A investida de aliados do presidente Jair Bolsonaro no Ceará tem enfraquecido a ampla base de apoio ao grupo do governador Camilo Santana (PT) para as eleições de outubro.
Desde as primeiras movimentações pré-eleitorais, o governismo perdeu siglas com boa musculatura partidária, como o PL, PTB e o extinto DEM, que hoje integra o União Brasil.
A chegada de Bolsonaro ao PL mudou o direcionamento da legenda no Ceará, que antes atuava na base de apoio do governador. O presidente estadual, Acilon Gonçalves, já trabalha pela reeleição do presidente da República no Estado, inclusive tenta montar um palanque paralelo em apoio ao chefe do Planalto.
Durante encontro do PDT, em Pacajus, no início deste mês de março, o senador Cid Gomes (PDT) chegou a lamentar o cenário político que se desenhava com a saída do PL do arco de aliança estadual.
O senador apontou o prefeito Acilon Gonçalves como um "querido amigo de 20 anos" e que "compôs a base de apoio quando o Ciro foi prefeito de Fortaleza em 1989".
Na declaração, que ocorreu antes do rompimento oficial, Cid classificou o episódio como "uma situação constrangedora" e "desconfortável" porque o ex-aliado estava em uma "sinuca de bico" por conta da chegada de Bolsonaro ao partido que ele já comandava. "Ele não tem nada de bolsonarista", garantiu na época o pedetista sobre o dirigente.
Em dezembro do ano passado, o presidente do PDT no Ceará, André Figueiredo, chegou a falar em "solidez" na Região Metropolitana de Fortaleza com a figura de Acilon na base de apoio. O que não é a realidade de hoje.
Batalha perdida
Até os 45 minutos do segundo tempo, o governismo acreditava que pudesse ter o União Brasil nas fileiras pedetistas. Fato que não se consolidou. O pré-candidato ao Governo do Estado, Capitão Wagner, não só conseguiu o comando do partido como está filiando boa parte de lideranças da oposição.
Aliado de Cid e Ciro, Chiquinho Feitosa, ex-presidente do DEM, não conseguiu convencer a instância nacional da nova agremiação, em Brasília, de que seria o melhor nome para presidir a sigla no Ceará. Ao perder a disputa, o dirigente migrou para o PSDB que já estava alinhado ao governo.
Reviravoltas
Após 17 anos sob mesma presidência e aliado dos Ferreira Gomes nos últimos governos, o PTB no Ceará trocou de comando quatro vezes entre 2020 e 2022 e agora deve seguir afastado do PDT.
O novo presidente, Euler Barbosa, declarou, na semana passada, que o partido vai marchar à direita.
“O PTB se identifica hoje como um partido conservador, a gente trabalha com um público muito mais aguerrido, com essa militância de direita. Não existe nenhuma possibilidade de identificação com o outro público”, disse.
Forças partidárias
O União Brasil, que reuniu as bancadas do PSL e do DEM, deve render a maior fatia individual de um partido à candidatura de Capitão Wagner quando falamos de tempo de televisão e de rádio na campanha eleitoral. A força partidária também deverá ajudá-lo com estrutura financeira.
Enquanto isso, o PL, que foi o sexto maior partido em número de federais eleitos em 2018, o que já representa uma estrutura partidária relevante, hoje já reúne a maior quantidade de deputados federais por conta da chegada de Jair Bolsonaro à legenda.
A sigla não só ajudará no tempo de televisão da oposição no Ceará como também terá militância e recursos financeiros para fazer frente ao governismo local.
É por isso que o grupo aliado ao governador tanto se esforçou pela permanência do PT na base aliada. Hoje, o Partido dos Trabalhadores é quem mais deve ajudar o candidato do governo no quesito tempo de televisão, rádio e recursos de campanha. O PSD também é outra força relevante no grupo.
Até junho deveremos ter o cenário consolidado do ponto de vista partidário. Depois, é campanha na rua.