Foram quatro anos entre o lançamento do primeiro livro para o segundo. Quando "Primeiro eu tive que morrer" virou realidade, graças a financiamento coletivo e ao desejo pulsante de Lorena Portela, o mundo abriu os olhos para a cearense. Virou um hit, colocou a estreante no lugar que há muito acalantava: o de escritora. Agora, quando entrega "O Amor e sua fome", segundo romance da autora, ela encara com mais tranquilidade - ou seria maturidade- a alcunha de autora.
O sucesso que teve poderia paralisar ou amedrontar a menina que sonhava em contar suas histórias para o mundo. Mas, como Lorena conta em entrevista ao podcast Que Nem Tu desta quinta-feira (3), vive seu sonho infantil. Realizar não é se despir de desconforto. "Eu ainda não me apropriei desse lugar, eu ainda tenho uma certa dificuldade, mas hoje eu já me vejo num espaço com o qual eu sonhei a minha vida toda. Hoje de manhã eu falei para minha mãe: 'Eu tô realizando o meu sonho de criança'. Eu gosto de falar isso para minha mãe porque é o que as mães querem ouvir, né, que os filhos são felizes, fortes, que estão realizando os sonhos".
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A cearense que vive há quase 10 anos em Londres reconhece que o primeiro livro foi lhe "empurrando para o lugar que sempre quis" estar. "Estou mais atenta, eu estudo mais, eu me cerco de muitas pessoas que eu considero sérias, então, sim, acho que amadureci um pouco e espero que na nossa próxima conversa, no nosso próximo livro, eu chegue contando que sim, mudei de novo", disse ela sobre as mudanças na mulher entre esses dois marcos importantes de sua trajetória literária.
A maturidade talvez tenha sido sua melhor amiga durante o processo de escrita de "O amor e sua fome" para que ela pudesse deixar a obra fazer seu próprio caminho sem que fosse eclipsada pelo hit que o primeiro livro se tornou.
" Quando eu comecei a escrever esse, fazia um ano que eu tinha escrito o primeiro e o primeiro estava começando a acontecer de uma forma um pouco mais massiva. Então, é óbvio que esse foi um pensamento [comparação entre as obras] que me ocorreu, né? Mas é um processo que para mim tinha que ser muito cuidadoso, porque eu não posso prejudicar esse livro e o que ele é e a história que eu queria contar com esse tipo de vaidade. Dar uma vaidade você fazer esse tipo de comparação entre as obras, acredito que são duas obras muito diferentes uma da outra, então eu preciso deixar que esse livro seja o que ele é, que eu seja a escritora que eu sou hoje em 2024 e que esse livro tem a própria trajetória dele."
A autora revelou que escrever a história de Dora e suas relações a emocionou. Ela chegou a chorar durante a escrita quando desenhou a morte do pai da protagonista. Lorena tinha vivido há pouco tempo a despedida de seu pai. "Nesse livro eu chorei só nessa cena porque eu perdi o meu pai durante a pandemia e eu sinto muita saudade do meu pai. Eu sinto muita falta dele, de conversar com ele, de mandar mensagem pra ele e eu coloquei na voz da Dora um sentimento que era muito difícil. Parecia muito diferente do sentimento que eu senti em relação ao meu pai e eu senti muita dureza da Dora. Eu senti a raiva, o ódio. Esse capítulo foi meio duro pela situação que eu me coloquei como escritora e como filha".
Lorena contou ainda sobre como tem sido receber os retornos dos leitores, compartilhou dois projetos literários que já estão sendo trabalhados, sua relação com as histórias de mulheres e a rede potente e afetiva que criou ao redor de si de profissionais femininas que dão as mãos a ela em cada obra lançada.