ano de meio da disputa pela Presidência do Brasil, especulações sobre os nomes que irão disputar as eleições nacionais em 2022 já fervilham nos bastidores políticos. Diante do cenário polarizado entre o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (PT), cearenses se apresentam e são postos como alternativa para unir nomes do centro e fazer frente a Lula e a Bolsonaro.
Além do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que ficou em 3º lugar na eleição presidencial de 2018 – e anunciou de imediato a intenção de disputar novamente em 2022 –, o nome do senador Tasso Jereissati (PSDB) começou a ganhar força desde a semana passada.
Diferentemente do pedetista, o tucano nunca disputou o cargo mais alto do Executivo nacional. Contudo, também é apontado pelo próprio partido como uma terceira via, apresentando-se como alternativa à polarização do eleitorado.
Também de olho na disputa em 2022, o nome do atual governador do Ceará, Camilo Santana (PT), foi lembrado por integrantes da cúpula do PT como possível vice para uma chapa encabeçada por Lula.
Confira como esses políticos cearenses se apresentam para as eleições de 2022:
Tasso Jereissati (PSDB)
A possibilidade de lançar o senador tucano na disputa pelo Planalto foi anunciada pelo próprio partido. Em entrevista publicada nesta segunda-feira (19) pelo jornal O Globo, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou que a sigla tem considerado o nome do cearense como uma terceira via.
Segundo Araújo, o plano seria que Tasso unisse tanto nomes da direita quanto da esquerda. Recentemente, o ex-candidato à Presidência, Eduardo Jorge (PV), disse que apoiaria o tucano.
“Para evitar a reprise desastrosa do segundo turno 2018: frente ampla democrática em 2022. Meu candidato é o senador PSDB/Ceará Tasso Jereissati com vice mais à esquerda. Um programa social popular, ambiental e econômico responsável. Compromisso: não reeleição em 2026”, disse Jorge.
Segundo o presidente do PSDB, foi justamente com a publicação do ex-candidato pelo PV que as movimentações começaram.
Recentemente se intensificaram movimentos no sentido de convencê-lo (Tasso) a aceitar colocar o seu nome. Claro que é um nome que enriquece muito o processo político nacional e transcende de forma definitiva o PSDB.
Mesmo após as manifestações de apoio a sua candidatura, Tasso não deu qualquer sinalização pública de que considera disputar a Presidência. Na entrevista, Araújo inclusive reforçou o “convite público” para que o tucano “aceite esse chamamento“.
O nome de Tasso surge como uma alternativa também dentro do PSDB, já que os governadores de São Paulo, João Dória (PSDB), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), travam disputa interna para terem o nome lançado no pleito nacional.
O cearense também é visto como um caminho para a aproximação com Ciro Gomes. O pedetista iniciou a carreira política como aliado de primeira ordem do tucano no Ceará, inclusive sendo eleito prefeito de Fortaleza e governador do Ceará sob bênção de Tasso.
Contudo, a dupla rompeu e eles viraram adversários no Estado. A reaproximação começou em 2019. À época, Cid Gomes (PDT), irmão de Ciro, ajudou nas articulações para que o tucano disputasse a presidência do Senado.
No ano passado, o partido de Tasso embarcou na campanha de José Sarto (PDT) em Fortaleza, oficializando definitivamente a reaproximação. Em Sobral, o senador apoiou ainda a candidatura de Ivo Gomes (PDT) à reeleição, irmão de Cid e Ciro.
Ciro Gomes (PDT)
Com o resultado do primeiro turno pela Presidência em 2018, Ciro Gomes evitou se alinhar a um dos dois candidatos que disputavam a vaga: Jair Bolsonaro e Fernando Haddad (PT). Após o resultado do segundo turno, o pedetista passou a articular um grupo de oposição ao atual governo e iniciou uma agenda para ser novamente candidato em 2022.
Além dos ataques ao atual presidente, inclusive endossando pedidos de impeachment contra Bolsonaro, Ciro também dispara constantes críticas ao ex-presidente Lula.
A relação entre os dois azedou em 2018, quando o PT travou a candidatura de Marília Arraes (PT) ao Governo de Pernambuco para inviabilizar uma aliança entre o PSB e o PDT.
No fim do ano passado, os dois tiveram um encontro articulado pelo governador Camilo Santana para tentar amenizar os atritos. No entanto, os ataques continuaram de ambos os lados.
Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, em abril deste ano, Lula ironizou a falta de apoio do adversário ao PT em 2018. “Ciro só foi para Paris, não votou”, disse.
No último domingo (18), foi a vez de Ciro rebater o petista. Em entrevista ao jornal O Globo, o cearense, apesar de defender uma “terceira via” na disputa pela Presidência, disse serem baixas as chances de uma aliança entre os outros candidatos cotados para disputar a Presidência, como João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Eduardo Leite (PSDB), João Amoêdo (Novo) e o apresentador Luciano Huck (sem partido).
Ciro também disse que nunca mais fará uma aliança com o PT, afirmou que Lula está “tomado pelo ódio”. “Trabalho por um cenário realista no qual Lula e eu estaremos no 2º turno, o que ofereceria ao povo debate de alto nível”, disse.
Lula virou uma pessoa que, o que diz de manhã, já não serve de tarde. Está tomado de ódio. Tudo o que domina Lula hoje é a vontade de se vingar. Lula tem cinismo. A gente faz monitoramento de rede. Eles continuam atacando a mim e a outras pessoas na blogosfera. Lula dá a ordem, eles fazem. Se existe gabinete do ódio com Bolsonaro, com o PT é igualzinho.
O pedetista ainda acrescentou que em uma eventual disputa entre o PT e Bolsonaro, repetiria o que fez em 2018. “Eu faria (viajaria à Europa) hoje com muito mais convicção. Em 2018, fiz com grande angústia”, disse.
Camilo Santana (PT)
Político com boa interlocução tanto com Tasso e Ciro quanto com Lula, o petista foi apontado como possível nome para completar a chapa liderada pelo ex-presidente Lula.
Segundo a Coluna Esplanada, do jornalista Leandro Mazzini, nomes da cúpula do PT chegaram a fazer uma lista como possíveis vice. O mais cotado seria Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão, mas o cearense estaria logo em seguida.
Camilo nunca sinalizou sobre a pretensão de concorrer à Presidência ou mesmo ser vice. Na verdade, o petista costuma defender a união entre o PT e o PDT, tanto em disputas estaduais quanto federais.
“Defendi que isso ocorresse já nas últimas eleições, somos aliados em Sobral, no Ceará e no Brasil. Fui um defensor que o PT apoiasse Ciro Gomes, já que o Lula não podia ser candidato. Infelizmente não foi possível, acho que os partidos têm muito mais convergências do que divergências”, declarou no ano passado.
O governador está no partido desde 2002, mas é aliado de primeira ordem dos irmãos Ciro e Cid Gomes. No primeiro turno das eleições de 2018, o cearense não manifestou apoio nem a Ciro nem a Haddad.
“É preciso ter muita responsabilidade em 2022, um projeto mais progressista e democrático. São esses partidos de esquerda e centro-esquerda que precisam construir essa opção”, disse em entrevista ao Diário do Nordeste, em dezembro do ano passado.
(Lula e Ciro) têm muito mais convergência do que divergência entre os partidos. Vamos tentar construir uma candidatura para 2022. E se não for possível no primeiro turno, que seja no segundo turno.
No último dia 13 de abril, durante entrevista ao PontoPoder, o governador novamente foi questionado sobre 2022. “O momento é da gente focar as energias no combate a pandemia, na retomada à normalidade. A questão eleitoral precisamos deixar mais para frente”, concluiu.