Em um trabalho para diversificar a aquicultura, o Ceará está apostando no projeto de criação e engorda da garoupa, um pescado de alto valor agregado e forte aceitação comercial.
O pontapé inicial da empreitada, inédita no Nordeste, deu-se em novembro de 2021, quando 150 alevinos, nome dado aos filhotes do peixe, foram trazidos da Bahia para Cascavel — a 61 quilômetros de Fortaleza.
Até o momento, os retornos já são promissores, como destaca a esta Coluna Sílvio Carlos Ribeiro, secretário Executivo do Agronegócio: "Os primeiros resultados são surpreendentes. A perspectiva é muito boa".
Os peixes são criados em gaiolas em tanque de lona suspensa, com sistema fechado de recirculação de água. Em 40 dias, conforme a primeira medição, os animais ganharam 30% de peso e chegaram a 250 gramas, o que é considerado satisfatório.
A ideia é que atinjam 600 gramas, mas a marca de 1 kg também será testada, diz Felipe Matias, Cientista Chefe da Pesca e Aquicultura da Funcap (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico)/SDA (Secretaria do Desenvolvimento Agrário).
"Em breve, teremos a garoupa definitiva e a possibilidade de apresentar a viabilidade econômica do projeto. Em maio, devemos ter o tamanho comercial. A priori, demonstra-se que é lucrativo", antecipa o pesquisador.
Sobre o valor de mercado, ele frisa que a garoupa inteira custa em torno de R$ 30, enquanto a tilápia, em comparação, vale aproximadamente R$ 8.
Viabilidade econômica e expansão
Até o fim do ano, devem ser conhecidas as conclusões sobre a viabilidade econômica do projeto.
Em uma fase mais avançada, há a intenção de realizar a produção em currais de pesca e em tanques suspensos nas fazendas. "Assim, a gente revitaliza uma cultura do Ceará. A ideia seria disseminar isso por todo o Estado, nas comunidades litorâneas", projeta Felipe.
O policultivo da garoupa com o camarão e a alga, ou seja, com as três culturas de forma simultânea, também já apresentou bons resultados nos estudos iniciais.
Retomada da aquicultura
Por muitos anos, relembra Felipe, o Ceará, que é o maior exportador de pescados do Brasil, foi um modelo na aquicultura nacional, mas essa vertente se enfraqueceu. "Já fomos líderes na produção de tilápia e camarão, mas isso mudou. Hoje somos o segundo em camarão e despencamos no ranking da tilápia. Por isso, precisamos diversificar, e nossa aposta é a garoupa", afirma.
O projeto é uma parceria entre o Programa Cientista Chefe da Funcap, a Sedet (Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho), a Secitece (Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior), a SDA e o Instituto Centec, com apoio de uma empresa baiana, a Prime Sea Food e do produtor cearense Beto Lemos.
Caso a viabilidade econômica se concretize, Sílvio Carlos afirma que o Estado promoverá o viés gastronômico do peixe, assim como fizera com tilápia e atum. A indústria de conservas é apontada como outra potencial parceira para o crescimento do consumo de garoupa no Ceará, mas o produto pode ser vendido em outros estados e até exportado.
Além do cientista-chefe, a equipe de pesquisa é composta ainda por Viviana Lisboa (Funcap/SDA), Pedro Henrique (Sedet), Marcelo Torres (Sedet/Centec) e Antônio Albuquerque (Sedet/Centec).