Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, a força, a esperança
Qual o critério para a escolha do capitão de um time de futebol? O mesmo usado em qualquer segmento: liderança, carisma e o respeito dos companheiros. Assim foi com Hideraldo Luiz Bellini na Copa de 1958 na Suécia. Um bravo, um lutador, um gigante na área brasileira como costumavam dizer Pedro Luiz, Edson Leite e Fiori Gigliotti, notáveis narradores da época. Quem mais na atual Copa demonstrou qualidades assim senão o zagueiro David Luiz? Um bravo, um lutador, um gigante. E mais ainda: marcando gols. Tornou-se líder, sem ainda ser capitão. E, com dignidade, sem comprometer ou esvaziar em campo a força do comandante oficial, Thiago Silva. Agora, sem Thiago, David se torna autêntico líder do grupo em todos os aspectos. É consequência natural de seu espírito combativo, de muita garra. David é doação incansável. Doação que é devoção. E devoção quase sacerdotal ou sacerdotal mesmo, de corpo e alma. Diferente da Bíblia, aqui o gigante não é Golias, mas o próprio David, embora ele vá encarar outros "Golias": a Alemanha hoje e, se passar, a Argentina ou a Holanda, dia 13. Por mais paradoxal que pareça, fui tocado por forte otimismo, dede que soube do corte de Neymar. E fiquei pensando como poderia a saída do ídolo provocar reação assim, de maior crença, de maior confiança. O certo seria o abatimento, a prostração. Mas não foi. Percebi, embora estando eu a quilômetros de distância, uma espécie de compromisso duplicado de cada jogador, justo no instante em que Neymar deixava a Granja Comary. Como sugeriu o narrador global, Galvão Bueno, em cada Julio, um Neymar, em cada David, um Neymar, em cada Paulinho, um Neymar... Reforços imaginários produzidos pela vontade de superar a ausência do querido companheiro lesionado. É assim o futebol brasileiro, que se duplica, que se triplica, que se quadruplica quando necessário. Assim espero a Seleção Brasileira no Mineirão logo mais. Certamente a Alemanha manterá a sua tradicional maneira de jogar. É pragmática, calculista, rígida no modelo tático, fria na postura, inabalável na conduta em campo. Uma espécie de homem-robô ou robô-homem, mas na verdade máquina humana, sujeita a falhas e equívocos. Os quatro que chegaram para as semifinais trouxeram para esta fase seus defeitos de origem. Com o Brasil não foi diferente. Mas chegou. É assim que a torcida terá de encarar o jogo de hoje. Não espere perfeição; espere redenção. Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, como no dizer da música de Roberto Carlos, David Luiz terá muitas histórias para contar. Hoje, diante da poderosa Seleção da Alemanha, no Mineirão, será apenas o penúltimo capítulo da mais importante delas.
David é doação incansável. Doação que é devoção. E devoção quase sacerdotal ou sacerdotal mesmo, de corpo e alma