Diário do Nordeste

De Quixadá para o mundo: professora cearense cria negócio que transforma a periferia do Brasil e do exterior

Manú Oliveira é professora e empreendedora social que viu como o celular poderia promover a inclusão produtiva de pessoas das favelas e criou a Social Brasilis

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br

Cearense, de Quixadá, Emanuelly Oliveira percebeu ainda menina que a educação era transformadora. Foi a primeira pessoa de sua família a entrar na faculdade, se formou em Letras na UFC, fez especialização em projetos socioeducacionais e observou, da sala de aula de uma turma de Educação de Jovens e Adultos ( EJA) que era preciso promover o letramento digital para garantir empregabilidade de pessoas da periferia. Fundou a Social Brasilis, negócio de impacto que atua há 10 anos promovendo a inclusão produtiva de populações periféricas e de favelas no Brasil e exterior. 

Não foi fácil mudar sua realidade nem tão pouco o de tantas pessoas impactadas pelo seu trabalho. Por vezes, foi descredibilizada, invisibilizada e ouviu que não era possível. Manú, como gosta de ser chamada, não baixou a cabeça e acreditou no sonho de se tornar uma empreendedora que vende "possibilidade", "mudança" e "vida melhor" para muita gente. A história dela foi contada no episódio desta quinta-feira (13) do Que Nem Tu.

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Em Quixadá, ainda menina, começou a empreender socialmente. Partiu de movimentos para arrecadação de brinquedos e alimentos para quem mais precisava. Depois criou um projeto de multiculturalismo na educação com mulheres no semiárido cearense que virou uma cooperativa de bio-bijuterias feitas com sementes da caatinga e criadas por artesãs que aprendiam sobre o bioma e sustentabilidade e ainda geravam renda. Esses foram os embriões do viria a ser, anos depois, sua Social Brasilis.

Professora, Manú foi da educação infantil até a EJA. Veio para Fortaleza e deu aulas em escolas de periferia e foi no Pirambu que ela percebeu que precisaria fazer mais por quem estava em suas salas de aula. E o "Social Brasilis" 3.0 ganhou formato e força. Agora, ela queria trabalhar o letramento digital e construir programas educacionais sob medida mediados por plataformas virtuais de aprendizagem.

"Minha ideia era de que as pessoas não tinham um letramento digital adequado para entrar no mercado de trabalho. Porque estava todo mundo com celular, o WhatsApp era o auge, redes sociais o auge, estava todo mundo conectado e a doida da professora dizia que todo mundo precisava de um letramento digital, porque se eu tirasse o telefone do menino e desse um computador, ele não funcionava. Então não tinham bases conceituais para sustentar a minha ideia, então fui trabalhando tendo que provar que o letramento digital, desde a escola, não preparava para o pós. Ou seja, quando eu tirava o telefone de um nativo digital, ele não conseguia salvar um arquivo PDF, por exemplo. Ele não conseguia colocar um anexo no e-mail. E isso afeta hoje a forma como a gente trabalha, porque é tudo tecnológico. Mas a gente não está preparando as pessoas para esse mercado", conta ela que foi coletando provas e experiências  para criar esse hub de acesso à informação e conhecimento. 

De lá pra cá, o Social Brasilis mudou. O negócio de impacto fundado pela cearense hoje trabalha inclusão produtiva em diversos eixos. "Inclusão produtiva é o acesso, a facilidade que uma pessoa de periferia e favela que está em uma situação de vulnerabilidade socioeconômica tem para adentrar o mercado formal de trabalho ou abrir um negócio por falta de conhecimento, por falta de apoio técnico, por falta de aprendizado tecnológico. Então, Social Brasília, enquanto solução para esse problema, oferta programas educacionais 100% gratuitos para essa base pirâmide em que as pessoas podem adquirir habilidades que a gente chama de soft skills e hard skills.  Habilidade social-emocional e competência técnica para ter uma vaga no mercado formal de trabalho ou abrir o seu negócio, gerir o seu negócio através do seu telefone celular", exemplifica.

Ao longo desses 10 anos de história, Manú viu vidas mudarem. E com ela, muitas outras serem impactadas. Uma que marcou a professora e empreendedora social foi a de Ana Angélica Ferreira, do Mondubim, que percebeu que seu bairro gerava muito resíduo têxtil por conta de confecções e resolveu trabalhar com retalhos. Pensou numa solução para isso, que era congregando e ensinando mulheres a arte da costura.

"Ela como uma mulher autodidata foi muito questionada, de como fazer isso, se não é design, se não tem formação na área. E hoje a Ana Angélica já faz peças corporativos para multinacionais. Trabalha na transformação de qualquer tipo de resíduo, desde o têxtil ao sólido, e ela ressignifica toneladas de resíduo transformando em outros objetos, em outros acessórios, em moda. E ela tem uma rede de mulheres que adquirem um ofício e ao mesmo tempo geram renda. E transversalmente impacta a questão da violência doméstica. O melhor de tudo é que hoje ela consegue ver e enxergar todo o impacto que ela gera com o movimento que começou só com ela, ressignificando uma perna de calça jeans. Uma vez que uma pessoa é transformada, ela consegue dar o poder de inspirar muitas pessoas ao redor".

O trabalho que começou com uma pessoa, "zerocentos reais", como ela mesmo brinca, e muita vontade de mudar padrões já impactou muita gente ao redor do Brasil e já chegou também à periferias de outros países.