O debate formado entre prefeitos do Cariri sobre decretar ou não lockdown na região evidenciou, na terça-feira (9), um impasse recorrente nos últimos dias. As medidas de isolamento social estão gerando divergências entre prefeitos. Municípios com medidas rígidas estão reclamando dos vizinhos que não têm adotado regras severas. O descompasso pode facilitar a circulação do vírus e colocar a vida de mais pessoas em perigo, segundo especialista.
Na semana passada, ao anunciar a medida para Fortaleza, o governador Camilo Santana (PT) recomendou que municípios com risco alto ou altíssimo de contágio da Covid-19 fizessem o mesmo, o que não tem sido atendido por todos os gestores
Na Região Metropolitana de Fortaleza, por exemplo, Caucaia e Maracanaú estão com 100% dos leitos hospitalares ocupados, mas optaram por ainda manter o comércio aberto. No caso do Cariri, prefeitos das cidades de Crato e Barbalha queriam adotar o lockdown, contudo, a Prefeitura de Juazeiro do Norte defendia intensificar a fiscalização, mas manter o funcionamento normal dos comércios.
Risco da circulação
Técnicos da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) participaram de reunião, ontem, e alertaram aos gestores dos riscos de manter a circulação da população sem restrições. Eles argumentaram que, com as novas cepas mais transmissíveis, a rede de assistência pode colapsar. No fim do encontro, que reuniu 29 prefeitos, a maioria decidiu rejeitar o lockdown.
De acordo com o virologista Samuel Arruda, a adoção de medidas divergentes nos municípios de uma região facilita a circulação do vírus e pode sobrecarregar a estrutura de saúde das cidades-pólo. “Os leitos continuarão sendo ocupados, só que agora com pacientes da cidade vizinha”, alerta.
“E, a longo prazo, o vírus vai permanecer mais tempo circulando, porque as pessoas têm parentes em cidades vizinhas, algumas trabalham no outro município, há um deslocamento constante que vai reintroduzindo o vírus”, acrescenta.
Atualmente, 27 cidades cearenses adotaram o isolamento rígido. Fortaleza está isolada na Região Metropolitana.
Na Região Norte, Sobral e mais 17 municípios do entorno adotaram a medida, além de Santa Quitéria e Uruoca. No Sertão Central, Choró, Mombaça, Quixeramobim e Senador Pompeu aderiram. Assim como fizeram Palhano, na Região do Jaguaribe, e Pentecoste, no Vale do Curu.
Bom exemplo
Na Região Norte, os municípios decidiram iniciar um lockdown de forma conjunta na última segunda-feira (8), com multas e interdições previstas para serviços não-essenciais. A decisão é exaltada por gestores.
“Aprendemos muito com a primeira onda e não adiantava Sobral ficar com restrições e alguns municípios do entorno, com quem Sobral interage na saúde, na educação e no comércio, ficarem descoordenados. Então decidimos fazer esse lockdown juntos. Se Sobral não fizer, vai contaminar as outras cidades, e se eles não fizerem, vêm contaminar aqui. No fim, teríamos o mesmo problema, que é um estrangular do sistema de saúde”, avaliou o prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT).