Dignidade e honradez na hora da despedida da Copa 2014
Hora de dizer adeus. E um adeus sofrido, doído, como ninguém jamais imaginou. Penso que a maioria terá um olhar incrédulo, inquieto, ora a mirar o horizonte, ora a mirar o chão, numa incessante procura por algo maior, grandioso. Mas o algo maior, grandioso, será amanhã no Maracanã. Então, como sair dessa situação aflitiva entre a vontade de ir embora e a obrigação de jogar? Não há opção. É missão. Tem de ser cumprida. Em momentos assim, certamente cada atleta participante do jogo de hoje, Brasil x Holanda, fará um balanço geral entre o que sonhou e o que realmente aconteceu. Para trás ficaram a chance de erguer o troféu, a glória da conquista e a consagração internacional. Diante de tantas frustrações, como entrar no Estádio Mané Garrincha se o desejo seria estar amanhã entrando no Maracanã? Como manter o entusiasmo diante de uma experiência doce no início, mas tão amarga no fim? Consolo de um terceiro lugar jamais cura a ferida de um título mundial perdido. Se no seio da torcida ainda perdura a dor, fico a pensar sobre como estará o espírito desses atletas. Holandeses e brasileiros, embora parceiros do infortúnio e da agonia, terão de entrar em campo hoje. Mas só Deus sabe como. E terão de jogar com vontade, com garra, com dedicação, como se a terrível perda não tivesse acontecido. Será possível reação assim? É difícil, mas possível. Cito três casos concretos: um negativo; dois, positivos. A disputa pelo terceiro lugar na Copa de 1974, entre Brasil e Polônia, foi triste, deprimente mesmo. A Seleção Brasileira, então conduzida por Zagallo, fez um papelão. Demonstrou desinteresse explícito, desavergonhado. Perdeu por 1 a 0, gol de Lato para a Polônia, e poderia ter perdido por um placar muito maior. Foi horrível. Já a disputa pelo terceiro lugar em 1978 na Argentina surpreendeu. Brasil e Itália entraram em campo e souberam ser altivos na despedida. Jogo muito bom. Deu Brasil, 2 a 1. Mas também poderia ter dado Itália, tal a disposição dos italianos. Os atletas das duas equipes deixaram de lado as tristezas e honraram a tradição da azurra e da amarelinha. Não deixaram a partida cair na apatia de um mero cumprimento de tabela. Na África do Sul, em 2010, a disputa pelo terceiro lugar também alcançou a graça de um jogo muito bom: Alemanha 3 x 2 Uruguai. O brio dos atletas manteve o interesse até o fim. Um belo jogo. Assim é a missão profissional. Hoje, creio, a maioria dos jogadores gostaria de estar em casa, a quilômetros de distância de Brasília. Mas desertar seria pior. O homem deve cumprir suas obrigações. Correto é ter dignidade e honradez na hora da despedida, nem que dilacerado esteja o próprio coração.